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Bergson e o riso

Por:   •  8/10/2015  •  Trabalho acadêmico  •  1.484 Palavras (6 Páginas)  •  551 Visualizações

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O que significa rir? O que esse fenômeno tão humano, mas tão divino pode nos dizer? Rir de que? Essas são perguntas que de alguma forma, em algum momento latejou mesmo que por um pequeno instante no pensamento humano. Desde os tempos mais remotos podemos encontrar escritos sobre esse fenômeno que aparenta ser simples, mas carrega consigo uma complexidade imensa. Filósofos, médicos, psicólogos, teatrólogos, literários, músicos, etc. todos inferiram algo sobre o riso. Cada qual com sua visão, com sua especulação. Aristóteles não foi o primeiro a tocar neste assunto que até hoje intriga, estimula e alegra pesquisadores das diversas áreas do conhecimento. O que há de tão especial, de tão intrigante nos sons  entrecortados, descontínuos, e tão difíceis de descrever com palavras?Henri Bergson (1859-1941) foi um filosofo francês, autor de obras importantes para a filosofia e a literatura. Sua filosofia é caracterizada a principio por uma recusa ao “determinismo cientifico e sua interpretação positivista”, pois “negam sem razão, a liberdade humana” (VIEILLARD-BARON, 2009, p. 12).

 Suas principais obras são: “Ensaio sobre os dados imediatos da consciência” (1889), “Matéria e Memória” (1896), “O riso” (1900), “A evolução criadora” (1907); esta última obra ganhou o prêmio Nobel de Literatura no ano de 1927.

Bergson presenciou o alvorecer do positivismo do século XIX, o florescer das ciências sociais e participou em missões diplomáticas da primeira grande guerra. É nesse contexto histórico que Bergson e sua filosofia se encontram.

Em 1884 aos 25 anos Bergson faz uma conferência intitulada “O riso. Do que rimos? Por que rimos?”. Formado ao mesmo tempo, que Durkheim, Bergson também é marcado pela dimensão social dos comportamentos humanos. No ano 1897 Durkheim publica o livro “O suicídio”, onde ele vai mostrar que esse gesto, é consequência do rompimento das solidariedades sociais. Em 1900 Bergson publica o livro intitulado “O riso – Ensaio sobre a significação do cômico”, “no qual, de certa forma, esta é a contrapartida do suicídio: é uma reação inconsciente que visa manter a homogenia do tecido social sancionando os desvios de comportamento”. (MINOIS, 2003, p. 521). O riso para Bergson deve ser inserido em seu ambiente natural, a saber, a sociedade. “O riso deve corresponder a certas exigências da vida em comum. O riso deve ter uma significação social”.  (BERGSON, O riso: Ensaio sobre a significação do cômico, 1983, p. 14).

Tanto Bergson quanto as teorias existentes na segunda metade do século XIX são influenciadas pelo espírito positivista da época, essas teorias enxergam o riso um ato reflexo, sem intencionalidade. A teoria bergsoniana é marcada também pela sociologia e pela renovação da espiritualidade, sua teoria do riso é uma manifestação do ímpeto vital .

O riso é um assunto que sempre permeou a curiosidade humana. O riso é enigmático, pois abala o corpo e o espírito. O riso é divino, já insinuava Homero ao mostrar que os deuses riam. Mas ele também é humano.

O presente trabalho tem a pretensão de estudar a obra “O Riso – Ensaio sobre a significação do cômico”, onde Bergson vai buscar na comédia, na farsa e no drama os efeitos cômicos, seus processos de fabricação.

A obra O Riso (1900) é constituída por artigos anteriormente publicados na “La Revue de Paris”. Estes artigos carregam consigo a pretensão de investigar os processos de produção do cômico. Bergson pretende encontrar os lugares onde podemos achar o cômico. Verificar os processos de fabricação para tentar chegar ao fundo do que é risível.

O trágico e o cômico tem a mesma raiz. Segundo Aristóteles, o nascimento destes dois fenômenos remete as tradicionais festas gregas em homenagem a Dionísio. Estas festas destinavam-se a celebrar a fertilidade universal. Estas eram festejos que seguiam em uma espécie de procissão jocosa, que celebrava a fertilidade universal, andavam pelas aldeias carregando representações fálicas.

Para Aristóteles a comédia e a tragédia assemelham enquanto “mimeses”. Aos autores cômicos cabiam a eles “... imitar os homens inferiores...” (ARISTÓTELES, 2005) e aos trágicos imitar os homens melhores.

Aristóteles definiu o homem como o único animal que ri, Bergson acrescenta que o homem é o único animal que causa o riso, assim o homem é o único animal que ri, e que faz rir. Tamanha é a curiosidade que muitos filósofos estudaram esse fenômeno. O cômico surge de vez em quando, explicito ou mesmo implícito em varias obras de autores da modernidade. As teorias que surgiram sobre o cômico, colocam-o em oposição à tragédia.

Bergson ao escrever sobre o cômico deixa claro que a sua pretensão não é encerrar uma teoria cômica em uma formula fechada. Mas analisa-la através da vivencia. Observar como o cômico expande no espírito do ser humano. Onde as gradações dos efeitos cômicos realizam mudanças bem singulares.

Nosso pretexto para enfocar o problema é que não pretenderemos encerrar numa definição a fantasia cômica. Vemos nela, antes de tudo, algo de vivo. Por mais trivial que seja, tratá-la-emos com o respeito que se deve à vida. Não nos limitaremos a vê-la crescer e se expandir. De forma em forma, por gradações imperceptíveis, ela realizará aos nossos olhos metamorfoses bem singulares. Nada desdenharemos do que tenhamos visto. Com esse contato continuado talvez ganhemos algo de mais maleável que uma definição teórica — um conhecimento prático e íntimo.  (BERGSON, 1983).

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