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Resumo Comenius

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Por:   •  16/9/2014  •  5.768 Palavras (24 Páginas)  •  171 Visualizações

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O SOLO EPISTEMOLÓGICO DA DIDÁTICA MAGNA - UMA LEITURA A PARTIR DE MICHEL FOUCAULT

RESUMO: Neste artigo investigaremos a epistemologia presente no livro Didática Magna de Comenius, a partir de As Palavras e as coisas, obra de Michel Foucault. Inicialmente será caracterizada a epistemologia Renascentista e a Clássica. Posteriormente, serão destacados os argumentos da Didática Magna que apontam para as referidas epistemologias. Finalmente defende-se que Comenius transita entre as duas epistemes enraizando-se na epistemologia Clássica ao propor sua pedagogia a qual antecipa a lógica da Revolução Industrial.

Palavras-chave: Educação. Didática. Epistemologia. Renascentista. Clássico. Semelhança. Representação. Revolução industrial.

A obra Didática Magna de Jan Amos Comenius publicada originalmente em 1627 é considerada por vários estudiosos da educação, como precursora da didática moderna ao sustentar a máxima “ensinar tudo a todos”.

O matiz moderno da Didática Magna é também percebido, quando a Conferência Internacional da UNESCO realizada na Índia no ano de 1956, publicou toda a obra de Comenius como tributo as suas idéias, as quais inspiraram quase três séculos depois a fundação da UNESCO.

Portanto pretende-se investigar algumas das estruturas epistemológicas que sustentam a Didática Magna e inquirir o que faz de Comenius um referencial para a didática moderna. Tal compreensão será buscada por meio dos modelos epistêmicos desenvolvidos por Foucault na obra As Palavras e as Coisas, a qual sustenta que o saber ocidental está fundado em três modelos epistemológicos distintos. O primeiro momento se estende até o final da Renascença século XVI. O segundo pertence à Idade Clássica séculos XVII e XVIII. E a Modernidade compreendida entre os séculos XIX e XX.

Nesta obra As Palavras e as Coisas, Foucault investiga como a filosofia e as ciências, entre os séculos XV e XIX conceberam a realidade de modos diferentes. Pergunta o que há de comum entre os saberes científicos e não científicos e os objetos de investigação que os tornam específicos de uma determinada época mantendo uma coerência entre si. Nesse sentido, sustenta-se que as distintas áreas do conhecimento, a medicina, a poesia e a filosofia. Embora tenham objetos diferentes, existe uma ordem comum que subjaz o discurso e ordena o funcionamento e os mecanismos de organização e produção de saberes, as estratégias e as práticas. Este pano de fundo que permeia todas as áreas de uma época Foucault chamou de solo epistemológico.

O solo epistemológico de uma época é composto pelos códigos da cultura, pelas teorias científicas e pelas interpretações filosóficas. Compreendê-lo permite discernir as rupturas e o nascimento de novos saberes, o papel do homem e das ciências em cada momento.

Não se trata, então, diz Foucault, de uma história no sentido usual do termo ou de uma análise da evolução da ciência, mas sim de uma arqueologia, isto é, conhecimento dos princípios ou das condições de possibilidade dos saberes e das ciências em determinada época.

Com efeito, realiza a crítica a moderna maneira de pensar, na qual a figura do homem ocupa lugar de destaque. Esse modelo de compreensão é um entre inúmeros. Em especial destaca três áreas, a vida, o trabalho e a linguagem.

Foucault investiga a constituição dos saberes na Renascença e na idade Clássica, indicando que as descobertas, os avanços dos saberes, das ciências e dos métodos se dão em uma descontinuidade, uma ruptura ou um corte epistemológico, com os saberes anteriores de uma época para outra. Ao contrário da visão continuísta do avanço das ciências.

A Renascença, de acordo com o pensador francês, foi a época em que o conhecimento afastou do espírito científico e aproximou da superstição. Em parte isso ocorreu devido a refutação da lógica clássica e da síntese aristotélica que deixou a busca do saber sem um referencial do que pode ser verossímil. O império da superstição frente a ciência pode ser percebido na literatura, nos fatos sociais e históricos da época.

Assim sem um modelo que postula o que é verossímil tudo poderá ser possível. Essas condições epistemológicas fizeram da Renascença um solo ideal para artistas e eruditos os quais exerceram a essência renascentista, a interpretação e a busca das semelhanças.

A semelhança desempenhou papel construtor do saber e da cultura ocidental até o fim do século XVI. Conduziu a exegese e o conhecimento das coisas visíveis e invisíveis e dirigiu a arte de representá-las. (FOUCAULT, 2007. p.23)

As características do processo de exegese por meio das semelhanças são aConvenientia, a aemulatio, a analogia e a simpatia.

A convenientia é a semelhança que articula por meio do que é vizinho, oportuno, útil e proveitoso. São convenientes as coisas que se aproximando uma das outras, vem a se emparelhar de modo que se comuniquem as paixões, o movimento e a propriedade. Nessa articulação surge a semelhança de lugar, natureza, similitude e de propriedade. Essa similitude não é dada numa relação exterior, mas por meio de um parentesco obscuro. Ao estabelecer uma semelhança barganham-se outras. “A semelhança impõe vizinhanças que, por sua vez, asseguram semelhanças”. (FOUCAULT, 2007. p. 25)

Com o encadeamento das semelhanças as possibilidades de assemelhar-se mais e mais se tornam quase infinitas porque a cada ponto de contato acaba-se com um elo e cria-se um elo que permite assemelhar ao precedente e ao seguinte. Isso é possível, em parte, devido a idéia de Deus, pois tudo que se é criado pode-se encontrar contidos em Deus, como as características dele são ao onipresença, onisciência e onipotência, ele pode conter tudo e tudo que esta contido nele tem relação.

Nesse sentido Foucault recorre a Campanella, tradicionalmente conhecido como crítico da tradição humanista de educação. “Deus, semeador da Existência, do Poder, do Conhecimento e do Amor. (...). Deus e a matéria, aproximando-os, de maneira que a vontade do Todo-Poderoso penetre até os recantos mais adormecidos” (FOUCAULT, 2007. p. 25, 26)

A aemulatio é uma forma de similitude próxima a convenientia, mas destaca-se pelo rompimento com a conveniência espacial. Foucault recorre a idéia do reflexo do espelho por meio do qual as coisas dispersas e distantes podem se corresponder. Essa similitude que duplica as coisas aemuladas lembra a imagem de dois gêmeos “que se assemelham perfeitamente, sem que seja possível a ninguém dizer qual deles trouxe ao outro sua similitude”. (PARACELSO, apud, FOUCAULT. 2007. p. 27).

Diferentemente

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