Fedon (a imortalidade da alma)
Por: Marcio Morais • 19/11/2015 • Bibliografia • 564 Palavras (3 Páginas) • 294 Visualizações
Gilberto de Mello Freyre (1900 – 1987) foi um polímata brasileiro considerado um dos mais importantes sociólogos do século XX. Formação acadêmica feita nos Estados Unidos em artes liberais e antropologia, onde conheceu Franz Boas, sua grande influência. Politicamente controverso, foi considerado comunista na década de 1930 exilou-se em Portugal onde escreveu Casa Grande e Senzala, porém na década de 1960 já abraçava a ideologia de direita apoiando o golpe da Ditadura Militar de 1964 no Brasil.
“Casa-Grande & Senzala foi a resposta à seguinte indagação que eu fazia a mim próprio: o que é ser brasileiro? E a minha principal fonte de informação fui eu próprio, o que eu era como brasileiro, como eu respondia a certos estímulos.”1
A partir dessa indagação, Gilberto Freyre começou uma extensa pesquisa histórica sobre a época colonial. O sucesso de seu relato e análise deve-se ao fato de que ele não se restringiu à aspectos político-econômicos; sua proposta desde o início era encontrar a base da sociedade brasileira, e por isso, utilizou-se de todo tipo de documentação referente à época, desde de diários pessoais à documentos de igreja e documentos públicos.
Gilberto parte da premissa da maior aptidão do português para a colonização tropical em comparação com seus vizinhos europeus; por ter grande relevância marítima e grande contato com estrangeiros, o português aqui é possuidor de ideais cosmopolitas, além de sua experiência em expedições prévias em terras tropicais. A prévia ocupação moura da península ibérica já garante ao português outra característica vital: a miscigenação e a não preocupação com a pureza de raça.
O aspecto sexual da relação português-índio é de grande importância uma vez que a reprodução criou logo laços entre colonizador e colonizado, além da necessidade de povoar a vastidão de terras que é o Brasil (aqui surge o conceito de sifilizarão prévia à civilização). A unificação da língua e da religião proporcionada pela missão jesuítica é posta como compensadora da vastidão territorial, facilitando seu domínio.
A insuficiente mão da obra indígena motivou o tráfico de negros da África. A influência do negro na essência brasileira é enorme; o negro não nativo dali, inicia a inserção de objetos de sua cultura:, figuras religiosas, danças, ritmos musicais e culinária vieram à tona na tentativa de apaziguar o trauma da extradição e do trabalho forçado, somados à violência inerente ao sistema escravista.
Tendo o cultivo de cana como plano de fundo, o estabelecimento da agricultura escravista criou a relação entre senhor de engenho e escravo e consequentemente o surgimento da casa grande e da senzala. Centro da dinâmica da colônia, deixando o Estado em segundo plano, a casa grande é para Gilberto Freyre a grande base da sociedade brasileira. Foi no dia a dia do convívio de brancos com escravos, nessa dinâmica doméstica e sexual, que foi forjada essa base.
Ao contrário de grandes correntes científicas contemporâneas de Gilberto Freyre, ele defende a miscigenação como aspecto positivo da colonização brasileira ao constatá-la como uma sociedade híbrida de português com índio e posteriormente com negro, que agregou diversos aspectos de seus constituintes e possibilitou a criação de uma sociedade única.
O autor de forma muito sucinta e com grande clareza relaciona seus argumentos fortemente com sua tese. A sua análise dos papéis adquiridos por suas “personagens” (o branco, o índio, o negro) é muito profunda no âmbito social e o fato de ser o pioneiro nesse quesito a dar tal interpretação dos fatos fortalece seus argumentos.
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