Cisne Negro E Freud

O filme Cisne Negro conta a história de uma bailaria chamada Nina que foi escolhida para interpretar a Rainha Cisne em uma adaptação do famoso espetáculo Lago dos Cisnes. Ao longo de sua carreira, Nina havia buscado a perfeição técnica em cada movimento, mas, ao se deparar com o desafio de personificar dois personagens antagônicos no ballet, essa perfeição não é suficiente.

No longa, Nina tem 28 anos e mora somente com a sua mãe. Em nenhuma parte do filme é mencionada a figura paterna dela, o que nos leva a sugerir que esta esteve ausente durante toda ou parte da formação de Nina. Uma das principais conseqüências dessa ausência pode ser notada na relação da protagonista com a sua mãe, que é altamente conturbada. A mãe é extremamente controladora e, pelo nível de submissão da filha no início do filme, ela sempre fora. Sob a visão de Freud, a mãe seria a principal representante do superego da personagem principal. Devido ao controle exercido sobre ela, Nina não desenvolveu uma personalidade própria muito forte, possuindo um ego fragilizado.

Durante toda a sua vida, Nina procurou agradar a mãe, fazendo tudo o que era derivado da influência do superego (reprimindo seu ID) e buscando incessantemente a perfeição através dele. Porém, ao se ver pressionada pelo diretor artístico a se soltar mais dos padrões técnicos que ela havia desenvolvido a fim de conseguir interpretar o cisne negro (que era a “irmã gêmea malvada”) em toda a sua essência, Nina é forçada a procurar os seus instintos mais básicos, enterrados nas profundezas de seu ID.

O ID que Nina tenta alcançar se reflete em sua colega de Companhia, Lilly, que é sua substituta no papel principal, caso algo aconteça com ela. Lilly age segundo as suas vontades, livremente, sem tentar reprimir seus impulsos. Assim, convence Nina a sair com ela uma noite e consegue fazer com que ela tome um comprimido. Após ingerir a droga, a personagem principal começa a sofrer de violentas alucinações, que são projeções dos impulsos presentes no seu inconsciente.

Como anteriormente ela tinha imensa dificuldade em acessar os seus instintos naturais, por haver se acostumado a reprimi-los em função da ação dominadora do superego, a súbita presença de uma força oposta mais forte demanda uma ação conciliadora de seu ego, que, devido a sua formação falha, ele não consegue cumprir.

A confusão em que está toda a mente de Nina acaba inevitavelmente afetando a sua relação com a mãe superprotetora. Enquanto esta tenta isolar Nina do mundo, protegendo-a de tudo e de todos, aquela tem que se libertar dessa figura guia para conseguir aquilo que mais quer: o êxito na interpretação do papel principal.

Todas essas mudanças súbitas, as quais o aparelho psíquico da bailarina não fora capaz de suportar, causou um surto psíquico em Nina, que começa a sofrer alucinações constantes, que, como já mencionado, são as projeções do seu inconsciente que a resistência não é capaz de manter reprimidas.

Além das alucinações, ao longo do filme, ela aparece diversas vezes adquirindo características animais, como um lento processo de transformações que são as próprias transformações pelas quais a vida da personagem passa. O ápice dessas se dá quando Nina consegue mergulhar completamente no seu ID, matando, em uma de suas alucinações, a sua concorrente Lilly, que representa um