A representação da cultura popular no programa Esquenta!
Por: Ana Elisa Martins • 28/4/2016 • Artigo • 2.981 Palavras (12 Páginas) • 314 Visualizações
A representação da cultura popular no programa Esquenta!
Ana Elisa Martins
Resumo:
Este artigo tem como objetivo investigar a representações populares no programa de televisão Esquenta da Rede Globo verificando a identificação das camadas populares com os programas de auditórios, presente na TV brasileira desde a década de 1960 e como o programa Esquenta demonstra essa representação sem cair nos estereótipos do popular.
Palavras Chaves: Esquenta; Cultura Popular; Programa de auditório; Regina Casé; Diversidade Cultural
Introdução
Ao longo do século XX a televisão brasileira passou a ser uma ferramenta bastante presente na vida das famílias brasileiras. Na década de 1960, quando ainda se iniciava as produções dos primeiros programas, a TV colocou em evidencia os espaços dedicado a produções populares, e isso lhe marcaria até os dias atuais. Ainda nas primeiras décadas da televisão já era possível encontrar em sua composição diversos programas popularescos que se dedicavam para a exposição do “diferente”, do “inusitado”, que não se enquadrava nos “padrões estéticos” das classes dominante e acabava servindo como demonstração de “bizarrices” e “alegorias ao público”. Com aceitação das camadas mais populares da sociedade, os programas e as emissoras investiram na manutenção de tal gênero.
Hoje, com a ascensão das novas tecnologias e a concorrência direta com canais pagos voltados para segmentos específicos da audiência, a televisão tem vivido momentos de adaptação em sua maneira de produzir. A TV aberta busca se reinventar para manter a fidelidade de seu público. Para tanto, fundamenta-se em promessas de gênero a fim de alcançar a receptividade do telespectador. Os programas ditos populares estão inseridos nessa lógica e assumem uma característica importante que lhes define, em síntese: levar ao telespectador aquilo que ele tem interesse em assistir (FRANÇA, 2004).
O que difere um programa de auditório de um programa “convencional” é a presença de uma plateia que interage a todo o momento com o apresentador, por meio de brincadeiras, perguntas, gincanas, provas entre outros. Os programas de auditório possibilitaram a participação das camadas populares na televisão, pois valorizam tudo aquilo encontrado no universo popular que é menosprezado pelas classes dominantes.
Mesmo considerando esse poder do moderno frente ao popular na composição dos Programas de Auditório, o espaço midiático conquistado, então, pelo universo popular consegue despertar um sentido de pertencimento. Nas classes subalternas, valorizando tudo aquilo que faz parte de seu mundo excluído na sociedade moderna capitalista: a linguagem, a estética, os assuntos de interesse, as carências sociais, sua ética, sua solidariedade que, enfim, formam o que é, realmente, sua imagem (TORRES, 2005).
Segundo França (2004), uma das principais características dos programas de auditório é a noção de cotidiano, sobre isso a autora destaca:
(...) é da vivência cotidiana dos personagens convocados que eles se alimentam. E o que é mesmo o cotidiano? Entendemos o cotidiano como lugar da experiência, do vivido; lugar das partilhas e dos enfrentamentos; igualmente um lugar da constituição dos laços e da sociabilidade. Falar do cotidiano é falar de um trabalho de construção de um lugar no mundo. Nesse sentido, ao alimentar-se do cotidiano, esses programas – bem ou mal – falam e nos remetem para a dramaticidade do mundo real², e para os movimentos (as convulsões e ruídos) que compõem esse mundo. (FRANÇA, 2004, p. 3- 4)
Dentre inúmeros exemplos, o programa Esquenta, da TV Globo, se resume como uma atração voltada ao popular e que dedica o espaço a valorização dessa cultura. O programa em questão é objeto de análise do presente artigo a fim de evidenciar a maneira como a emissora retrata a população que está inserida nas camadas mais populares da sociedade.
- O Programa Esquenta!
Apresentado por Regina Casé, o Esquenta é um programa de auditório veiculado sempre aos domingos pela Rede Globo de televisão. O programa é exibido desde 2011 e inicialmente, era para ser um programa de temporadas de verão, e o foi no período de 02/01 a 27/03 de 2011 e 11/12/2011 a 01/04/2012. A partir de dezembro de 2012 o programa passou, então, a fazer parte da programação fixa da emissora. A atração se estrutura a partir de uma mistura de temas expostos ao longo de cada exibição. A origem do programa, segundo definição da própria apresentadora, está em outras atrações populares, como o programa do Chacrinha
O samba é a principal atração do programa, sendo identificado até mesmo na abertura. Desde o surgimento do programa, Esquenta mostra uma forte ligação com tal estilo musical. A cada domingo, uma escola de samba do Rio de Janeiro era convidada e levava sua bateria, sua velha guarda, sua rainha de bateria e suas passistas para o programa. Atualmente essa dinâmica não prevalece, mas o samba continua como fio condutor do produto em questão. Mas apesar desse foco no samba, o programa ainda conta com a participação de atrações diferentes, de vários ritmos, como funk, forró e MPB
Os bailarinos são diferentes dos programas convencionais. Muito mais participativos e não “profissionais”. Crianças, jovens e adultos compõem o corpo de balé do programa. O Bonde da Madrugada, grupo de dança do Cantagalo (RJ), faz “passinhos” de funk no começo e durante os programas.
O cenário do programa é outro destaque. Diferente do convencional, onde as pessoas ficam em assentos estilo arquibancadas em torno do palco, ou à frente do apresentador. De acordo com o site Memória Globo o estúdio no Projac era utilizado por inteiro pelo programa. O cenário, produzido por Gringo Garcia, e a platéia podiam ser vistos de diferentes ângulos.
O cenário era composto por figuras geométricas em cores vivas e dividia o estúdio com uma arquibancada em forma de arena para 400 pessoas. Rampas e palcos em diversos níveis facilitavam a interação entre Regina Casé e seus convidados. Um desses palcos era destinado a roda de samba liderada por Arlindo Cruz e Leandro Sapucahy, em outro ficava a cozinha e em um plano inferior, um palco para shows onde as atrações musicais se apresentavam (MEMÓRIA..., 2014).
Além disso, o programa sempre contou com um espaço, na parte superior, reservado aos garis do Rio de Janeiro e o cenário sofre algumas modificações dependendo do tema abordado no programa dominical.
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