Vestibular: Questões de classe e saúde mental
Por: Gabriel Arfeli • 26/7/2019 • Trabalho acadêmico • 969 Palavras (4 Páginas) • 148 Visualizações
Vestibular: Questões de classe e saúde mental
O acesso ao ensino superior no Brasill é assegurado mediante aprovação no Vestibular; uma maratona de provas de conhecimentos gerais e/ou especificos, supostamente abordados ao longo do ensino médio, que busca selecionar e classificar apenas os “melhores” alunos, com base em seu desempenho quantitativo (MAFFEI, 2008).
Tal modelo de seleção, por ser altamente competitivo, acaba por apresentar baixo índice de aprovação de seus candidatos (MAFFEI, 2008) e, por consequência, a lacuna de mercado para a criação de cursos especializados no preparo e aumento da probabilidade de aprovação no Vestibular (cursos pré-vestibulares ou cursinhos).
No entanto, torna-se importante destacar que o Vestibular não se configura enquanto um processo completamente igual e equilibrado para seus participantes. Isso, pois, apesar de apresentar provas idênticas para todos seus candidatos, o contexto sócio-político-econômico atual garante desigualdades de acesso à recursos materiais e simbólicos da sociedade à determinada população que, por consequencia, são refletidos no preparo e nível de exigência de tal modelo de seleção. (PINHO, 2001 apud MAFFEI, 2008)
Assim, pode-se perceber um sistema de reafirmação de dominação intelectual e exclusão material e simbólica de determinada classe social. Nesse contexto surgem os Cursos Pré-Vestibulares Populares que, com intuíto social combativo, buscam garantir o acesso à educação e ao aumento da chance de aprovação no Vestibular para as classes sociais menos abastadas (VALORE & RAITTZ CAVALLET, 2012). Essas que, ao mesmo tempo que apresentam menor chance de ingressarem em uma Universidade por conta de determinações sócio-econômicas de acesso e exclusão (MAFFEI, 2008), também apresentam determinada impossibilidade de cursarem um curso pré-vestibular privado.
No entanto, mesmo com a criação de Cursinhos Populares e o suposto acesso de tais individuos à estudos especializados na aprovação do vestibular, a questão da classe social ainda apresenta forte influência em suas escolhas profissionais e na possibilidade material e objetiva de sua aprovação. Esse fato ocorre devido à multiplas determinações; entretanto as mais comuns são marcadas pela baixa alta estima de suas capacidades intelectuais e ingresso precoce no mercado de trabalho que impossibilita sua dedicação exclusiva e integral aos (VALORE & RAITTZ CAVALLET, 2012). Realidade que, em um contexto altamente competitivo, garante uma distinção explícita do acesso ao ensino superior.
Nesse sentido será abordado, nesse trabalho, as experiências empiricas de dois professores dos cursos pré-vestibular populares, os quais se configuram enquanto projetos de extensão de uma Universidade Estadual.
Nestes pode-se perceber a predominância de alunos pertencentes à classes sociais menos abastadas. O que parece refletir tanto em suas condições objetivas e materiais de acesso à educação pré-vestibular e à impossibilidade econômica de ingressar em uma Universidade particular, quanto ao seus auto-conceitos. Esses que, possibilitado pela percepção consciente da exclusão de classe, ao mesmo tempo que contraditoriamente justificada pela apropriação do discurso individualista e culpabilizante da meritocracia, possibilita a compreensão de que são menos capazes de serem aprovados nos cursos de escolha; o que fica ainda mais ressaltado em casos de cursos altamente competitivos. Fato ilustrado pelo relato de um aluno: “Gostaria mesmo de prestar ciências sociais, mas sou burro demais. Por isso vou prestar pedagogia”.
No entanto, torna-se importante salientar que o pertencimento à classes sociais populares não se configura apenas enquanto limitações, mas permite, em sua contradição, possibilidade de impulso motivacional e práxis transformadora. Isso se torna mais evidente no relato de alunos que buscam ingressar nos cursos com enfoque social e crítico na busca de transformação social e diminuição da desigualdade social. Transformação que, segundo seu próprio relato, não pode ser completamente esperada de alunos que nunca vivenciaram a exclusão e desigualdade.
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