A crise na Educação
Por: sicristina • 12/9/2017 • Resenha • 1.333 Palavras (6 Páginas) • 437 Visualizações
A Crise na Educação
Hannah Arendt, no início do seu texto faz uma comparação entre a crise na educação e as guerras e outros problemas enfrentados no mundo, caracterizando assim, tal crise como fato político, nessa perspectiva é difícil dar a devida importância a uma crise na educação.
Somos levados a crer que os problemas ocorrem sempre em outros países, que em nosso país será diferente “... qualquer coisa que seja possível em um país pode, em um futuro previsível, ser igualmente possível em praticamente qualquer outro país.” (ARENDT, p.222).
Uma crise nos dá a oportunidade de uma nova percepção dos fatos, e a essência da crise na educação passa pela questão da natalidade, visto que os seres humanos “... nascem para o mundo.” (ARENDT, p.223).
A crise na educação pode afetar todo mundo, a ênfase de tratar tal crise com conotação política, toma como referência a educação nos Estados Unidos, visto que a América é uma terra de imigrantes. A escola passa então a cumprir um papel que em outros países fica a cargo da família – o ensino da língua materna. Isso se dá para que ocorra o que Arendt denomina como “americanização dos filhos de imigrantes.” (ARENDT, p.223).
Ao relacionarmos política e educação, é preciso haver uma separação entre a educação e a atividade política. A educação não pode desempenhar um papel na política, pois, “... na política lidamos com aqueles que já estão educados.” (ARENDT, p, 225).
A conclusão é que para um estado possa instaurar uma nova ordem política mediante o uso da educação, é preciso concentrar seus esforços nas gerações mais novas. O que seria uma “... conclusão platônica: o banimento de todas as pessoas mais velhas do Estado a ser fundado.” (ARENDT, p. 225). O problema é que do ponto de vista das gerações mais novas, tudo que o mundo adulto propõe, já é mais velho que eles mesmos.
O que torna a crise educacional na América tão aguda é a tentativa de igualar ou apagar as diferenças, particularmente entre alunos e professores, isso só ocorre “... à custa da autoridade do mestre.” (ARENDT, p. 229)
A relação entre crianças e adultos, a formação dos professores e o pragmatismo em relação ao processo de ensino também são abordados como algo que contribui para a precipitação da crise na educação.
Os adultos ao abrirem mão de sua autoridade sobre as crianças estão sujeitando-as a uma autoridade mais “tirânica” de seu próprio grupo, o que acaba por conduzi-las a dois sentidos extremos, “... ou o conformismo ou a delinquência juvenil e frequentemente é uma mistura de ambos” (ARENDT, p. 231).
Ainda a Pedagogia transformou-se em uma ciência de ensino em geral, afastando-se das matérias específicas, daquilo que efetivamentente deve ser ensinado. O que resultou em um grande descuido na formação dos professores em suas próprias matérias, que culminou com “... os estudantes são efetivamente abandonados a seus próprios recursos.” (ARENDT, p. 231). Cada vez mais o professor foi deixando de ser autoridade em termos de conhecimento técnico.
E mais: o pragmatismo cuja concepção de educação está pautada em habilidades, no saber fazer. A ideia seria de que o professor ao invés de transmitir conhecimento devia sim inculcar habilidades.
A autora afirma que esses três pressupostos carregam em si um caráter destrutivo e que foi a partir do seu reconhecimento que se intentou reformar totalmente o sistema educacional nos E.U.A. Com isso busca-se uma modificação do currículo ao qual as próprias crianças estão submetidas e até mesmo o currículo que tem pautado a formação dos próprios professores, para não “... se converterem em negligentes para com as crianças” (ARENDT, p.234).
Feita esta observação, a intenção do texto de Hannah Arendt é o de tentar revelar os aspectos do mundo moderno – e de sua crise- que se revelaram na crise da educação e o que, de fato, se pode aprender em meio a esta condição crítica.
Na terceira parte de sua exposição sobre a crise na educação, Arendt reforça a importância da educação para a sociedade humana, ressalta a característica sempre inacabada da educação na medida em que sua renovação se faz necessária através “... da vinda de novos seres humanos.” (ARENDT, p. 234). Por isso a educação não pode jamais ser entendida como algo dado e pronto, acabado, mas tem de ser continuamente repensada em função das transformações do mundo.
A figura deste novo ser humano - a criança, é um ser em processo de formação, aí a importância da família, na figura dos pais que devem ao mesmo tempo proteger a criança do mundo e assumir através da educação a responsabilidade de proteger o mundo da criança, “... para que não seja derrubado e destruído pelo assédio do novo.” ( ARENDT, p.235).
As paredes da casa, os limites do lar, surgem então como proteção da criança. A vida em si para se desenvolver necessita de condições mínimas de segurança. Se por um lado a educação moderna pretende construir “um mundo de crianças”, por outro retira condições necessárias ao desenvolvimento e crescimento da própria vida. O que se percebe é um choque entre a realidade de dois mundos: o público e o privado. Mesmo assim, a distinção entre ambas as realidades é importante para o desenvolvimento da criança, para que não haja nenhum tipo de distúrbio ou desequilíbrio.
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