Estrutura do Produto - TCC Jornalismo
Por: Nathalia Marques • 2/6/2016 • Trabalho acadêmico • 4.480 Palavras (18 Páginas) • 955 Visualizações
Universidade anhembi morumbi
DANIELLE ANDRADE
DOMITILA GONZALEZ
REBECA RODRIGUES
REJANE SANTOS
TAIS SOUZA
DOCUMENTÁRIO JORNALÍSTICO EM VÍDEO
PERFIL: DEMÔNIOS DA GAROA
São Paulo
2013
3. ESTRUTURA DO PRODUTO
3.1 Linguagem do veículo
A escolha de desenvolver um documentário jornalístico em vídeo como perfil do grupo Demônios da Garoa partiu da ideia de que o formato audiovisual disponibiliza todos os recursos necessários para mostrar com clareza o objetivo principal do projeto, focado na história de 70 anos do conjunto com gancho para sua relação com a indústria cultural, de modo a dialogar som e imagem, construindo um produto coerente e inovador.
Ao comparar as definições de documentário e de grande reportagem foi possível perceber que são gêneros profundamente ligados, mas com características diferentes quanto ao tratamento da informação.
O gênero documental nasceu com o sucesso da indústria cinematográfica na França, no início do século XX. Como as sessões de cinema projetavam filmagens atreladas ao que saía nos jornais, começou a surgir uma espécie de cinejornal, com a exibição de películas especiais sobre notícias já detalhadas nos periódicos. Quando houve a popularização das exibições, veio a divisão de gêneros: tanto obras ficcionais quanto não ficcionais passaram a fazer parte da grade de programação. E então houve uma procura específica por essa linguagem que mostrava o mundo real, o que desenvolveu o processo de produção de documentários (SOUZA, 2006, p. 2).
No artigo O Documentário como Gênero Jornalístico Televisivo (GOMES, MELO E MORAIS, 1999), é possível notar uma reflexão sobre o tema, considerando a construção do documentário como sendo um registro histórico e social, com a presença do real concomitantemente à narrativa ficcional.
A mestre em Multimeios pela Universidade de Campinas, Karla Holanda, no artigo Documentário Brasileiro Contemporâneo e a Micro-História (2006, p. 4), diz que a abordagem do documentário possui um recorte a partir da história de indivíduos ou grupos, sendo fragmentados e representados na sua pluralidade humana. Nichols (2010) complementa, definindo o gênero cinematográfico como uma representação da realidade:
(...) não é uma reprodução da realidade, é uma representação do mundo em que vivemos. Representa uma determinada visão do mundo, uma visão com o qual talvez nunca tenhamos deparado antes, mesmo que os aspectos do mundo nela representados nos sejam familiares (NICHOLS, 2010, p. 47).
Partindo do princípio de que grandes reportagens e documentários nasceram nesse período específico, nota-se uma semelhança nas estruturas narrativas. Segundo Gustavo Souza (2006, p. 03), narrar é contar uma história e tanto um documentário quanto uma grande reportagem estão aptos a isso. Contudo, a diferenciação se dá também no que diz respeito ao processo de produção de ambos os objetos e também à voz a qual representam.
Logo, nota-se outra diferença fundamental entre esses dois gêneros. Em uma grande reportagem, há um conjunto específico de técnicas e critérios de noticiabilidade que são decisivos na hora da escolha do tema. Já os documentários não adotam técnicas fixas, possuem um caráter atemporal, objetivam a reflexão posterior e estão atrelados à individualidade ditada pela voz por trás da produção, seja ela a do diretor, cineasta, patrocinador ou organização diretora (SOUZA, 2006, p. 03).
A voz do documentário é, com muita frequência, a voz da oratória. É a voz do cineasta que tenciona assumir uma posição a respeito de um aspecto do mundo histórico e convencer-nos de seus méritos. Essa posição trata de aspectos do mundo sujeitos a discussão, de questões e tópicos que não se prestam a investigação científica (NICHOLS, 2010, p. 79-80).
Os modos de produção de um documentário não se baseiam em um único parâmetro, “mas numa multiplicidade sem precedentes de formas, certamente como algo que se deixou afetar e abriu passagens por entre as tantas ondulações e revoluções da cultura audiovisual contemporânea” (TEIXEIRA, 2004, p. 19).
O jornalismo tem como principal função relatar a notícia. Na França do início do século XX, o que diferenciava os filmes de ficção dos filmes de não ficção exibidos nos cinejornais era a intensificação da quantidade e qualidade da informação em detrimento da opinião contida neles. Até hoje, o que diferencia um fato a ser publicado numa reportagem de outro sem relevância são os critérios de noticiabilidade (SOUZA, 2006, p. 03).
As mudanças estilísticas iniciadas no Brasil na década de 50 a partir da adoção do modelo norte-americano de redação fizeram com que os jornalistas começassem a seguir um roteiro para a produção da notícia (SOUZA, 2006, p. 03).
Dessa maneira, reportagens são produzidas por meio de recortes da realidade inseridos em um contexto e publicadas como reprodução dessa realidade factual, sempre mediada pelo autor da matéria. Já a produção do documentário realiza-se por meio de explicações analíticas e contextualizações históricas, sem certa urgência exigida das reportagens de caráter imediato (SOUZA, 2006, p. 04).
Ambos os gêneros se nutrem da realidade, contudo de maneiras diferentes. Bill Nichols (2010) diz que um dos principais atrativos do documentário é o acesso que ele possui ao que é verdadeiro e real, demonstrado por sua clareza e simplicidade.
Nichols (2010, p. 177) enumera seis modos de representação do gênero documentário. São eles: poético (mais abstrato, enfatizando qualidades como o estado de ânimo, tom e afeto), expositivo (dirige-se diretamente ao expectador, expondo argumentos, recontando histórias e propondo novas perspectivas), observativo (evita encenações e comentários, sem intervenção explícita do cineasta), participativo (mais invasivo, com participação efetiva do cineasta, relacionando sua vivência com o expectador), reflexivo (construído na base do realismo, proporcionando questionamentos) e performático (com foco nos aspectos subjetivos).
Entre esses, o modo escolhido para a realização das gravações sobre o Demônios da Garoa é o expositivo, pois serão explorados aspectos novos na trajetória do grupo, além de contrapontos proporcionados por ex-integrantes, depoimentos de fãs, historiadores, jornalistas e críticos musicais.
Nichols (2010) ainda afirma que, mesmo que um documentário seja caracterizado de maneira geral por um desses modos, não quer dizer que ele não possua informações e características de outros modos, sendo eles dois ou mais. Dessa forma, o produto feito sobre o Demônios da Garoa ainda poderá usar características dos modos poético e observativo.
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