MORADORES EM SITUAÇÃO DE RUA: Violências Cotidianas
Por: João Vitor • 26/10/2015 • Trabalho acadêmico • 3.049 Palavras (13 Páginas) • 267 Visualizações
[pic 1]INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO E ARTES
CURSO DE JORNALISMO MULTIMÍDIA
MORADORES EM SITUAÇÃO DE RUA:
Violências Cotidianas
ALUNO: João Vitor Fernandes Costa
PROFESSOR(A) ORIENTADOR(A): João Guilherme Dias
BELO HORIZONTE
2014 / 2º Semestre
Moradores em Situação de Rua: Violências Cotidianas*
João Vitor Fernandes Costa[1]
Resumo
Este trabalho é o resultado de uma inquietação de entender como a disputa por território pode interferir na rotina de vida e, principalmente, como ela contribui para os constantes casos de violência da população de rua. Para responder estes questionamentos nossa proposta é produzir uma série de reportágem que contará o dia a dia desta população e mostrará como se dá esta territorialidade. Para isto definimos como objeto empírico a população de rua de Belo Horizonte. A metodologia adotada será a observação de campo e entrevistas.
Palavras Chave: Moradores de Rua; Territorialidade; Violência
Introdução
Os moradores em situação de rua vivem a margem da sociedade e dependem amplamente de políticas públicas para sua sobrevivência. São pessoas que perderam seus vínculos familiares pelos mais variados motivos e a partir desta ruptura passam a fazer da rua seu lar. E dela que eles “tiram seu sustento” e nela que estão suas amizades, seus desafetos e seus pesadelos.
Viver na rua é ser invisível aos olhos dos outros. É ser lembrado apenas quando seu comportamento não respeita os padrões estabelecidos pela sociedade. O álcool, as drogas e a violência estão sempre presentes no dia a dia desta população. Outro fator de grande conflito entre esta população e principalmente entre os moradores de rua e os “moradores de casa”, é a disputa pelo território. Esta chamada territorialidade faz com que pessoas de condomínios e casas joguem água nas calçadas para afugentar os “mendigos”. Faz com que moradores de um bairro chamem a polícia para retirar andarilhos da praça. É esta territorialidade que faz com que eles permaneçam perto de onde consigam comida de graça.
Infelizmente, em Belo Horizonte as vagas em abrigos e albergues não são suficientes para a população de rua da capital. A PBH oferece atualmente aproximadamente 900 vagas para uma população de 1827 pessoas.
Dentro deste contexto, este trabalho pretende mostrar a situação de disputa por território desta população invisível, como este conflito interfere na rotina destas pessoas. Para tanto, nosso trabalho será orientado pelo conceito de etnografia, da antropologia, para olhar para o outro lado da realidade e lhe dar voz.
Na maioria das vezes o jornalista, quando se aproxima da população de rua, apenas relata fatos da ótica já pré-estabelecida socialmente. Neste sentido este trabalho pretende se aproximar desta população e dar o contraponto entre estas realidades tão distintas e que convivem muito próximas uma da outra.
Fundamentação Teórica
Este trabalho pretende Mostrar, através de uma série de reportagem, como a disputa por território travada pela população de rua interfere na rotina deste segmento da população de Belo Horizonte. Como eles definem seu espaço e transformam este lugar em sua casa? De que maneira esta situação contribui para a rotina de violência desta população?
Sodré (1988) conceitua território como um lugar marcado de um jogo, que se entende, como sistemas de regras de movimentação humana e de um grupo. Ainda segundo o autor, “ ‘territorialização’ é a força de apropriação exclusiva de um espaço e resulta de um ordenamento simbólico, sendo capaz de engendrar regimes de relacionamento, relações de proximidade e distância”.
O Morador de rua faz dela seu lar, sua casa. Roberto da Matta, em seu livro "A Casa e a Rua, Espaço, Cidadania, Mulher e Morte No Brasil" (1997), trabalha os conceitos de Casa e Rua, como “Categorias Sociais” que operam em todos os níveis da sociedade. Damatta se baseia em Durkhein e Mauss, para falar destas “categorias sociais” no sentido de ser um conceito “que mostra aquilo que uma sociedade pensa e assim determina como sendo seus valores e ideias e também para traduzir aquilo que a sociedade vive e faz concretamente - o seu sistema de ação que é referido e embebido nos seus valores” (Damatta, 1997, pag. 7).
Um exemplo desta definição de territorialidade é a situação de um morador que se instalou na Praça Afonso Arinos a cerca de seis meses com toda estrutura de uma residência. No local o morador improvisou até uma televisão para assistir enquanto passa o tempo[2].
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Figura 1: Morador de rua instala televisão na praça Afonso Arinos
Mesmo nestes casos, tomando a rua como casa e fazendo dela seu território, a população de rua é invisível pera a sociedade. Na maioria das vezes os moradores de rua só são notados por seu comportamento fora dos padrões dito normais pela sociedade (REZENDO: 2011).
A população de rua olhada como segmento não integrante da sociedade pode ser inserida no conceito de "invisibilidade publica", abordado por Filho (2004) e citado por Costa (2008) em sua pesquisa: “Moisés e Nilce: retratos biográficos de dois garis. Um estudo de psicologia social a partir de observação participante e entrevistas”.
“Invisibilidade Pública é expressão que resume diversas manifestações de um sofrimento político: a humilhação social, um sofrimento longamente aturado e ruminado por gente das classes pobres. Um sofrimento que, no caso brasileiro e várias gerações atrás, começou por golpes de espoliação e servidão que caíram pesados sobre nativos e africanos, depois sobre imigrantes baixo-salariados: a violação da terra, a perda de bens, a ofensa contra crenças, ritos e festas, o trabalho forçado, a dominação nos engenhos ou depois nas fazendas e nas fábricas.” (Filho,2004, p.09)
Para Costa (2008) a sensação de estar publicamente invisível é percebida. O sujeito de certa forma pode minimizar, ou até recusar, este fenômeno como expressão psicossocial de um desencontro. Ainda segundo Costa (2008) esta invisibilidade pode não completar-se, pois o fenômeno irá aparecer à consciência como fato natural.
Costa ainda ressalta que “a invisibilidade pública tem a força para abafar a voz e baixar o olhar. Pode endurecer o corpo e seus movimentos. Pode emudecer os seus sentimentos e fraquejar a memória. Faz esmorecer, em todos os níveis, o poder de aparição de alguém” (Costa, 2008, p.16)
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