A Vida Dos Filósofos
Tese: A Vida Dos Filósofos. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: • 5/11/2013 • Tese • 2.718 Palavras (11 Páginas) • 282 Visualizações
Os Pré-socráticos
Os primeiros filósofos gregos são geralmente conhecidos por pré-socráticos, apesar de isto ser enganador: nem todos viveram antes de Sócrates, e, em qualquer caso, não constituíram uma escola coerente; na verdade, a maioria deles não constituíram sequer indivíduos coerentes.
Ninguém sabe por que começou a filosofia quando começou; o especialista instantâneo ambicioso com inclinações marxistas pode tentar oferecer uma explicação em termos de uma dialéctica inexorável de forças históricas, mas nós não o recomendamos. Uma característica notável de muitos pré-socráticos é a sua tentativa de reduzir os constituintes materiais do Universo a uma ou mais Substâncias básicas, tais como a Terra, o Ar, o Fogo, as Sardinhas, os Gorros de Lã Velhos, etc.
Tales de Mileto (c. 620-550 a.C.) foi o primeiro filósofo reconhecido. Poderão ter existido outros antes dele, mas ninguém sabe quem foram. Ele ficou conhecido principalmente por defender duas coisas:
Tudo é feito de Água; e
Os ímanes têm alma.
O leitor poderá pensar que não foi um princípio muito prometedor.
Aximandro (c. 610-550) pensava que tudo era feito do Apeiron, uma concepção que tem um certo encanto espúrio, até percebermos que não quer realmente dizer coisa alguma.
Anaxímenes (c. 570-510) aventurou-se corajosamente numa direcção completamente nova, apesar de não menos arbitrária, ao afirmar que na realidade tudo era feito de Ar, uma perspectiva talvez mais plausível na Grécia do que, por exemplo, no Barreiro.
Heraclito (c. 540-490) discordou, defendendo antes que tudo era feito de Fogo. Mas ele avançou um passo mais, afirmando que tudo estava num estado de fluxo e que tudo era idêntico ao seu oposto, acrescentando que não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, e que não existe qualquer diferença entre o Caminho a Subir e o Caminho a Descer, o que mostra que nunca foi ao Bairro Alto numa sexta-feira à noite. Vale por vezes a pena referir de passagem (o que constitui sempre a melhor maneira de nos referirmos ao que quer que seja em filosofia) a «Metafísica de Heraclito», para falar da sua doutrina do fluxo, desde que não tenhamos de explicar seja o que for. Heraclito era muito admirado por Hegel (q.v.), o que nos diz talvez mais sobre Hegel do que sobre Heraclito.
Pitágoras (c. 570-10), como qualquer aluno da primária sabe, inventou o triângulo rectângulo; na verdade foi mais longe, ao acreditar que tudo era feito de números. Acreditava também numa forma extrema de reincarnação, defendendo que uma larga gama de coisas improváveis, incluindo os arbustos e os feijões, têm alma, o que tornava a sua dieta bastante problemática, acabando por ser indirectamente responsável pela sua bizarra morte (q.v.).
Empédocles (c. 500-430), um notável médico e político siciliano do século V, completamente doido (veja-se Mortes para mais detalhes), pensava que tudo era feito de Terra, Ar, Fogo e Água, misturando-se ou separando-se tudo através do Amor e da Discórdia, ganhando cada um, à vez, a proeminência no ciclo do eterno retorno, espelhando assim o cosmos, em grande escala, o casamento suburbano típico.
Depois vêm os eleatas, Parménides (520-430) e Melisso (480-420), que foram ainda mais além. Em vez de afirmarem que tudo era na realidade feito de uma substância, defenderam antes que na realidade só havia uma única Coisa, grande, esférica, infinita, imóvel e imutável. Toda a aparência de variedade, movimento, separação entre objectos, etc., era uma Ilusão. Esta teoria extraordinariamente contra-intuitiva (por vezes conhecida por Monismo, da palavra grega «mono», que quer dizer «dispositivo antiquado de gravação») revelou-se surpreendentemente popular, sem dúvida por estar de acordo com a experiência que as pessoas têm com algumas instituições, como os Correios e a EDP.
O seu sucessor, Zenão (500-440), avançou um conjunto de argumentos paradoxais para mostrar que nada pode mover-se. Aquiles e a Tartaruga são ainda discutidos, tal como a Flecha: argumentou ele que esta não podia realmente mover-se, o que, a ser verdade, teria sido uma boa notícia para S. Sebastião. Os argumentos tratam de saber em grande parte se o Espaço e o Tempo são infinitamente divisíveis, ou se um deles, ou ambos, é feito, ou são feitos, de quanta indivisíveis — mencione isto para dar a Zenão um ar moderno; se lhe pedirem explicações, mude de assunto.
