Palavra Cantada, Fome Come e Representação Sígnica
Por: AlanisLG • 6/6/2015 • Trabalho acadêmico • 2.302 Palavras (10 Páginas) • 1.246 Visualizações
PALAVRA CANTADA, FOME COME E REPRESENTAÇÃO SÍGNICA
Gabriela de Lima Gonçalves
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Graduanda em Comunicação Social com habilitação em Midialogia
RESUMO
Tomando como base a visão semiótica descrita por Charles Sandres Peirce e sua tríade
(primeiridade, secundidade e terceiridade), o presente artigo se propõe a uma análise da
trajetória do grupo musical infantil Palavra Cantada, com uma análise semiótica detalhada de
um clipe específico (“Fome come”) produzido pelo TV Cultura em 1998. A partir da
ambivalência percebida para o sentido da palavra “fome”, discute-se sob uma perspectiva
semiológica a fome física, necessária para a sobrevivência, em contraposição com uma fome
mais abstrata, referente à carência de conhecimento.
PALAVRAS-CHAVE semiótica; Palavra Cantada; Peirce; representação.
INTRODUÇÃO
Sob uma visão semiótica calcada na vertente peirceana, dispus-me nesse artigo a
analisar um clipe musical produzido pela TV Cultura em 1998 através do trabalho do grupo
musical conhecido como Palavra Cantada1. Antes de qualquer coisa, faz-se necessária a
localização histórica e factual desse grupo, que nasceu com uma vontade de criar música
infantil de qualidade por parte de Sandra Peres e Paulo Tatit. Em entrevista concedida ao site
Midiativa em 2004, Tatit foi questionado sobre a posição da música infantil no cenário
brasileiro e a visível falta de qualidade da produção atual. Ele replicou dizendo que de fato
existe muita música infantil no Brasil. O problema é que a qualidade da mesma fica
comprometido pois “ás vezes, o músico que apenas compõe não vai adiante com a
composição para dar uma cara, para enxugar, depurar a música antes de mostrar ao público.”
(MIDIATIVA, 2004) Assim, em 1994 estava prestes a nascer o Palavra Cantada.
O primeiro CD da dupla teve como tema as Cantiga de Ninar, área da produção
infantil que estava bastante defasada segundo os músicos. Antes de atingir o sucesso em 1998
com o disco “Canções Curiosas”, já tinham lançado mais dois álbuns no mercado. Esse último
álbum, entretanto, chamou a atenção de emissoras de TV, particularmente a TV Cultura que,
no mesmo ano, produziu e colocou no ar diversos clipes da Palavra Cantada. E é exatamente
sobre um desses clipes que minha análise semiótica será calcada. Entendendo a infância como
época não só de “bicho alegre”, como Paulo Tatit chama mais pra frente na entrevista, mas
sim como época também de superações e frustrações, os clipes contêm em geral uma série de
signos que para pais mais atentos pode fazer deles uma espécie de síntese do que é ser
criança. Tatit foi ainda totalmente feliz em afirmar que “é preciso criar histórias mais fortes,
com uma verdade interior [dentro da televisão]”, porque muitas vezes o que vemos
representado é um monte de informações coloridas e caóticas que representaria uma alegria
vitalícia de infância que só existe perante uma visão nostálgica de um adulto. Criança também
pensa e compreende sinais. A partir disso, programas de TV ou clipes direcionados a elas tem
(ou pelo menos deveriam ter) uma vertente semiótica fortíssima relacionada ao signo, objeto e
interpretante.
1
Link para o clipe “Fome Come” que será analisado ao longo desse artigo:
www.youtube.com/watch?v=Q1Vaqk7hz1c
Ainda sobre o Palavra Cantada é possível perceber uma preocupação crescente em
fazer música infantil de qualidade, que, entretanto, represente o Brasil e as crianças
brasileiras, com todas as suas diversidades culturais e regionais. É por isso que em 1999, Tatit
e Peres iniciaram um projeto de reconhecimento e gravação de músicas infantis de diversas
regiões brasileiras, resultando em um trabalho posterior denominado “Canções do Brasil”, o
qual é até hoje uma referência em diversas escolas brasileiras. Para comprovar a estabilidade
do formato defendido pela Palavra Cantada, basta mencionar o fato de que em 2008, eles
atingiram o número impressionante de 2 milhões de discos vendidos2 e continuam até hoje,
após 19 anos, fazendo shows por todo o Brasil e marcando a infância de muitos brasileirinhos
e brasileirinhas país afora.
CLIPE E DISCUSSÃO
Começo esse tópico com uma frase que considero bem lúdica quanto ao que a música
e o clipe vão tratar. Ela foi escrita por Lúcia Santaella em seu livro “O Que é Semiótica” em
1983:
"Há duas espécies de fome: a da miséria do corpo, esta, mais
fundamental e determinante, visto que interceptadora de
quaisquer outras funções, necessidades e realizações humanas;
mas há também a carência de conhecimento,
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