Dialética do esclarecimento
Por: dannysilvarabelo • 18/5/2015 • Bibliografia • 1.149 Palavras (5 Páginas) • 212 Visualizações
Dialética do esclarecimento: controle e alienação da sociedade
Por Marcela Belchior[1]
Redigida e concluída ainda durante a Segunda Guerra Mundial, em 1944, a tese dos filósofos alemães Theodor W. Adorno e Max Horkheimer, então exilados em Los Angeles, Califórnia (EUA), se desenvolveu já enxergando o fim do regime totalitário da Alemanha. O livro Dialética do esclarecimento, publicado em 1947, se tornou uma das mais importantes obras que figuram no conjunto de teorias da Comunicação, contribuindo com uma profunda e bem fundamentada análise sobre a relação da verdade com o poder de compreensão do pensamento da época.
Especificamente na área comunicacional, os autores refletem sobre a Indústria Cultural, mas a obra também discute com propriedade as relações entre mito e razão, controle político e midiático e as relações sociais do anti-semitismo alemão na era hitlerista. Em Dialética do esclarecimento têm-se uma das principais teses do arcabouço das teorias críticas da Comunicação desenvolvidas pela Escola de Frankfurt.
A obra se desenrola apoiada em duas teses principais que envolvem, de acordo com os autores, um processo dialético de construção social:
(1) O mito já é esclarecido e o esclarecimento acaba por se reverter à mitologia.
(2) Os processos sociais desencadeados pelo contexto de fortalecimento da Indústria Cultural mostram a regressão do esclarecimento à ideologia, que encontra no cinema e no rádio sua expressão mais influente.
Além dessas duas teses principais, Adorno e Horkheimer discutem sobre os elementos do anti-semitismo, defendendo que tal fenômeno representa um retorno efetivo da civilização esclarecida à barbárie, apontando que a racionalidade tende à autodestruição.
Comecemos discutindo a dialética entre mito e esclarecimento apresentada na obra. Segundo os autores, o esclarecimento tem perseguido sempre o objetivo de livrar os homens do medo e de investi-los na posição de senhores. Sendo assim, o programa do esclarecimento era o desencantamento do mundo. Sua meta era dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo saber. Assim, a superioridade do homem está no saber, na razão. Portanto, o pensamento serve para destruir mitos, rejeitando a magia (1967: 19-21).
Contudo, do mesmo modo que os mitos já levam a cabo o esclarecimento, assim também o esclarecimento fica cada vez mais enredado, a cada passo que dá, na mitologia. Todo conteúdo, ele o recebe dos mitos, para destruí-los, e, ao julgá-los, ele cai na órbita do mito (1967: 26). O esclarecimento esbarra na mitologização na medida em que o conhecimento restringe-se à repetição do factual, transformando o pensamento em tautologia. "Quanto mais a maquinaria do pensamento subjuga o que existe, tanto mais cegamente ela se contenta com essa reprodução. Desse modo, o esclarecimento regride à mitologia da qual jamais soube escapar" (1967: 39).
Esse processo de oposição que, entrelaçada, gera uma unidade, também envolve o homem em sua submissão ao trabalho. Segundo Adorno e Horkheimer, com a difusão da economia mercantil burguesa, o mito foi aclarado pela razão. Porém, forçado pela dominação econômica, o trabalho humano tendeu sempre a se afastar do mito, mas cai novamente sob seu influxo levado pela mesma dominação (1967: 43).
No contexto do regime totalitário e de expansão da Indústria Cultural, as “massas”, como a perspectiva da época apontava, regridem ao ofuscamento. O que pensamento que antes era controlado pelo mito passa a ser, como apontam os autores, controlado pelo poderio político-econômico. Quanto mais refinado o sistema de produção, mais “empobrecidas as vivências de que ele é capaz”. Portanto, quanto mais dominação industrial, maior a obsolescência da razão e maior a mistificação das massas, que tem seus sentidos condicionados pelo aparelho da sociedade industrial (1967: 47-83).
A razão, então, que, segundo os autores, determina o poderia da natureza sobre o espírito (dicotomia hoje superada nas ciências sociais), acaba por se auto-alienar, se tornando irracional. "(...) toda expressão humana e, inclusive, a cultura em geral são subtraídos á responsabilidade perante o pensamento. (...) Desde o início, ela não pôde se fiar unicamente em sua força de atração e teve que complementá-la com o culto dos sentimentos. Mas quando ela conclama aos sentimentos, ela se volta contra seu próprio meio, o pensamento, que também foi sempre suspeito para ela, a razão auto-alienada" (1967: 90).
Tal perspectiva nos conduz à segunda tese, que defende que a Indústria Cultural trata o esclarecimento como cálculo de eficácia e como técnica de produção e difusão, sendo limitado à ideologia da idolatria daquilo que existe e do poder pelo qual a técnica é controlada.
Sendo assim, Adorno e Horkheimer discorrem que a Indústria Cultural quer atingir a totalidade e, para isso, ela vence a insubordinação e impõe fórmulas que substituem obras. Isso geraria, então, uma atrofia da imaginação e da espontaneidade do consumidor cultural. A Indústria Cultural nega o estilo e o subordina a um consumo como ideologia. Uma resistência a esse sistema político-econômico levaria determinado sujeito ou grupo à exclusão.
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