Os últimos dos pré-socráticos são os atomistas Demócrito (c. 450-360) e Leucipo (450-390). Diz-se por vezes que eles anteciparam a teoria atómica moderna. Isto é completamente falso, e o especialista instantâneo ganha alguns pontos ao dizê-lo, pela simples razão que o que há de crucial nos átomos democritianos é a sua indivisibilidade, ao passo que o que há de crucial nos átomos modernos é o facto de não serem indivisíveis. O leitor pode também fazer notar que Demócrito não gostava de sexo, apesar de não se saber se tal se devia a razões teóricas ou a algum infeliz revés pessoal.
Veja também: Heráclito e Parmênides.
Sócrates e Platão
É tudo quanto aos pré-socráticos; vamos agora ao próprio homem que lhes deu o nome, Sócrates (469-399). Sócrates não escreveu coisa alguma: dependemos de Platão no que respeita a qualquer informação sobre ele, e é uma vexata quaestio (uma boa expressão) saber até que ponto Platão reproduziu as ideias de Sócrates, ou se limitou unicamente a usar o seu nome. Não se deixe enredar nesta questão: uma boa manobra é afirmar, com um certo desdém arrogante, que o que conta é o conteúdo filosófico, e não a sua origem histórica.
Platão (427-347) acreditava que os objectos comuns do quotidiano, como as mesas e as cadeiras, eram meras cópias «fenoménicas» imperfeitas de Originais perfeitos que existiam no Céu para serem apreciados pelo intelecto, as chamadas Formas. Também há formas de itens abstractos tais como a Verdade, a Beleza, o Bem, o Amor, os Cheques Carecas, etc. Esta posição trouxe algumas dificuldades a Platão: se tudo o que vemos, sentimos, tocamos, etc., deve a sua existência a uma Forma Perfeitamente Boa, têm de haver Formas Perfeitamente Boas de Coisas Perfeitamente Horríveis. O próprio Platão menciona o cabelo, a lama e a sujidade; mas nós podemos pensar em exemplos muito melhores, tais como peúgas brancas com sapatos pretos, caramelos de Badajoz e galos de Barcelos.
Platão parece ser imensamente sobrestimado como filósofo; se não acredita em mim, veja o seguinte argumento tipicamente platónico, tirado do Livro II da República:
Aquele que distingue as coisas com base no conhecimento (presumivelmente, em vez de ser com base no mero preconceito) é um filósofo;
Os cães de guarda distinguem as coisas (neste caso, os visitantes) consoante os conhecem ou não (esta é uma verdade cara aos carteiros); ergo
Todos os cães de guarda são filósofos.
Experimente usar de vez em quando este argumento, para ver como se sai.
Outra manobra útil de aproximação a Platão é argumentar uma das duas ideias seguintes:
que ele era um feminista;
que não era.
Ambas as afirmações podem ser sustentadas e acabar por revelar-se úteis (em ocasiões diferentes, claro). O indício para 1) é o facto de Platão afirmar no Livro 3 da República que as mulheres não devem ser discriminadas em questões de emprego unicamente por serem mulheres. A favor de 2) é o fato de, imediatamente a seguir, Platão comentar que uma vez que as mulheres são por natureza muito menos talentosas do que os homens, esta «liberalização» não faz de qualquer maneira diferença alguma.
Aristóteles
Depois de Platão vem Aristóteles (382-322), por vezes conhecido como o Estagirita, que ao contrário do que pode parecer não é o embrião de um estagiário, mas um nativo de Estagira, na Macedónia. Foi aluno de Platão e esperava suceder-lhe como director da Academia. Sentiu-se, por isso, ultrapassado quando Espeusipo (não é necessário saber seja o que for sobre ele) ficou com o lugar, abandonando ofendido a Academia para fundar a sua própria escola, o Liceu — que não deve ser confundido com o lugar misterioso onde os nossos pais perderam a inocência.
