Sobre Platão e a Imortalidade da Alma
Por: Lucimarcos de Souza • 18/11/2022 • Trabalho acadêmico • 1.401 Palavras (6 Páginas) • 143 Visualizações
Universidade Federal de São João del Rei- UFSJ
Estudos sobre Filosofia Antiga
Lucimarcos Santos de Souza
Sobre Platão e a imortalidade da alma
Introdução
Nesse texto, produzido para a disciplina Estudos sobre Filosofia Antiga do curso de Filosofia da Universidade Federal de São João del Rei- UFSJ, discorreremos de maneira breve acerca da discussão sobre a Alma na visão platônica. Para tal, será utilizado como base o diálogo Fédon, onde o filósofo trata da condição imortal da mesma.
Apesar de haver outros pontos para sustentar a defesa da imortalidade da alma, como por exemplo a teoria da Semelhança- formulada no próprio Fédon- e a concepção de alma como principio de tudo- desenvolvida no Fedro-, utilizaremos aqui principalmente dois pontos, a saber: a Teoria das Reminiscências e a Teoria dos Contrários.
Fédon
No dialogo Fédon, Sócrates demostra não estar preocupado com o fato de que logo deixará de viver. Essa tranquilidade advém da sua convicção de que a morte nada tem de mau, pelo contrário, ela é, inclusive, a aspiração de todo filósofo. Sócrates espera, na verdade, se aproximar dos deuses e, não com muita certeza, de homens bons. Como observamos na seguinte fala:
Eu cometeria um grande erro não me irritando contra a morte, se não possuísse a convicção de que depois dela vou encontrar-me, primeiro, ao lado de outros deuses, sábios e bons; e, segundo, junto a homens que já morreram[...] Assim, por conseguinte, não tenho razões para estar irritado. (Fédon 63c)
Em seguida, Sócrates explica de que forma o filósofo deseja a morte. Isso porque o ato de morrer é nada mais que a separação entre alma e corpo. Ora, se o corpo é a prisão da alma- numa perspectiva Orfista da qual Platão compartilhava- a morte seria uma libertação. Já que essencialmente um filósofo busca se aproximar das coisas da alma, de onde parte o verdadeiro conhecimento, distanciando se daquilo que é sensível e possivelmente falso, seria incoerente preocupar-se diante do momento da morte, um homem que tivesse medo nesse momento certamente amaria mais os prazeres do corpo do que o conhecimento. Não seria um filósofo.
Com relação a aquisição de conhecimento, a busca pela verdade, o corpo constitui obstáculo. Se dois sentidos básicos como visão e audição não são totalmente confiáveis nem precisos, os outros sentidos podem ser também da mesma forma. Ora, se o propósito de vida de um filósofo é buscar o conhecimento puro, seu esforço é no sentido de estabelecer os meios mais apropriados para tal. Diz Sócrates desenvolvendo a ideia: “Nisto, por conseguinte, antes de mais nada, é que o filósofo se diferencia dos demais homens: no empenho de retirar quanto possível a alma na companhia do corpo.”
Já podemos perceber como Sócrates começa a estruturar seus argumentos para defender a ideia de que a vida não se finda com a morte.
Se, com efeito, é impossível, enquanto perdura a união com o corpo, obter qualquer conhecimento puro, então de duas uma: ou jamais nos será possível conseguir de nenhum modo a sabedoria, ou a conseguiremos apenas quando estivermos mortos. Porque nesse momento a alma, separada do corpo, existirá em si mesma e por si mesma- mas nunca antes. (Fédon 66e)
Cebete, que estava ouvindo Sócrates, chama atenção para o fato de que os homens terão dificuldade em acreditar que a alma possa existir sem o corpo. Com razão, por isso, Sócrates prossegue na argumentação observando sob outros aspectos.
Teoria dos Contrários
Elaborada pelo filósofo Heráclito e retomada por Platão no Fédon. A teoria dos Contrários diz sobre a relação de oposição e, ao mesmo tempo, de interdependência que permeia dois conceitos. Aquilo que é escuro somente o é porque já foi claro em outro momento, da mesma forma a alegria existe pois num outro instante o que havia era tristeza, o belo só existe porque existe também seu contrário, o feio, e tantas outras coisas mais poderíamos citar. Isto é, tudo flui de maneira dialética. Assim, também pode-se concluir que aquilo que está morto já esteve vivo, e não só isso, mas sabemos que aquilo que está vivo não permanecerá vivo, num momento seguinte estará morto. Estar vivo comporta um contrário que é estar morto, há uma geração reciproca entre ambos estados. Sócrates conclui essa ideia da seguinte forma:
Há, pois, acordo entre nós ainda neste ponto: os vivos não provêm menos dos mortos que os mortos dos vivos. Ora, assim sendo, haveria aí, uma prova suficiente de que as almas dos mortos estão necessariamente em alguma parte, e que é de lá que voltam para a vida. (Fédon 72a)
Esse movimento é cíclico e não linear, se não fosse de tal forma, ou seja, se um conceito não fosse equilibrado pela existência do seu contrário tudo permaneceria igual e assim acabaria sua existência, visto que não haveria mais o processo de geração desse conceito ou estado.
Teoria das Reminiscências
Outro ponto de valia para nossa exposição diz respeito Epistemologia Platônica. A teoria do conhecimento de Platão é essencialmente dualista, para ele, existe o conhecimento a priori das Formas, das Ideias, que participa do mundo inteligível, e existe também o mundo sensível que por si mesmo não basta para atingir o conhecimento, visto que é enganoso. Seria preciso transformar o sensível em inteligível. Neste ponto, apontamos a Teoria da Reminiscência, ou seja, aprender é recordar e para recordar é preciso ter aprendido anteriormente.
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