Reflexão sobre os pressupostos teóricos da estética e da linguagem cinematográfica aplicados à crítica de cinema no filme Copie Conforme de Abbas Kiarostami
Por: Rita de Cássia Fumagalli • 4/10/2015 • Trabalho acadêmico • 1.826 Palavras (8 Páginas) • 375 Visualizações
Reflexão sobre os pressupostos teóricos da estética e da linguagem cinematográfica aplicados à crítica de cinema no filme Copie Conforme de Abbas Kiarostami.
Cópia Fiel – Abbas Kiarostami
A
pós lançamento do filme “Khane-ye Doust Kodjast”? (Onde é a Casa do Amigo? 1987), os filmes de Kiarostami passaram a ser presença constante em grandes festivais de cinema. Abbas Kiarostami se destaca por ser um cineasta difícil, que procura retratar em seus filmes a vida cotidiana de uma forma pouco convencional e normalmente pratica em seus filmes um cinema da curiosidade, o que ele nos pede como espectadores é a capacidade de imaginar, de completar aquilo que ele sugere e instiga em seus filmes.
Outra característica marcando nos filmes de Kiarostami é a predominância de cenas de paisagens, de belas paisagens onde se busca o registro de como as pessoas vivem e Abbas procura captar esta vida, este mundo, a forma como as pequenas coisas vão influindo em cada cena que é apresentada, talvez essa seja a grande essência no tipo de cinema feito por esse diretor iraniano, tão prestigiado elogiado e premiado.
É assim que se constroem os momentos mágicos em Cópia Fiel, um filme que nos mostra as belas paisagens da Toscana, uma das mais belas regiões do mundo, registro de pássaros contando, sinos que badalam vistas perfeitas de partes da Itália como as construções Históricas, espaços tradicionais de arte, cafés, que nos remetem a outra colocação no tempo.
Cópia Fiel inicia com um ambiente simples, um plano detalhe, dois microfones, uma mesa com uma garrafa de água e dois copos, alguns papéis (uma pasta) e um exemplar do livro “Copie Conforme”, quando inicia ninguém fala é possível apenas escutar o “Zunzunzum” do público que aguarda, até que o silêncio é quebrado por um senhor que diz algumas palavras e brinca com o atraso do escritor James Miller. Após o atraso, James entra em quadro e pede desculpas pelo atraso, agradece a atenção que o público dá a seu livro colocando em evidência a polêmica defendida no mesmo: “A cópia de uma obra de arte possui o mesmo valor que a obra original? O fato do produto não ser autêntico não implica em sua desvalorização”.
Aos 4 minutos e 20 segundos do filme, uma mulher atravessa o quadro e se senta na primeira fileira, o fato dessa mulher sentar-se na primeira fileira ocupando um assento escrito reservado nos remete a pergunta: Será que eles se conhecem?. Mas James em nenhum momento se abala com o olhar curioso de Elle (Binoche)
Aos 5 minutos entra no quadro um menino. Elle (Binoche) não pode ficar porque seu filho adolescente a força a sair. Um momento interessante é a hora em que Elle (Binoche) anota alguma coisa e entrega para o Senhor que está ao seu lado, talvez esteja nesse papel o segredo da visita de James a sua galeria de arte aos 15 minutos do filme.
Outro ponto marcante, o momento em que o menino Julien percebe o interesse da mãe, que não é apenas pelo livro que comprou de James, mas sim no autor, Elle (Binoche) foge do assunto e discute com o filho.
O menino Julien estava certo, após o encontro na galeria de artes Elle (Binoche) e James caem na estrada, nesse momento é possível perceber o barulho dos sinos tocando,os dois saem, forma-se um plano de Conjunto, pois aparecem os dois personagens e quase nada de detalhes do lugar onde estão apenas reflexos das paredes das casas e prédios no rosto dos personagens e a imagem de fundo, não tão nítida, da rua que vai ficando para trás.
Elle (Binoche) e James andam sem rumo, ele não sabe para onde ir, admite gostar de ficar dirigindo à toa e apreciando a vista. As expressões de Elle (Binoche) enquanto ele fala ficam evidentes em sua face com o uso constante de Close na maioria das cenas em que estão juntos. Os dois começam uma discussão entre o irônico e o azedo e sobre os conceitos do livro. “Aos 26 minutos do filme Elle (Binoche) menciona sobre o marido de sua Irmã, o considera como o homem mais simples do mundo, o fator mais importante: “ele gagueja”, Elle (Binoche) o imita: “Ma-ma-ma-ma-marie!”e afirma: “Para ela, ele é como uma canção de amor”. Esse detalhe pode ser considerado como a fala mais importante do filme, porque nos faz entender o diálogo da última cena, ou melhor, o final do filme, onde Elle (Binoche) pede para James ficar e James avisa-a que precisa estar na estação às 21hs, Elle (Binoche) gagueja o nome de James, como o marido “simples” da sua irmã fazia: (1h: 41s do filme) “Já-já-já-já-james”, é possível perceber com esta cena que o filme está todo interligado na sua linguagem, Elle (Binoche) na cena final do filme, utilizou-se da linguagem que utilizara aos 26 minutos sobre o marido da sua irmã, é como se ela transmitisse a mensagem para James “Eu saboreio o seu nome, seu nome é uma canção de amor para mim, você é importante, você é original, você é como o marido de Marie não precisa mudar” Parece que o gaguejar é utilizado nesse momento para substituir as palavras “Eu te amo James e você é importante para mim”.
O plano do filme muda durante o passeio de carro entre os dois, o plano que observamos agora é o plano geral, além dos dois personagens, nos é apresentado às belas paisagens da Toscana.
Aos 40 minutos do filme tudo começa mudar, num pequeno restaurante, James conta para Elle (Binoche) como teve a idéia para o livro que acaba de publicar, a história que James conta apresenta coincidências com a vida de Elle (Binoche) e isso os aproxima e os afasta ao mesmo tempo. Quando, a dona do restaurante pensa que formam um casal e cheia de experiência, admira e elogia a dupla com alguma sabedoria de vida. Elle (Binoche) ao invés de contar a verdade, cria uma história sobre um casamento de quinze anos, no momento em crise, James embarca na fantasia também e então os dois começam a viver em um jogo de encenações e fantasias. Nesse momento já não é possível, como espectadores, distinguir realidade de encenação.
Aos 57 minutos ocorre uma transformação no personagem James, que, antes era apenas o escritor e agora passa a representar o papel de marido e pai desatento e ausente, de forma tão verídica e fascinadora que é difícil não acreditar na personagem, James parece interagir e vivenciar toda aquela ficção.
È possível perceber que ocorre uma mudança constante no idioma falado pelos personagens, uma passagem do Inglês ao Francês ao Italiano de modo muito natural, mas que pode passar ao espectador uma impressão de que tudo é uma farsa.
O simples fato de James não querer tirar uma foto de casamento junto a outros casais reme a impressão de ser um casamento falso, porém o ator acaba
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