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Vida

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Por:   •  18/9/2014  •  Tese  •  3.217 Palavras (13 Páginas)  •  133 Visualizações

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endo como fio condutor as análises que procuram discutir como se dão as relações que as pessoas mantêm com o seu tempo, este texto busca examinar os vínculos entre tempo, indivíduo e vida social, acentuando, principalmente, as diferenças existentes entre uma vivência orientada pela perspectiva do futuro, característica da modernidade, e outra que, centrada no momento presente, para alguns analistas, indicaria o nascimento de uma nova ordem social. Será também avaliada a hipótese que aponta para a emergência de um novo tempo social dominante e de novas formas de manifestação da individualidade, elementos que caracterizariam o surgimento dessa nova ordem.

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O tempo social dominante de uma sociedade é aquele que lhe permite cumprir os atos necessários para a produção dos meios que garantem sua sobrevivência, possibilitando a criação, manifestação, realização e atualização de seus valores fundamentais.

Os procedimentos envolvidos nesse processo qualificam aqueles que os utilizam, a sociedade em que vigoram e as relações sociais que desencadeiam. Em cada tipo de coletividade, e em todos os níveis, a satisfação das existentes e a criação de novas necessidades, a transmissão à descendência do modo adequado de ser e da maneira desejável de agir, atribui significados, faz nascer valores que passam a ser compartilhados, constituindo modos de vida e tipos de sociabilidade.

A forma pela qual uma dada sociedade garante a manutenção da vida, expressa no seu modo de produzir, nas regras que a organizam e nas principais atividades exigidas por essa produção, interfere sobre o seu ritmo temporal e indica qual é o tempo que nela predomina. Como as atividades que são secundárias para a definição desse processo articulam-se em torno dele, os tempos sociais em que essas atividades se desenvolvem: articulam-se em torno do tempo social dominante e submetem-se a seu ritmo. (1)

As mais diferentes teorias sociais qualificam a ordem social moderna como "sociedade do trabalho", exatamente porque reconhecem na categoria trabalho sua dinâmica central. O tempo do trabalho – regular, homogêneo, contínuo, exterior, coercitivo, linear e abstrato – é o tempo social nela dominante. Por conseguinte, qualquer dos outros tempos sociais existentes, referentes a atividades que não são determinantes para sua caracterização, é penetrado por esses traços, que adquirem a conotação de identificadores do tempo. Pessoas e instituições lhe estão submetidos, fazendo com que a própria definição de ser social – individual e coletivo – sofra a mediação dos conceitos de trabalho e tempo de trabalho.

Entretanto, atualmente, o trabalho vem sendo questionado como valor central da vida social, tanto objetiva como subjetivamente. (2) É identificada uma crise, ligada ao fim da percepção da categoria trabalho como dimensão qualificadora da sociedade, e do tempo a ele referente, como tempo dominante (3), sugerida a transição para um novo conjunto de significados, a emergência de uma nova ordem e, em decorrência, de um novo tempo social dominante, ainda que não plenamente configurados.

A perspectiva temporal, como a concebemos, só se concretizou quando, além da percepção de um ontem, referente ao passado, e de um hoje, relativo ao presente, tornou-se possível pensar a emergência de um amanhã que pudesse, realmente, representar uma alternativa futura ao que existia. A forma com que nos habituamos a perceber o mundo e nele viver tornou-se vigente somente quando, não apenas individualmente mas também em termos sociais, surgiu a possibilidade efetiva de apreensão dessa tripla dimensão temporal.

Substituindo um andamento cíclico, o surgimento de um tempo tridimensional, marcado pela distinção entre passado, presente e futuro, é um dos elementos qualificadores da vida moderna. O presente identifica o momento no qual, amparada pela experiência do passado e lançando mão da razão, a humanidade projetaria o seu futuro. A própria relevância do tempo "depende[ria] da capacidade de interrelacionar o passado e o futuro no presente" (4 apud 5). A emergência da possibilidade de uma visão histórica do (e no) mundo estaria, portanto, vinculada ao surgimento dessa forma de percepção temporal (6).

Ainda mais importante, a idéia de progresso, a crença no planejamento como controle racional dos processos sociais e na possibilidade de construção de um projeto, coletivo ou individual, só passaram a atuar na orientação das condutas humanas a partir do momento em que o futuro passou a ser prefigurado, almejado, buscado. Dessa forma, a sociedade moderna e seus valores básicos estão referidos à crença na possibilidade de um futuro visualizado no presente e a partir deste construído, de um futuro pressentido como abertura – um possível configurado pela ação humana (7).

Em contraste, atualmente, alguns autores afirmam que a memória histórica já não está viva (8). Para eles, a intensificação crescente do ritmo temporal implica que já não se tenha memória do passado e esteja cada vez mais distante a possibilidade de um futuro. O esforço para manter-se em dia com o seu próprio tempo provoca, nas pessoas, o afastamento dos padrões significativos do passado, sem que suas próprias referências de valor se enraízem; com isso, as perspectivas de um (possível) futuro ficam também obscurecidas. Do mesmo modo, a experiência do passado já não garante a base para atuação no presente.

Beck afirma que, na sociedade contemporânea, entendida por ele como sociedade de risco, "o passado perde o poder de determinar o presente; seu lugar é tomado pelo futuro". Dessa forma, algo inexistente, inventado, fictício aparece como causa de uma experiência atual. "Tornamo-nos ativos, hoje, para prevenir, aliviar ou tomar precauções contra crises e problemas de amanhã e de depois de amanhã" (9) e é notável a rapidez com que ocorre a obsolescência das formas de fazer, de agir e/ou de pensar.

Sua análise ressalta a transformação crucial em curso na própria noção de tempo, acentuando que a consciência do risco repousa não no presente, mas no futuro: em conseqüência, é necessário projetar o que virá depois a fim de determinar e organizar (agora) as ações. Esse segundo ponto deve ser enfatizado: para prevenir riscos, o futuro deve ser antecipado, de forma a gerar ações preventivas no presente. Dessa forma, mesmo considerando que, como no passado, o futuro ainda aparece como dimensão importante, hoje, é o presente o tempo acentuado,

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