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COMUNICAÇÃO E POLÍTICA: O Impacto da cobertura televisiva nas manifestações de março no Brasil

Por:   •  16/8/2017  •  Artigo  •  5.348 Palavras (22 Páginas)  •  373 Visualizações

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COMUNICAÇÃO E POLÍTICA: o impacto da cobertura televisiva nas manifestações de março no Brasil[1]

COMMUNICATION AND POLITICS: the impact of television coverage on March demonstrations in Brazil

Elen Geraldes [2]

Janara Sousa [3]

Vanessa Negrini [4]

Resumo: Nos dias 13 e 15 de março de 2015 foram convocados protestos nacionais pró e contra o governo Dilma Rousseff. A proposta deste artigo é analisar qual foi o papel da Rede Globo de Televisão nestes atos. A exposição do telespectador à programação pode ser associada a uma adesão maior a algum destes movimentos? A partir da análise de conteúdo e de discurso, por pesquisadores do Laboratório de Políticas de Comunicação (LaPCom) da Universidade de Brasília (UnB), constatou-se que o tempo dedicado pela Globo à cobertura das manifestações de 15 de março foi 400% maior do que o do dia 13. Assim, infere-se que a cobertura maciça da Globo, aliada a outros fatores, contribuiu para intensificar a participação popular nos atos do dia 15 de março. Realizamos uma análise da comunicação enquanto direito humano fundamental à manutenção da democracia, à luz das teorias de comunicação, do direito achado na rua e das sociologias das ausências e das emergências.

Palavras-Chave: Comunicação e política. Manifestações. Brasil.

Abstract: On 13 and 15 March 2015 national protests were called for and against the Rousseff government. The purpose of this article is to analyze the role of Rede Globo de Televisão in these acts. Can the viewer's exposure to programming be associated with greater adherence to any of these movements? From the analysis of content and speech, by researchers from the Laboratory of Communication Policies (LaPCom) of the University of Brasília (UnB), it was verified that the time dedicated by Globo to cover the manifestations of March 15 was 400% higher Than that of day 13. Thus, it is inferred that the massive coverage of Globo, together with other factors, contributed to intensify popular participation in the acts of March 15. We carry out an analysis of communication as a fundamental human right to the maintenance of democracy, in the light of theories of communication, law found on the street and the sociologies of absences and emergencies.

Keywords: Communication and politics. Manifestations. Brazil.

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1. Introdução

O amadurecimento e a complexificação das Teorias da Comunicação levaram ao abandono da visão em que a mídia determina automaticamente, com precisão e clareza, o que os indivíduos, frágeis e atomizados, irão pensar. Substituiu-se a determinação pela influência, e os grupos sociais passam a ser, juntamente com os meios de comunicação, reconhecidos como os interlocutores dos cidadãos em suas escolhas, visões de mundo e ideologias. Mas quais efeitos os meios exercem? Quais os limites desses efeitos? E, sobretudo, como isso se dá no campo da Política, em que a mídia é um ator de grande importância?

Se diretos ou indiretos, limitados ou totais, acreditamos que estes efeitos estão postos, com repercussões não apenas nos hábitos de consumo, mas muito especialmente na formação de opinião, fundamentação de visões de mundo e conformação da cidadania.

Neste artigo, nos ancoraremos em dois referenciais. De um lado, os estudos que enfatizam a importância da regulamentação da comunicação, pois mostram os riscos de uma mídia concentrada, geográfica e economicamente, nas mãos de poucos, sem nenhum controle social, como apontam as pesquisas de Lima (2011), Ramos (2007), Paulino (2007), Bolaño (2007) e Brittos (2008), entre outros, que dedicam especial atenção ao tema da regulamentação dos meios de comunicação de massa. Para os autores, é indispensável diferenciar direito à comunicação, um direito humano,com o direito de imprensa, do ámbito empresarial.. Saravia (2008) e Miguel (2004), por sua vez, têm discutido a influência dos meios de comunicação nas democracias contemporâneas.

Nosso segundo referencial é construído na interlocução como núcleo de pesquisa O Direito Achado na Rua, da Universidade de Brasília (UnB), concebido a partir de filosofia de Roberto Lyra Filho (2012), Diz-se que a comunicação, nessa perspectiva, é um direito achado na rua quando ela está permeada por práticas sociais de enfrentamento e resistência, que superam a leitura legal do tema. Este debate se sustenta ainda na sociologia das ausências e das emergências, de Boaventura de Sousa Santos  (2008).

A “Pesquisa Brasileira de Mídia 2015” (PBM 2015), realizada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República do Brasil, revela que cresceu a confiança dos brasileiros nas notícias veiculadas nos diferentes meios de comunicação, sendo que a televisão segue como meio de comunicação predominante, com 54% dos brasileiros acreditando muito ou sempre no conteúdo das notícias veiculadas neste meio (2014, p. 8). De outra ponta, estudos revelam a baixa autocrítica dos profissionais de medias, entre os quais prevalece uma visão “de que os meios de comunicação são relativamente independentes, que relatam fatos corretamente, estão distanciados de suas fontes e, principalmente, livres de vieses ideológicos em sua cobertura”  (GRAMACHO, MARCELINO, MENDES, & RENNÓ, 2009, p. 24), constituindo-se em mais um fator a potencializar os efeitos dos meios na sociedade.

Do encontro desses referenciais, deprende-se que: a)  embora o direito à comunicação seja indispensável para a fruição de outros direitos, ele está ameaçado pela concentração e pela falta de controle social, b) a população respeita e confia nos meios de comunicação, sobretudo na televisão; c) os próprios profissionais de medias não têm senso crítico em relação a seu papel e aos interesses inerentes ao exercício de sua profissão.

Diante do exposto, quais são os efeitos dos meios de comunicação, sobretudo numa temática em que os interesses mediáticos estão mais evidentes, como na cobertura política?

2. Metodologia

Diante do panorama apresentado na introdução, muito se tem aventado sobre a influência da imprensa televisiva hegemônica sobre a percepção da população sobre os governos, inclusive de forma a interferir no cenário político. Embora os debates teóricos e ideológicos  sobre o tema proliferem, poucos são os estudos que de fato investigam se esta percepção se confirma empiricamente.

Assim, imbuídos da necessidade deste tipo de investigação, examinamos a cobertura realizada pela Rede Globo de Televisão dos protestos nacionais convocados para os dias 13 e 15 de março de 2015, pró e contra o governo da presidente Dilma Rousseff, respectivamente. O trabalho foi realizado no âmbito do Laboratório de Políticas de Comunicação (LaPCom), grupo de pesquisa do programa de pós-graduação da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (FAC/UnB).

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