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Texto Para Reflexão Sobre Exclusão E Desigualdades Sociais

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Por:   •  28/3/2014  •  5.263 Palavras (22 Páginas)  •  1.456 Visualizações

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Introdução

O autor introduz o capítulo afirmando a surpresa ante o crescimento da desigualdade social após um período em que o crescimento econômico do pós-guerra parecia acenar com o progresso generalizado e a diminuição da distância entre pobres e ricos nas sociedades modernas. Havia um “otimismo histórico” que apregoava ter chegado a hora em que “tudo conspirava para fazer da injustiça social um arcaísmo em regressão”, visto que “a aspiração igualitária parecia estar sendo reconhecida e legitimada pela comunidade das nações, vitoriosas sobre a barbárie nazista”. Um dos emblemas dessa confiança e otimismo é o artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos do Homem, que diz: “Todos têm direito a um nível de vida capaz de assegurar sua saúde, seu bem-estar e os de sua família” (p. 129). Nas três primeiras décadas do período pós-guerra, o crescimento econômico e o progresso técnico parecem ter permitido grandes avanços rumo a essa conquista do “espírito democrático”. Mas as coisas não continuaram caminhando bem.

Por volta dos anos 70 essa expectativa positiva começou a ser frustrada. A desigualdade tornou-se novamente um “escândalo da história”, que não pode ser facilmente explicada. Cinqüenta anos após o fim da grande guerra, o grande desequilíbrio das forças sociais já havia provocado um retorno a “um liberalismo brutal e cego” e a condição do assalariado permitiu aos grandes empregadores a possibilidade de abolir a quase totalidade dos limites que o movimento operário havia conseguido impor à exploração, ao longo de dois séculos de lutas.

O problema não passa despercebido pelos dirigentes das grandes nações. Mas há uma tentativa de minimizar o sintoma por meio de um discurso “vagamente consensual” segundo o qual a desigualdade é apenas uma “aresta” circunstancial que será aparada a seu tempo. Alguns utilizam o plural “desigualdades” e procuram convencer que estas se constituem apenas em o custo provisório ou um preço que precisa ser pago pelas imensas e indispensáveis mudanças tecnológicas e econômicas das quais todos serão beneficiados num futuro próximo. Este tipo de discurso identifica a desigualdade como uma decorrência natural do crescimento livre da economia. É um mal passageiro. Tudo vai dar certo.

Na opinião do autor, a desigualdade não é uma casualidade nem um inconveniente. É um projeto de uma sociedade de mercado. Entretanto, trata-se de um projeto inconfessado e inconfessável, o qual se assenta numa imunodeficiência decorrente de uma irreflexão histórica. Por que o termo irreflexão? Pergunta o autor. E ele mesmo responde: porque é, decididamente, muito desatento – e imprudente – aquele que não sabe mais avaliar, em sua justa medida, a importância fundante e o caráter historicamente excepcional da reivindicação pela igualdade. A movimenta genealogia de sua conquista explica sua fragilidade. Para o autor,

Nada é mais estranho à maioria das tradições históricas que a idéia de igualdade. Este valor é ainda mais vulnerável por ser magnificamente voluntarista. à mercê da primeira ressaca da História é por ser nova e frágil que a igualdade morre se ela deixa de ser reivindicada. Ela nunca foi atingida. É para longe dela que o peso das coisas nos carrega.. (p. 132)

O homem semelhante ao homem

A partir dos anos 80, alguns filósofos começaram a questionar a prática de “repatriar” para o século XX as categorias mentais da antiguidade clássica. Grega, pois a maioria dos modernos direitos universais dos seres humanos constituem-se “noções totalmente estranhas ao universo mental da Antiguidade, quer se trate dos gregos ou dos romanos” (p. 133). A idéia de autonomia do indivíduo e a aspiração igualitária da forma como entendemos hoje, seriam julgadas escandalosas pela filosofia antiga que privilegiava um naturalismo e um elitismo tranquilamente discriminadores. Esta evidencia foi conscientemente ignorada todas as vezes em que se pretendeu, na história ocidental, um retorno à Antiguidade. Atualmente não se pode deixar de admitir que se os cidadãos gregos podem ser considerados responsáveis pela criação de um estilo de vida que privilegia o espaço público, e eles podem discutir deliberar e escolher suas formas de vida em coletividade é porque todo o trabalho produtivo é realizado por seres que não são considerados como seres humanos, pela maioria dos gregos. (p. 122)

Um exemplo do que foi dito acima é a citação de Aristóteles: “os bárbaros só tem de humanos os pés”. Sob este ponto de vista a escravidão é algo absolutamente natural e inquestionável e toda a prática educativa (paidéia) dá ênfase à desigualdade

O autor assevera que “o surgimento do conceito de igualdade é inseparável do monoteísmo, que vai torná-lo simplesmente pensável”. Trata-se de uma ruptura ontológica, uma mudança paradigmática. Apenas aqueles que passam a ter como referência um Deus único, são capazes de começar a perceber que os seres humanos que povoam toda a Terra poderão ser vistos como “os mesmos”. (p. 134). Immanuel Levinas comenta esta ruptura, nos seguintes termos: “o monoteísmo não é uma aritmética do divino, ele é o dom, talvez sobrenatural, de ver o homem semelhante ao homem sob as diversidades das tradições históricas a que cada um dá continuidade” (apud Guillebauld, p. 135). .

Os gregos e enfrentaram grande dificuldade para aceitarem a idéia de igualdade, pois a possibilidade da “equivalência de todo ser humano diante de um Deus único contrapõe-se à concepção de um mundo hierarquizado, diferenciado e minucioso na definição de suas categorias {naturais}”. Portanto, “a igualdade é uma afirmação revolucionária” apresentada, primeiramente nos textos judaicos e depois, de forma mais abrangente, nos evangelhos e nas cartas escritas por Paulo de Tarso. Segundo Guillebaud, é costume citar, evidentemente, a famosa Epístola de São Paulo aos Gálatas, que fundamenta, explicitamente esta evolução da igualdade, tão perturbadora para os administradores romanos ou para os filósofos de Atenas: “não há mais nem homens nem mulheres, nem judeus nem gregos, nem homens livres nem escravos, vocês todos são um só em Jesus Cristo”. A mesma proclamação é retomada por Paulo em outras epístolas em formulação ligeiramente diferente: “nem bárbaro, nem cita, nem escravo, nem homem livre, e sim o Cristo, que é tudo em todos” (Cl 3.11). (GUILLEBAUD p. 135)

Apesar destas referências explícitas à origem cristã do conceito de igualdade, Guillebaud afirma preferir citar os inimigos do Cristianismo como testemunhas da originalidade

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