Aristóteles era estupidamente brilhante. Desenvolveu a Lógica (na verdade, inventou-a), a Filosofia da Ciência (que também inventou), a Taxonomia Biológica (sim, também foi inventada por ele), a Ética, a Filosofia Política, a Semântica, a Estética, a Teoria da Retórica, a Cosmologia, a Meteorologia, a Dinâmica, a Hidrostática, a Teoria da Matemática e a Economia Doméstica. Não é aconselhável dizer seja o que for que não seja elogioso em relação a ele, mas o especialista instantâneo atrevido pode aventurar-se a lamentar a inclinação excessivamente Teleológica da sua Biologia, ou comentar que apesar de a sua teoria lógica ser um feito notável, ela foi no entanto, como é óbvio, ultrapassada pelos desenvolvimentos modernos devidos a Frege e Russell (q.v.). Mas tenha cuidado com estas afirmações, e nunca as produza se estiver a falar com um matemático, mesmo que este seja muito novo. Uma linha de abordagem muito mais segura consiste em depreciar moderadamente os aspectos mais caricatos da Biologia de Aristóteles, dos quais o seguinte argumento sobre a estrutura dos genitais das cobras é um exemplo:
As cobras não têm pênis porque não têm pernas; e não têm testículos por serem tão compridas. (De Generatione Animalum)
Aristóteles não oferece qualquer argumento para sustentar a sua primeira alegação, a não ser a suposição geral a que somos conduzidos de que caso contrário o órgão em causa seria penosamente arrastado pelo chão; mas a segunda deriva da sua teoria da reprodução. Para Aristóteles, o sémen não é produzido nos testículos, mas na espinal medula (os testículos funcionam aparentemente como uma espécie de sala de espera do esperma vagabundo); além disso, o sémen frio é estéril, e quanto mais tiver de viajar, mais arrefece (daí o facto conhecido, comenta ele, de os homens com pênis compridos serem estéreis). Assim, uma vez que as cobras são tão compridas, se o sémen parasse algures no caminho, as cobras seriam estéreis; mas as cobras não são estéreis; logo, não têm testículos. Este esplêndido argumento é um exemplo de Teleologia Excessiva, ou de uma explicação em termos de fins e objectivos, que neste caso põe na verdade tudo de pernas para o ar.
Depois de Aristóteles a filosofia fragmentou-se cada vez mais. Fundaram-se várias escolas rivais para complementar, e desancar, as já existentes Academia e Liceu. As grandes novidades do princípio do século III a.C. são os estóicos, os epicuristas e os cépticos.
Veja mais: Platão X Aristóteles.
Estóicos, Epicuristas, Cépticos, Cínicos e Neoplatônicos
Os estóicos acreditavam perversamente numa Providência Divina que tudo abarcava, apesar de todos os dados em contrário, tais como a ocorrência de desastres naturais, o triunfo das injustiças e a existência de hemorróidas. Crisipo, talvez o mais proeminente, e sem dúvida o mais palavroso dos estóicos, argumentou que as pulgas tinham sido criadas por um Providente Benevolente para não deixar as pessoas dormir de mais. Os estóicos contribuíram também com alguns desenvolvimentos importantes na teoria da lógica, o que lhes permitiu formular alguns tipos de argumentos que tinham escapado a Aristóteles. Mas o especialista instantâneo não deve preocupar-se muito com isso.
Os epicuristas, assim chamados em nome do seu fundador, Epicuro (342-270) defendiam que o nosso Fim era o prazer, consistindo este na satisfação dos desejos, o que era um bom começo. Mas depois deram a volta às coisas, afirmando que isto não significava que ter muito prazer era uma coisa boa; pelo contrário, uma pessoa devia limitar o número dos seus desejos, para que assim não acabasse por ficar com muitos desejos por satisfazer — um projecto que tem como consequência uma vida miseravelmente chata (e que, a ser cumprido, implicaria a completa reestruturação das fantasias do adolescente típico). Este ponto de vista é lógico, e ainda mais divertido, e, é claro, completamente oposto àquela ideia da filosofia como a procura do Inefável e do Inatingível — a União Mística com o Criador, a Empatia Total com o Cosmos, ou uma Noite com a Claudia Schiffer. Assim:
Por prazer entendemos a ausência de dor física e mental. Não se trata de beber, nem de festas orgiásticas, nem da satisfação com mulheres, rapazes ou peixe. (Extraído de Carta a Menécio)
Não sabemos aonde foi ele buscar a ideia do peixe, mas asseguramos-lhe que está no texto. A outra característica importante do epicurismo era a sua versão da Teoria Atómica, que era como a de Demócrito, excepto que, para preservar o Livre Arbítrio, os epicuristas defendiam que de vez em quando os átomos davam uma guinada imprevisível, causando colisões, mais ou menos como os motociclistas acelerados das cidades. Defendiam também que apesar de os deuses existirem, se estão nas tintas para os homens porque têm mais que fazer.
