: Resenha sobre o Cap. 3, do Livro “O que faz a Polícia” – autor: Dominique Monjardet
Por: Paula Guerra • 15/5/2020 • Resenha • 1.532 Palavras (7 Páginas) • 487 Visualizações
Nesse capítulo, o autor divide o papel da polícia entre duas escolas:
1. Progressista – para qual a polícia é vista como instrumento de dominação da classe dominante. Para Engels os aparatos policiais são exércitos internos da classe dominante; é também o sentimento daqueles da minorias étnicas, moradores de rua ou grupos marginais, que se vêem como alvos de uma provocação policial.
2. Conservadora ou apologetic - define a polícia como instrumento especializado da law enforcement (aplicação da lei), numa visão puramente funcionalista em que a sociedade, espécie de deus ex machina, dá mandato para a polícia reprimir o desvio, e não faltam policiais para querer ou pretender se reconhecer nessa imaginária.
Os primeiros e principais resultados das pesquisas sobre a polícia nem tanto foram refutar essas imagens opostas, que nunca foram exatas, mas desmontar os mecanismos que os invalidam. Westley (1951), tornou evidente que, além de seu mandato social e das prescrições hierárquicas, os policiais são igualmente orientados por interesses profissionais próprios, que se desdobram com tanto mais eficácia para guiar, orientar e justificar as práticas reais observadas em razão da natureza do trabalho policial, que possui forte autonomia, e uma resistência em todos os mecanismos clássicos de controle organizacional hierarquizado.
OS INTERESSES PROFISSIONAIS
Os interesses que os policiais exprimem se distribuem em três classes:
1. materiais - fundados em condições de emprego e de trabalho, não têm nenhuma especificidade policial e são observados de modo idêntico nas reivindicações de não importa qual grupo assalariado empregado por uma grande organização, são aquelas relacionadas às condições do emprego e de remuneração que as demais categorias de assalariados e de funcionários
2. corporativos – chamados ainda de interesses profissionais, que se refere ao que desperta a atenção, o que motiva, isto é, o que é ou não valorizado no trabalho policial. Um exemplo desse tipo de interesse foi a generalização do trabalho motorizado e a idéia de que o policiamento a pé é uma degradação na condição de trabalho, o que tem dificultado uma ampliação dessa modalidade de policiamento, reconhecidamente mais acessível ao transeunte.
3. Profissionais – esses se originam na própria situação de trabalho ("as exigências situacionais do trabalho" recenseadas por J. Skolnick, 1966), seja no sistema de sanções, positivas e negativas, que enquadram a atividade. A análise, desenvolvida por D. Black, da "construção social das prisões" (já citada) demonstra que para um policial em sua intervenção é essencial garantir, primeiramente, sua autoridade sobre o conjunto dos atores (e público) da situação, pois sem isso sua intervenção pode degenerar-se em conflito aberto, e ele incorre em riscos físicos pessoais sem estar assegurado de ter a última palavra. No entanto, boa parte da atividade de aplicação da lei não é dedicada ao fazer realmente aplicar as regras, mas a obrigar as pessoas com as quais o agente da lei se relaciona a respeitá-la.
Mas, ainda assim, os interesses da prestação de serviço policial se focaliza no domínio repressivo, pois é o único que produz um número imediatamente interpretável. Dentro dessa cultura, prender um grande criminoso o transforma em um grande polícial, só a partir dessa notoriedade, são conquistadas medalhas e até promoções. A profissão policial, assim, se convence que a repressão ao crime é sua tarefa prioritária, se não exclusiva.
Dentro dessa ideologia, em que apenas a atividade repressiva suscita atenção, a progressão do crime tem outros interesses, quanto mais o crime se amplia, tanto mais a função social de "último baluarte contra a barbárie" e assim torna-se igualmente crescente a necessidade conferir sempre mais recursos a corporação policial, dessa forma, o autor fala sobre uma necessidade de dramatização permanente e de reivindicações incessantes. É assim, por exemplo, que se difunde hoje a ideia de que a metade, e para alguns até 60% ou 70%, da delinquência estão ligados à droga; que é urgente, portanto, travar uma ''cruzada” contra ela, e portanto atribuir os meios consequentes àqueles que combatem o tráfico em primeira linha.
A CULTURA PROFISSIONAL
A análise da cultura profissional dos policiais é o calcanhar-de-aquiles de toda pesquisa sobre a polícia. Não se pode compreender o trabalho do policial sem se referir a seu sistema de valores pessoal, ou ao sistema de valores coletivo do grupo ao qual ele pertence.
A situação de trabalho do policial não é marcada pela onipresença do perigo. Mas a questão não é esta e sim a percepção do perigo, e seus eventuais efeitos sobre a definição pelo ator de sua situação de trabalho, quem dependem menos da situação e mais das expectativas em relação ao ofício que escolheu exercer. O perigo pode estar muito presente para aquele que entrou para a polícia movido pelo projeto de ocupar um emprego estável numa administração pública; nesse caso, ele é o custo por vezes imprevisto ou inicialmente subavaliado da segurança de emprego. Em compensação, em muitos policiais que demonstram uma vocação, a evocação do perigo suscita um dar-de-ombros ou sarcasmo: pela estatística dos acidentes do trabalho, eles sabem que o perigo está muito menos presente na polícia do que em muitos setores industriais (Arcand, 1981).
O autor passa então a apresentar os resultados de uma pesquisa feita na França em 1982 e depois repetida em 1992 e 1994. Esse estudo evidencia as dimensões comuns sobre as quais os policiais se dividem. Seus primeiros resultados mostram que a socialização profissional se compreende, pelo menos em seus primeiros estádios (formação inicial, estágio prático, primeira designação, titularização) de duas maneiras: como adesão a alguns estereótipos, e pela cristalização crescente em torno da relação do policial com a lei e a relação com o outro.
Segundo o autor, o resultado mais seguro da
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