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As redes sociais como uma ferramenta de processamento da consciência coletiva

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Por:   •  2/11/2013  •  Seminário  •  1.116 Palavras (5 Páginas)  •  412 Visualizações

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AS REDES SOCIAIS COMO INSTRUMENTO DE MANIPULAÇÃO DA CONSCIÊNCIA COLETIVA

em questões sociais por joão carlos figueiredo em 06 de jul de 2013 às 13:04

O advento das redes sociais já foi tema de livros, filmes e debates, pelo seu papel transgressor de comportamentos, e de protagonista das ações sociais em situações de crise ou de instabilidade institucional. Esse recurso tecnológico introduziu um novo modelo de intervenção social, de profundo significado para a organização social e política de países, democráticos ou não, embora para os primeiros essa manifestação se processe sem culpas e sem punições. O propósito desse artigo é discutir a tempestividade dessa ferramenta, e sua apropriação pelos atores sociais, adquirindo recursos tradicionais de análise como arcabouço intelectual para seu suporte, e de profundo impacto para as transformações que presenciamos na sociedade contemporânea.

Ainda que sem esse propósito, as redes sociais ofereceram, de imediato, um instrumento de enorme penetração e sem ônus para seus usuários, e certamente seriam utilizadas para quaisquer fins que se pretendesse: divulgação e comercialização de produtos e serviços, debates e propagação de ideias, publicação de fotografias, músicas, filmes, livros e textos, criação e veiculação de enquetes, uso de jogos eletrônicos, agendamento, divulgação e controle de participação de pessoas em eventos, publicação de curriculum vitae, agenda de aniversariantes, comunicado de fatos pessoais e públicos relevantes, intercâmbio de mensagens, formação de grupos de interesse, construção e gerenciamento de redes sociais privadas, integração de sistemas de mensagens com outras redes sociais, mensagens publicitárias, construção de páginas pessoais, dentre tantas outras funcionalidades.

Logo se percebeu a importância e o alcance desse novo recurso de comunicação e relacionamento, mas ainda não se percebia seu impacto nas relações sociais coletivas. Grupos de interesse com características e propósitos bem definidos logo passaram a veicular ideias e propostas, conclamando os componentes de suas redes para adesão às propostas. As redes, antes individuais, começaram a se interligar, formando suas próprias “sinapses” sociais, fato inusitado e inesperado, seja para os criadores dessas poderosas ferramentas, seja para seus usuários: as redes “aprendiam” com suas próprias experiências, criando estruturas complexas, como são as sociedades humanas. As redes atingiram sua maturidade e começaram a influenciar a Humanidade.

Essa situação evoluía paralelamente às transformações que o mundo sofria em suas próprias estruturas sociais e políticas. As “primaveras árabes” e as manifestações da Comunidade Europeia, as primeiras em busca de Liberdade e Democracia e as segundas em protesto contra as medidas econômicas do Euro e o crescimento do desemprego, encontraram nas redes sociais o instrumento adequado de propagação de protestos e de conclamação do povo para manifestações públicas. Eram as redes sociais intervindo na consciência coletiva e funcionando como instrumento de mobilização social em defesa de seus direitos.

No Brasil, um tema aparentemente irrelevante – o aumento de vinte centavos nas passagens de ônibus – foi o estopim das manifestações de rua. Mais uma vez, o meio eram as redes sociais, e o resultado foi a mobilização de dezenas, depois centenas e, por fim, milhares de pessoas, coletivamente manifestando seu direito constitucional de protestar contra o que consideravam injusto na sociedade brasileira. Dos “vinte centavos” originais, dezenas de slogans demonstravam a revolta de um povo aparentemente avesso a protestos e acomodado em suas casas, independentemente das injustiças que presenciavam e que, direta ou indiretamente, afetavam suas vidas.

Dos transportes coletivos à saúde, à educação, às minorias étnicas oprimidas, à devastação da Amazônia, à política e à corrupção tudo era permitido e, pela primeira vez, se constatava um fenômeno inusitado nas manifestações populares: uma mesma passeata poderia conter os mais diversificados temas, sem com isso perder sua representatividade e significado. Pela primeira vez, também, nenhum partido político teve condições de manipular as massas em seu favor, pois todos os políticos eram “persona non grata” nas manifestações, e foram rechaçados espontaneamente pelo povo, pois não havia líderes carismáticos conduzindo-os; cada um caminhava por si mesmo, por suas ideias, por suas causas e revoltas.

Conclusão

Esse fenômeno, que surgiu da própria evolução tecnológica e foi inspirado na maneira como os jovens se comunicam e se relacionam, assumiu vida própria, instruindo, de certo modo, seus criadores a adaptar seus recursos e funcionalidades a esse mundo novo e admirável, que não tem regras claras, não tem líderes nem legendas, e se manifestam com a mesma naturalidade que demonstram em sua vida real.

Qual o seu limite? Até que ponto esse processo evoluirá e quais novas mudanças ainda estão por vir e serem descobertas, fruto da experiência e do relacionamento interpessoal, cada vez mais complexo e espontâneo, cada vez mais imprevisível, apaixonante e assustador, na medida em que uma espécie de sociedade anárquica passa a existir e a impor seus domínios ao poder constitucionalmente estabelecido e cada vez mais anacrônico?

Vale destacar que a tecnologia ainda não se mostrou completa (nunca será) e novas possibilidades se apresentam com a evolução dos eletrônicos, cada vez mais interligados, cada vez mais simples em sua utilização e complexos em sua concepção e construção. Da tecnologia embarcada da indústria automobilística para a tecnologia implementada em todos os objetos de nossa vida cotidiana, fazendo-nos parecer personagens de ficção científica, mas, ao mesmo tempo, constatando que os paradigmas que nortearam a constituição de nossas estruturas sociais já não funcionam mais e precisam ser reformados. Haverá, ainda, paradigmas nessa nova sociedade?

Talvez não apenas “reformadas”, mas verdadeiramente aniquiladas para dar origem a uma nova forma de organização social, econômica e política. O modo de produção capitalista atingiu seu apogeu, caminha para o ocaso, e precisa ser substituído. A globalização funcionou perfeitamente, mas foi protagonista e vítima de sua própria entropia, calando a dialética das sociedades desiguais, ainda que desumanas. As diferenças ideológicas se acabaram por falta de criatividade e deram lugar ao vazio intelectual que presenciamos.

Essa juventude, que tínhamos como amorfa e incapaz de protagonizar a mudança, é hoje a única capaz de conduzir, compreender e gerir tais mudanças, buscando na diversidade étnica, sexual e espiritual as fontes de inspiração para superar o risco de extinção da espécie humana, devido ao esgotamento dos nossos recursos naturais, às convulsões sociais e ao consumismo desenfreado e insano. Nessa juventude, desinformada ou incapaz de processar as informações em excesso, depositamos nossas esperanças, acreditando em seu poder criativo e seu comportamento leve e irreverente, que não sabemos, nós da geração que se aposenta, compartilhar ou compreender.As redes sociais talvez não tenham tamanha importância na conjuntura do Universo, mas hoje é o instrumento essencial das transformações que presenciamos, estarrecidos e encabulados, em nosso mundo contemporâneo. Como evoluirá esse instrumento de comunicação? Talvez os novos recursos de comunicação, as novas mídias, nos tragam os esclarecimentos de que necessitamos para compreender essa nova situação e nos indiquem, ainda que involuntariamente, os próximos passos que nem mesmo esses jovens saberiam quais são.

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