SOBRE AS ORIGENS E O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO MODERNO NO OCIDENTE
Trabalho Universitário: SOBRE AS ORIGENS E O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO MODERNO NO OCIDENTE. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: naaatiii • 7/5/2014 • 8.230 Palavras (33 Páginas) • 677 Visualizações
Modesto Florenzano
Lua Nova, São Paulo, 71: 11-39, 2007
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SOBRE AS ORIGENS E O DESENVOLVIMENTO DO
ESTADO MODERNO NO OCIDENTE*
Modesto Florenzano
I
Na Introdução à sua A ética protestante e o espírito do capitalismo,
Max Weber também incluiu o Estado ao lado do capitalismo
e daqueles fenômenos culturais, que, por serem encontradiços
em outros espaços e tempos, não podem ser considerados
como uma criação exclusiva da Civilização Ocidental.
Mas Weber procurou justamente demonstrar que somente
na Civilização Ocidental teve lugar o desenvolvimento de
um capitalismo racional, de fenômenos culturais dotados
de “universal[idade] em seu valor e signifi cado”, e o desenvolvimento
de um Estado como uma “entidade política,
com uma ‘Constituição’ racionalmente redigida, um Direito
racionalmente ordenado, e uma administração orientada
por regras racionais, as leis, e administrado por funcionários
especializados”1.
* Este texto, originalmente intitulado “O Estado moderno: origens, componentes essenciais
e evolução”, foi apresentado como prova de erudição no concurso de professor
titular de História Moderna, que teve lugar em junho de 2006, na FFLCH-USP.
1 Citações extraídas da edição da Livraria Pioneira Editora, p. 1 e 4.
Sobre as origens e o desenvolvimento do Estado moderno no Ocidente
Lua Nova, São Paulo, 71: 11-39, 2007
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Dessa descrição de Weber, segue-se que o Estado, tomado
em sentido estrito, como entidade política, dotado de
todos aqueles atributos acima lembrados, não se encontra
plenamente desenvolvido nem mesmo no Ocidente antes
do século XVIII, mas tomado em sentido lato, como entidade
de poder e/ou dominação, encontra-se em muitos
outros lugares e épocas. Assim, dir-se-ia que para a instituição
Estado vale, mais ainda, aquilo que K. Marx e Weber,
de perspectivas opostas, disseram do capital e do capitalismo
em geral, ou seja e respectivamente, que é ante-diluviano
e pode ser encontrado em todas as sociedades em que
existe dinheiro.
Marx, sem esquecer F. Engels, diria que assim é, porque
todas as sociedades, excluindo as chamadas sociedades primitivas,
se dividem em classes, tornando o Estado necessário
para permitir a exploração--dominação de uma classe sobre
outras, de modo que luta de classes e Estado formam um
par historicamente inseparável que somente sairá de cena
conjunta e defi nitivamente com o fi m da história.
Sobre as sociedades sem Estado, o antropólogo francês,
já falecido, Pierre Clastres, com base em suas pesquisas
sobre os índios guaranis da América do Sul e em sua
leitura do Discurso da servidão voluntária, escrito no século
XVI, por Etienne de la Boétie, avançou, em 1974, uma
tese especulativa, com sabor anarquista e que, ao mesmo
tempo, faz lembrar o Discurso sobre a origem e os fundamentos
da desigualdade entre os homens, de J. J. Rousseau. Segundo
Clastres, as sociedades primitivas, tanto as extintas quanto
as sobreviventes, teriam permanecido nessa condição por
opção, por terem se recusado a criar, deliberadamente, o
Estado e tudo o que de inominável este acarreta. De onde
segue-se que a sua invenção foi, nas palavras desse antropólogo,
“o momento histórico do nascimento da História,
essa ruptura fatal que jamais deveria ter-se produzido, o
acontecimento irracional que nós modernos nomeamos,
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de modo semelhante, o nascimento do Estado”2. Se a tese
de Clastres é fantasiosa, o discurso de La Boétie é ingênuo,
não permitindo avançar no conhecimento da política e do
Estado; daí porque depois de um pequeno e passageiro
furor causado por sua reedição, furor que, salvo engano,
fi cou restrito à França e ao Brasil, o discurso de La Boétie
recaiu no limbo que o acompanha desde sempre.
Começamos essa exposição sobre o Estado moderno
citando Weber e Marx, tendo em vista que as suas teorias
sociais estão entre as mais abrangentes, entre as que mais
marcaram o pensamento e a historiografi a do século XX,
e entre as mais contrastantes. Com efeito, por um lado,
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