Ossos do Ofício: A precarização das condições de trabalho nos jornais impressos de Mossoró
Por: Cláudio Palheta Jr. • 20/3/2016 • Monografia • 19.770 Palavras (80 Páginas) • 335 Visualizações
INTRODUÇÃO
Porque os jornalistas de impressos em Mossoró são como são? Porque fazem o que fazem e como fazem? Para responder estas e outras perguntas são possíveis inúmeras respostas, arqueadas em diversas perspectivas. Talvez a mais esquecida delas seja a que iremos tentar discutir nos próximos capítulos deste Trabalho de Conclusão de Curso. A estrutura econômica e social que cerca as redações e a precarização latente das condições de trabalho serão nosso ponto de partida para tentar entender por que os jornalistas de impressos se comportam e como se dá sua relação diária com a profissão. Durante esta pesquisa, buscou-se radiografar as três redações jornalísticas mossoroenses, observando seus aspectos, nuances, detalhes percebendo como se dá o campo de trabalho dos profissionais de Mossoró. Para isso, não foi suficiente a mera especulação, mas sim o acompanhamento da vivência diária dos jornalistas de Mossoró, observado em loco todas as suas reações diante da adversidade apresentada em seu ambiente laboral. Em suma, buscamos analisar o quanto as precárias condições de trabalho, os baixos salários e as coações políticas influenciam no trabalho do jornalista e de que forma se assemelham as relações de trabalho nas três redações jornalísticas da cidade.
Para realizar esta pesquisa, nos debruçamos no arcabouço intelectual do materialismo histórico, e em sua análise cabal sobre a constituição de uma sociedade que se divide em diferentes classes com diferentes interesses. Caracterizar o jornalista como um membro real da massa trabalhadora, aquela descrita por Marx e que vende sua força de trabalho em troca de quantias que objetivam a sobrevivência, é fundamental para darmos um start nesta discussão. A partir daí é feito um diálogo com uma gama de autores que bebem do materialismo histórico para entender as consequências desta relação precária nos indivíduos. Na perspectiva do jornalismo e da comunicação, seria impossível deixar de revisitar clássicos da pesquisa em sociologia profissional, a fim de dar cara a esse profissional, pensando uma série de outros estudos que já foram realizados sobre as redações e sobre o comportamento dos e das jornalistas. Utilizamos com ênfase da teoria organizacional do jornalismo, tentando entender o papel das organizações e as pressões que elas exercem para que o profissional seja como é e haja com tem agido. Seria incongruente avaliar, de maneira subjetiva, (assim como muitos teóricos da comunicação o fizeram) uma realidade que é extremamente semelhante em três redações diferentes.
A fim de fundamentar este trabalho começamos nossa análise com um breve histórico dos três jornais impressos de Mossoró, onde foram apresentadas as fases e as mudanças políticas e editorias que marcaram cada periódico, neste espaço também foi brevemente pincelada a estrutura de trabalho de cada jornal, a divisão por editorias, os cadernos especiais e a segmentação de tarefas dentro das empresas.
A partir daí dá-se uma discussão sobre o ofício jornalístico, o que faz deste indivíduo de fato em trabalho e que características marcantes distanciam tanto os profissionais da redação do sentimento de que são parte da classe trabalhadora. Tal discussão não se dá meramente a partir do debate nominal do que é trabalhador, mas também de um debate político acerca do modelo macroeconômico a qual toda a sociedade está inserida e que atinge em cheio os profissionais da redação.
Veremos toda uma análise numérica dos jornalistas de Mossoró, avaliando que cara tem esse jornalismo, de onde vem e qual é a sua idade. Tais informações são importantes para entender como se constitui as redações neste momento e quem são os agentes que serão observados no decorrer deste trabalho.
É fato que é impossível analisar os jornalistas com os mesmos critérios com que avaliamos outras categorias. É sabido que a classe trabalhadora constitui-se de um emaranhado de particularidades, que se cruzam a partir das opressões que o capitalismo lhes impõe, portanto é impossível analisar o jornalismo, e suas particularidades, com os mesmos óculos, que observamos outros setores de trabalhadores e trabalhadoras. Uma destas particularidades se da com a “Glamourização” do trabalho, fenômeno presente no jornalismo e que faz muitas vezes que o profissional se enxergue muito mais no mundo em que transita, dos altos salões do poder, da fama e requinte, do que no mundo em que suas condições objetivas e materiais (como o salário) lhe colocam. Esse falso sentimento de glamour é problematizado como uma motivação deste distanciamento do sentimento de classe.
Também serão observados os constrangimentos a qual os jornalistas são obrigados a vivenciar dentro das redações em que não só cerceiam a liberdade de imprensa, como adequam o trabalhador às condições precárias que lhe são impostas pelas empresas. Os constrangimentos são analisados um a um e comparados com a realidade observada nos impressos de Mossoró, destacando similaridades e diferenças. Tais constrangimentos também revelam um pouco do habitus do jornalista, seu modo de se relacionar com o meio e com os patrões.
O centro desse trabalho passa pela discussão acerca da precarização das condições de trabalho no jornalismo impresso de Mossoró. A partir de uma avaliação objetiva da situação das redações e do relato de profissionais acerca do dia-a-dia de trabalho empreende-se um debate político e social visando localizar o jornalista e trabalhador em meio à crise dos meios de comunicação. As agonias, dificuldades, humilhações e desrespeitos que os profissionais são impostos todos os dias em seu ambiente de trabalho são discutidas em paralelo com uma análise sobre as motivações que levam o trabalho jornalístico a ser tão precarizado e quem de fato ganha com isso. Nesta perspectiva é relevante analisar os segundos e terceiros empregos de jornalistas, fontes de sobrevivência para uma categoria que se acostumou aos atrasados de salários e não pagamento de direitos.
Atrelado a isso, vem a discussão acerca do assédio moral, prática corriqueira e violenta nos espaços de trabalho, que atinge uma série de trabalhadores e trabalhadoras das redações de Mossoró. Através de gritos, humilhações, piadas e xingamentos, mas também através da própria precarização das condições de trabalho e a suas imposições aos profissionais das redações. Faremos um recorte especial sobre o assédio moral que recai sobre as mulheres, por entender que qualquer tipo de violência que atinja a classe trabalhadora, vai atingir as mulheres de forma mais acentuada, já que vivemos em uma sociedade extremamente machista, que carrega consigo os traços do patriarcado.
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