A Evolução da Hermenêutica ao Longo da História
Por: myriamlibel • 18/7/2022 • Trabalho acadêmico • 1.859 Palavras (8 Páginas) • 298 Visualizações
A Evolução da Hermenêutica ao longo da História
Sérgio Carlos Carniel
Faculdade Anchieta de Ensino Superior do Paraná, PR
RESUMO
Este trabalho procura apontar como as teorias sobre a interpretação de textos e a abordagem compreensiva desenvolvidas na Alemanha em meados do século XIX encontram-se na gênese da constituição de uma metodologia para a história. No momento em que a ciência histórica fundamentava-se epistemologicamente, ao realizar a crítica das filosofias da história, do idealismo hegeliano e dos modelos nomológicos aplicados ao estudo do passado, a hermenêutica surgiu como a pedra angular na construção do método. Compreendida como uma arte e técnica de interpretação correta de textos, a hermenêutica remonta aos gregos, hermeneuein, e tem o sentido de 'interpretar', 'explicar' de uma forma geral a passagem textual em questão, tentando nela encontrar a alegoria presente. Associada ao deus grego Hermes, que traduzia tudo o que a mente humana não compreendesse, sendo chamado de “deus-intérprete”. Friedrich Ernst Daniel Schleiermacher.
Teve grandes aperfeiçoamentos na tradição judaico-cristã, com a tradução e a exegese dos textos bíblicos redigidos em aramaico, hebreu e grego.
A partir do Renascimento sofreu sensíveis transformações dividindo-se em três especialidades: hermenêutica filosófica-filológica, teológica e jurídica.
Friedrich Ernst Daniel Schleiermacher, o "pai da hermenêutica moderna", conviveu muito proximamente com os membros do grupo de Jena, principalmente com Friedrich Schlegel, em defesa do qual saiu quando das acusações de obscenidade feitas ao autor de Lucinde (1799), o romance-ensaio de Schlegel.
PALAVRAS-CHAVE: hermenêutica, evolução histórica da hermenêutica, teoria da história, metodologia da história, compreensão.
INTRODUÇÂO
Entendemos que os esforços empreendidos na tradução, publicação e interpretação de grandes séries documentais na Alemanha e na França serviram para aperfeiçoar as técnicas existentes. Naquele momento, não somente textos greco-latinos foram relidos e traduzidos, mas também grandes obras literárias redigidas em outras línguas. Assim, inspirando-se em procedimentos largamente utilizados pelos hermeneutas, pelos tradutores e pelos antigos filólogos, pode-se vislumbrar o aperfeiçoamento do método histórico.
Através do método histórico verifica-se a presença decisiva de reflexões e técnicas hermenêuticas, algo patente na leitura da obra de Dilthey, no Grundir der Historik de Johann Gustav Droysen, 1882 em Leipzig. O manual ou versão sintética começou a circular restritamente como notas para suas aulas desde 1858 e na Introduction aux études historiques de Charles-Victor Langlois e Charles Seignobos publicada em 1898 em Paris. E esta herança encontra-se explicitada em diferentes manifestações destas escolas históricas e mesmo nos Annales. É indício seguro que Marc Bloch e Lucien Febvre trouxeram para a historiografia francesa elementos consideráveis desta tradição germânica, depois de sua passagem por Estrasburgo.
A percepção da ponte entre a produção epistemológica alemã com a francesa apareceu pela primeira vez na obra de Raymond Aron, em 1938 e, depois, na Inglaterra com Collingwood. Ao final do século XIX observava-se um duplo movimento: de definição da ciência da história e de aperfeiçoamento das técnicas de pesquisa existentes. Ao contemplar a hermenêutica, retomando alguns de seus pressupostos mais elementares em Schleiermacher, Droysen e Dilthey, permite-nos constatar a contribuição deste campo à história, sua influência junto à escola histórica alemã.
Meinecke afirma que depois da Reforma, o historicismo teria sido a grande revolução intelectual alemã; desconsiderando, como se vê, a importância do idealismo kantiano e hegeliano. Porém, tudo está conectado: o estudo crítico das fontes autênticas, a concepção imparcial, a exposição objetiva;
Dilthey, dialogando com Vico reiteraram que “a primeira condição de possibilidade da ciência da história consiste em "eu mesmo sou um ser histórico, e aquele que investiga a história é o mesmo que a faz" (DILTHEY apud GADAMER, 1998, v.1, p. 300). Ou seja, a razão só pode existir como real e histórica, pois “não é a história que pertence a nós, mas nós que a ela pertencemos” (TESTA 2000, p. 55).
OBJETIVO
O objetivo do presente estudo é dar uma síntese sobre a evolução da hermenêutica ao longo da historia. O historiador busca nas manifestações históricas e pesquisa sobre o seu interior, e pretende reconstruir o particular a partir do todo, do qual ele emerge e, inversamente, o todo a partir do particular, no qual ele se expressa (GRONDIN, 2003, p. 143). As vivências tomam consciência de si mesmas, ao reconhecer o outro, de modo que o nexo histórico constitui-se de sentido que supera o horizonte vivencial do indivíduo, exigindo a compreensão e a alteridade. O conceito de vivência representou para Dilthey a base psicológica de sua hermenêutica, complementado pela distinção entre a expressão e significado, afinal, não se conhece o passado por meio de conceitos, mas através da consciência histórica, das vivências históricas particulares. Citando Goethe, pondera: uma pessoa que não pode ser apreendida claramente, porque a incongruência entre o seu anseio e as suas obras, 74 OPSIS, vol. 7, nº 9, jul. 2007 entre as suas exigências perante a vida e o seu poder para realmente a determinar, se reflete em tantos matizes que o observador fica cego ( GOETHE apud DILTHEY, 2002, p. 129). A discussão volta-se para o problema da consciência histórica, tratado por Hegel e por Dilthey, como um processo de constante crescimento da autoconsciência, como uma constante ampliação do horizonte da vida (GADAMER, 2002, v.2, p. 43-44). Nesse sentido, a consciência histórica representaria o fim da metafísica. Diz Gadamer: escutar a tradição e situar-se nela é o caminho para a verdade, a qual se encontra nas ciências do espírito. No manual de Langlois e Seignobos, Introdução aos estudos históricos, também se torna patente a presença da hermenêutica. Logo nas primeiras páginas, vê-se a tentativa de minimizar a influência de Droysen, ao considerar que os únicos trabalhos publicados que “revelam um esforço original para abordar os verdadeiros problemas” do método histórico são os de Fresnoy e de Chladenius, dizendo que Droysen seria apenas pesado e gongórico, (LANGLOIS; SEIGNOBOS, 1946, p. 09) e na seção II intitulada Crítica Interna, abordam o que denominam de crítica de interpretação ou hermenêutica. Afirmam que “analisar um documento é discernir e isolar todas as idéias expressas pelo autor”.
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