A outra grande escola deste período, os cépticos, não acreditavam em nada. O seu fundador, Pirro de Elis (c. 360-270), não escreveu quaisquer livros (presumivelmente porque não acreditava que alguém os leria, se acaso os escrevesse), apesar de alguns cépticos posteriores — inutilmente, poderemos pensar — o terem feito, sendo de notar Tímon, que escreveu um livro de sátiras chamado Silloi, Enesidemo e Sexto Empírico. A linha de argumento principal consistia em afirmar que nenhum dado dos sentidos era digno de confiança, apesar de poder ser agradável, e que, consequentemente, ninguém podia ter a certeza fosse do que fosse. Na verdade, ninguém podia ter a certeza que não se podia ter a certeza fosse do que fosse. Para sustentar esta ideia, ofereceram algumas versões do Argumento da Ilusão, que Descartes iria usar mais tarde.\
Diz-se que o cepticismo de Pirro era tal que os amigos tinham de o impedir, repetidamente, de cair nos precipícios e nos rios e de caminhar de encontro a carros em andamento, o que não devia dar-lhes qualquer descanso, apesar terem sido aparentemente muito eficientes, pois morreu com uma idade bastante avançada. Diz-se que visitou os gimno-sofistas indianos, ou «filósofos nus», assim chamados devido ao hábito de fazerem seminários em pêlo. Uma vez ficou tão irritado com as perguntas insistentes que lhe dirigiam em público que se despiu completamente (talvez por influência dos gimno-sofistas), mergulhou no ilusório Rio Alfeu, e nadou vigorosamente para longe, uma táctica que o especialista instantâneo fortemente pressionado pode considerar imitar.
Havia mais algumas escolas menores que tentavam alcançar a ribalta, nomeadamente os cínicos, que eram os mestres do comentário sarcástico, e uma desgraça se apareciam para jantar. Um deles, Crates, era conhecido por irromper nas casas das pessoas para as insultar. O cínico mais famoso foi Diógenes, que vivia numa barrica para fugir aos impostos, e que ficou conhecido por ter uma vez dito a Alexandre Magno, com uma certa aspereza, para lhe sair da frente para não lhe tapar o sol. Costumava também escandalizar as pessoas por comer, fazer amor e masturbar-se em locais públicos, quando e onde lhe dava vontade.
Pode ser útil fingir um certo afecto pelos cínicos: estavam-se completamente nas tintas para o que as outras pessoas pensavam deles, sendo por isso modelos da Temperança Filosófica, ou idiotas chapados, dependendo do seu ponto de vista. É irrelevante o ponto de vista adoptado, mas certifique-se de que adopta um qualquer.
A filosofia vagueou no mundo greco-romano sob da protecção imprevisível dos imperadores romanos, cujas atitudes para com os filósofos variavam consideravelmente. Marco Aurélio, por exemplo, foi ele próprio um filósofo; Nero, por outro lado, matava-os. A influência do cristianismo começou a fazer-se sentir neste período, e a filosofia sofreu com isso.
Agostinho, que por qualquer razão bizarra se tornou um santo, apesar da sua pródiga vida sexual e da sua famosa oração a Deus («faz-me casto — mas ainda não») teve algumas ideias interessantes: antecipou o Cogito de Descartes (penso, logo existo; refira-se sempre a isto como «o Cogito»), e desenvolveu uma teoria do tempo segundo a qual Deus está fora da corrente temporal de acontecimentos (sendo Eterno e Imutável, não tinha outra saída), o que quer dizer que o Todo-Poderoso nunca sabe a que horas são as coisas, mais ou menos como os maquinistas da CP.
Havia também os neoplatônicos, alguns dos quais eram cristãos, enquanto outros não, mas cujos nomes parecem todos começar por P. Os que eram cristãos dedicavam-se a mostrar que Platão tinha na realidade sido cristão, uma ideia que exige uma reorganização temporal surpreendente, para não dizer implausível. Os neoplatónicos tinham a tendência para falar de Coisas Abstractas com Letras Maiúsculas, tais como o Uno e o Ser, de uma maneira que ninguém percebia. Isto não é um problema exclusivo deles: Heidegger fez o mesmo, mas é claro que ele era alemão, e isso é o tipo de coisa que se espera de um alemão. Encontrará talvez pessoas que cultivam alguma admiração por esta gente; não hesite em afastá-los sumariamente, especialmente Plotino, Porfírio e Proclo, apesar de poder admitir relutantemente que o último tinha umas ideias interessantes sobre Causas.
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