Autonomia na Pedagogia Kantiana
Por: Luis Propicio • 7/4/2015 • Artigo • 2.258 Palavras (10 Páginas) • 203 Visualizações
AUTONOMIA NA PEDAGOGIA KANTIANA
INTRODUÇÃO
A Educação do homem, depende de sua liberdade, de sua moral e de sua autonomia para alcançar esta liberdade e moral, assim era a visão do filósofo prussiano Immanuel Kant acerca da formação do homem. A autonomia é a temática desta análise da Pedagogia Kantiana.
Para Kant o homem é a única criatura que precisa ser educada, pois o homem tem a capacidade de servir-se de sua própria inteligência sem a influência de outro, e por Educação entende-se o cuidado dado à infância, a disciplina e a instrução. (KANT, 2002, p11)
A disciplina para Kant é negativa, no sentido que molda o indivíduo, retirando dele a ‘selvageria’. A disciplina educa para a obediência, no entanto a obediência possui dois aspectos, aquela das normas de governantes que são absolutas e aquela que obedece à vontade do próprio sujeito. (ZATTI, 2007, p 32)
A liberdade humana é o que permite que o homem possa ser educado, ainda conforme Zatti (2007, p. 32) dizer que um ser é livre é dizer que ele não tem essência que determine a sua existência, ou ainda, não ter essência determinada é o que faz do homem livre. Este pressuposto de liberdade é o que determina a autonomia do homem. A arte da educação ou pedagogia deve, portanto, ser raciocinada, se ela deve desenvolver a natureza humana de tal modo que possa conseguir o seu destino (KANT, 2002, p.21). Conseguir o seu ‘destino’ é possuir a existência e não se pode falar em possuir sua existência sem Autonomia.
Autonomia conforme Lalande (1999, p. 115) no Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia, é a condição de uma pessoa ou uma coletividade cultural, que determina ela mesma a lei à qual se submete. Opõe-se à heteronomia que é quando este indivíduo ou coletividade recebe do exterior a lei à qual deve se submeter. Autonomia e Heteronomia precisam conviver pois equilibram a vida em sociedade.
Ao longo da história a Autonomia tem noções diferentes conforme o povo e o período histórico analisado. Na Grécia antiga ficou restrita a autodeterminação das cidades, está ligada ao autodomínio. Na modernidade surge na política com dois sentidos, o de liberdade de dependência e o de poder de auto legislar, apregoado por Maquiavel (CAYGILL apud ZANONI, 2010, p. 14).
Na Idade Média, predomínio da visão teocêntrica, de Deus como fundamento de toda ação pedagógica e finalidade da formação do cristão, visualiza-se a utilização de métodos autoritários da escolástica, centrados no mestre (ZANONI, 2010, p. 34).
Gadotti (2003) aponta alguns filósofos que se contrapuseram a esta visão autoritária, Rousseau se destacou neste sentido, apontando uma pedagogia centrada na autonomia da criança. Lutero citou a autonomia como liberdade de dependência que seria uma liberdade interior.
AUTONOMIA EM KANT
Para Kant a liberdade é uma ideia de dever ser, correlata a todo ser humano (SALGADO apud TREVIZAN e NETA, 2010, p. 112).
Busca recuperar o sentido de autonomia considerando a totalidade do ser humano, considerando a racionalidade em sentido mais amplo que o instrumental. (ZATTI,....) Não considera o homem sensível em sua corporeidade, em sua busca pela felicidade (TAYLOR apud PINHEIRO, 2007, p 198).
Na obra Sobre a Pedagogia, conforme Zanoni (2010) a ideia que perpassa é a de educação pelo exercício racional que leva a autonomia. O homem nasce bruto, é através da educação que disciplina-se este ‘selvagem’. Desde a convivência com a família já recebe exemplos para imitar desenvolvendo algumas disposições naturais, para o bem ou não. Através da educação, que deve ser raciocinada , deve desenvolver a natureza humana de tal modo que este possa conseguir o seu destino (KANT, 2002, p. 446-447).
Como garantimos a autonomia em uma sociedade onde derivam leis comuns a todos? Rousseau em Emílio ou da Educação diz que a autonomia através da educação também deva ser uma regra para todos, mantendo o ideal de autonomia do homem através da liberdade, postulando também que a liberdade implica em educar para a autonomia. O homem realmente livre só quer o que pode e faz o que lhe apraz (ROUSSEAU, 1995, p. 67).
Assim a autonomia é um ideal que deve ser regra de todos.
Se a liberdade é premissa básica para a autonomia, a educação e a instrução não devem ser mecânicas, precisam apoiar-se em princípios e guiar-se pela experiência, não se desvinculando do raciocínio puro e do mecanicismo, porém, não se alicerçando somente neles. Lembrando que a instrução é diferente da disciplina, mas para chegar ao ponto final da educação é necessário unir a disciplina, que seria a primeira parte da educação, com a instrução (SAUGO, 2009).
O individuo livre para Kant é aquele que age exclusivamente com base na razão, na medida em que não se deixa perturbar pelos sentidos. Diferentemente de Santo Agostinho, o bem para Kant não é algo externo, mas inerente à razão, na medida em que ela determina a ação. A liberdade, pois, não se ligaria à felicidade, mas à autonomia de agir (SALGADO apud TREVIZAN e NETA, 2010, p. 112).
Conforme Philonenko apud Zatti (2007), na condição de livre o homem não pode ser objeto de ciência, de conhecimento e por isso pode ser educado, por ser livre. Sendo o homem livre para desenvolver sua autonomia, Kant propõe uma educação como aprendizagem do exercício das regras no plano teórico e prático. Com a educação a disciplina aos poucos se interioriza, e nasce a obediência voluntária, uma expressão da autonomia que exprime nela o uso da razão e da liberdade na disciplina.
Por isso para Kant a disciplina não é oposta à autonomia, ao contrário, a disciplina é necessária para que o homem aprenda a guiar sua vontade pela razão e assim, possa ser autônomo (ZANONI, 2010, p. 33). Cabe à educação buscar, sobretudo pela disciplina, o meio para formar e possibilitar à criança a compreensão de regras. Desse aprendizado a criança será um adulto que criará e aceitará suas próprias leis autônomas e as leis de outrem.
Para Kant, “o homem pode ser, ou treinado, disciplinado, instruído mecanicamente, ou ser em verdade ilustrado” (KANT, 1996, p. 27).
No pensamento de Kant, a educação está dividida em duas partes: a física e a prática. A primeira a que o homem tem em comum com os animais, isto é, são os cuidados que indivíduo tem com sua vida, enquanto, ser constituído de matéria corporal. A educação prática ou moral é aquela que diz respeito à construção do homem, tendo a sua
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