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Por:   •  18/9/2013  •  5.005 Palavras (21 Páginas)  •  353 Visualizações

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Sobre Gandhi e sua política de não violência

Gandhi tinha alguns insights dessa questão do desenvolvimento sustentável. Ele dizia muito bem que se nós tivermos um consumo equilibrado vai dar pra todo mundo.

Por Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho, médico sanitarista e político

Fonte: Mercado Ético

Transcrição da palestra proferida por Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho, realizada no Centro Cultural da Índia, em São Paulo, no dia 30 de janeiro de 2013 , por ocasião do 65º ano da morte de Mahatma Gandhi, em sessão promovida pelo Consulado da Índia, o Centro Cultural da Índia e a Associação Palas Athena.

“Boa noite. Quero agradecer o convite da Associação Palas Athena, da Lia Diskin, do Consulado e do Centro Cultural da Índia. Eu vim aqui porque a Lia pediu. Não tenho tanta intimidade com Gandhi, como tem o João Signorelli (também integrante da mesa), que conhece tudo dele. Anotei algumas palavras em sânscrito, que vou utilizar. Repito que não tenho tanta intimidade com uma pessoa tão grande para a humanidade como Gandhi, mas, como a Lia colocou, é importante que alguém da política brasileira fale de como isso impactou a sua vida, nesses 40, 50 anos. É uma visão de uma pessoa do ocidente, de formação cristã, influenciado, fortemente, pelo capitalismo e pelo socialismo. Nossa formação foi marcada por essa forma de viver, uma sociedade onde a cultura da violência, a lei do mais forte, desde antes dos romanos, é a que vigora. Então, é difícil para mim perceber o que significou e o que continua significando a pessoa de Gandhi. Mas, se tenta.

A primeira observação que faço é que ele, como disse o consul (da Índia), chegou a uma posição de quase santo ou de santo, mas, vendo-se a história de Gandhi, a autobiografia que escreveu na prisão, até 1925, se percebe que ele era um homem bastante comum, o que valoriza ainda mais esse seu percurso, nos seus setenta e sete, setenta e oito anos. Ele quando foi para a Inglaterra fez coisa incríveis do ponto de vista da posição a que chegou. Chegou sim a ser um santo, mas era um homem bastante comum, para os padrões indianos, o que mostra como esse percurso é possível, não sendo preciso que caia um raio no caminho de Damasco, como aconteceu com nosso São Paulo. Ele foi aos poucos, a duras penas, se transformando no que se transformou. O livro dele é fantástico. Mostra, com sinceridade, como isso aconteceu. E o aprendizado que teve com a política, particularmente, é interessantíssimo. Voltando da África, da experiência africana, em 1901, 1902, para a Índia, para arregimentar apoios, teve contato com vários políticos, líderes importantes. Alguns deles impressionantes, hindus, embora num país dominado pela Inglaterra. Ele conversou, em 1901, voltando da África, com essas pessoas, e foi um choque para ele. Porque esses líderes políticos que defendiam a independência da Índia, se comportavam como reis, muito distantes do povo. Ele diz que no congresso em que ele estava, em 1901, o local destinado aos delegados intocáveis era uma choupana, completamente afastada, totalmente separada. Havia separação para cada um dos segmentos e o que mais o chocou foi a choupana onde ficavam os intocáveis, delegados do congresso. Ele foi lá ver, ficou horrorizado. Então pegou a vassoura e foi limpar a latrina. Foi uma coisa escandalosa para os não-intocáveis. E fez uma observação interessante de que se o congresso demorasse mais de cinco dias, certamente haveria epidemias, tais eram as condições de insalubridade. Então o choque foi o choque das diferenças de tratamento, essa desigualdade brutal face a face, da atitude de personalidades da Índia com as quais ele teve contato em 1901.

Lá pelo ano de 1921, 1922, participou de outro congresso. Aí, vinte anos depois, já era liderança reconhecida. Tendo certo prestígio, mas ainda em estágio de formação, nesse congresso e apresentou moções. Sintomaticamente moções sobre o modo como deveria ser feita a política, que eram uma moção da não-cooperação e outra moção da não-violência. Foram aprovadas por unanimidade, mas ele ficou insatisfeito porque não havia discussão. Os líderes já acordavam previamente quais as moções que iriam ser aprovadas e as que não seriam. Mesmo assim, não desistiu da participação, e inclusive foi convidado para ser um dos redatores da reforma do estatuto do partido. Uma tarefa bastante burocrática, que assumiu como um aprendizado. Mas a história política dele era do contato cada vez mais íntimo com o povo. Essa sempre foi a vocação dele na política hindu, e a sua diferença em relação às outras lideranças da época.

Assim, quando se observa as idéias mais importantes, tanto nesse livro, como em outro livro traduzido pela Associação Palas Athenas, O Caminho é a Meta – Gandhi Hoje, do Johan Galtung, as idéias eram políticas, embora nem sempre vistas como idéias políticas. E se destaca a predileção que ele tinha pelo diálogo religioso De tradição hindu, embora não muito ortodoxo, tinha contatos com o jainismo, com o sikhismo, junção de princípios hindus e muçulmanos. O diálogo dele, tanto em direção ao oriente, quanto, principalmente, em direção ao ocidente, com o islã, com o cristianismo, era intenso. Tinha uma ampla capacidade de diálogo e se interessava sinceramente. O estágio na Inglaterra e depois na África e o contato com várias correntes cristãs foi bem aproveitado. Do islamismo ele tinha bom conhecimento e com os teosóficos teve uma troca de participação e militância. Portanto, Gandhi era uma pessoa bastante aberta e via nesse debate ecumênico uma forma de expressão desse diálogo da unidade homem/homem e da ligação com o divino. Talvez a religião hindu, pela sua variedade, tenha essa capacidade e isso explica um pouco essa vocação de centro ecumênico que a Índia sempre foi. Isso é uma coisa muito importante na política. Parece religião, mas é política. Como ele mesmo diz. Não existe separação rígida entre a religião e a política. O difícil é quando a religião manda na política, aí estamos em dimensão diferente.

A outra coisa importante era a relação que Gandhi tinha com o sistema de castas da Índia, que até hoje é problema, passados já sessenta e tantos anos. Além de vir de longuíssima data, o sistema de castas é altamente verticalizado. Congela as pessoas, condena as pessoas a serem da casta onde nasceram, é vertical, no prestígio e em sofrimento. Ele, reformista e gradualista, muito prático como sempre foi em tudo, propunha uma

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