A Amélia de Pitty

Segundo a composição de Mário Lago, o termo “Amélia” refere se a uma mulher, sendo ela submissa às necessidades de casa e os desejos do seu companheiro, no trecho a seguir exemplifica muito bem o que foi dito anteriormente “Ás vezes passava fome ao meu lado e achava bonito não ter o que comer”, ou seja, ela não problematizava o fato dos dois passarem fome, ao contrário, romantizava essa situação, correspondendo assim a uma mulher conformista e que vive em função de outra pessoa.

De modo geral ser “Amelia”, é ser uma mulher dedicada integralmente aos afazeres de casa, dos seus filhos e seu companheiro, abrindo mão de sua vaidade, vontades, suas necessidades e de trabalhar fora, com isso ela se colocava como dependente do seu marido não só emocionalmente, como financeiramente, sendo assim ela estava presa a essa relação e se tentasse sair disso era vista com mal olhares na sociedade.

Nos tempos atuais essa construção social, onde é determinado que o papel do homem é ser o provedor, defensor e protetor da família e a mulher como sendo a cuidadora do lar, ainda não foi desmistificado, entretanto, as mulheres vêm lutando diariamente para mudar o papel que lhe foi dado.

Sendo assim a Pitty narra a rotina de uma mulher que se assemelha com a “Amélia tradicional”, dito no trecho: “O ensejo a fez tão prendada ela foi educada pra cuidar e servir” ou seja ela é ocupada com as tarefas domésticas, além de cuidar de seu filho, aproveitando a hora em que ele dorme para deixar tudo em ordem para quando acordar, entretanto, em sua música, procura romper com essa ideia e investigar quem seria a “Amélia” do século XXI.

Pitty Conta a história de uma mulher moderna sobrecarregada em afazeres domésticos que um dia finalmente resolve assumir o protagonismo da sua própria vida. Desfazendo os princípios tradicionais estabelecidos, para reconstruir algo novo: a “Amélia” que rompe com os padrões que foram impostos a ela, deixando o conformismo de lado e resolvendo dar um basta na situação. Uma mulher que agora resolve se colocar como prioridade. Sai de cena então a “Amélia sem vaidade” e entra aquela que se cuida e gosta de si mesma, sem culpas.

Através de uma intertextualidade implícita, Pitty busca apresentar em sua música uma personagem forte e determinada. Comparando se ao texto de Mário Lago, é possível perceber que a cantora referência à figura de “Amélia” sobre um viés moderno, desconstruída, ao invés de uma mulher que vive em função de uma outra pessoa e que não possui vaidades.

A “Amélia” de Pitty rompe com os costumes que a limitavam e resolve viver a própria vida. Ela estuda, entra no mercado de trabalho, sai pra se divertir com os amigos e não se importa com a sua idade. É livre, como todas as mulheres deveriam ser.