Humanização, Relacionamento Interpessoal E ética
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HUMANIZAÇÃO, RELACIONAMENTO INTERPESSOAL E ÉTICA
TUTORIAL
Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 11, nº 1, p. 17-21, janeiro/março 2004
Wellington Soares da Costa
Bacharel em Administração (CRA/BA 6028), Especialista em Gestão e
Desenvolvimento de Seres Humanos, Graduando em Direito e Servidor
Público do INSS.
E-mail: wsc333@hotmail.com
Recebido em: 12/03/2003
Aprovado em: 08/06/2003
RESUMO
Este artigo propõe-se a análise de três temas referentes à Administração: 1) humanização; 2)
relacionamento interpessoal; 3) ética. Utilizou-se a pesquisa bibliográfica e o objetivo é demonstrar a
necessidade dessa discussão para que a dignidade das pessoas seja respeitada.
Palavras-chave: humanização, relacionamento interpessoal, ética.
ABSTRACT
Three aspects of management are analyzed, humanization, interpersonal relationships and ethics.
Bibliographic research was used to demonstrate the need of this discussion so as to encourage people to
value human dignity.
Key words: humanization, interpersonal relationships, ethics.
1. INTRODUÇÃO
Tem-se falado em humanização no ambiente de trabalho. Mas o que é humanização e para que serve?
Humanizar significa respeitar o trabalhador enquanto pessoa, enquanto ser humano. Significa valorizá-lo
em razão da dignidade que lhe é intrínseca.
Isso apresenta vários desdobramentos. Por exemplo, o relacionamento interpessoal1 –necessidade social,
conforme MASLOW (2000), ou fator higiênico2, segundo a teoria herzbergiana – deve se pautar pelo
diálogo, sem o qual as relações entre os indivíduos resvala para conflitos vários3. A dignidade jamais deve
ser esquecida ou colocada em segundo plano. A prática da humanização deve ser observada
ininterruptamente. O comportamento ético deve ser o princípio de vida da organização, uma vez que ser
ético é preocupar-se com a felicidade pessoal e coletiva.
1 Tem competência interpessoal quem saber ouvir o outro e colocar-se no lugar desse outro a fim de compreendê-lo. Em relação a
isso, CARAVANTES (2002: 99) posiciona-se no sentido de que uma das características fundamentais do administrador excelente é
“5. Competência interpessoal, pois se o produto de seu trabalho visa o homem e é feito através de pessoas, ele deve desenvolver sua
capacidade de relacionamento com seus superiores, pares e subordinados, chegando ao ponto de empatia, isto é, ser capaz de colocarse
em lugar daqueles com quem se relaciona e pensar e sentir como eles”.
2 Em conformidade à teoria herzbergiana, o fator higiênico, em si mesmo, não garante a motivação, conquanto a sua ausência
constitua desmotivação certa.
3 Só há dialogicidade quando os sujeitos se respeitam.
Wellington Soares da Costa
18 Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, nº 4, p. 17-21, outubro/dezembro 2003
Numa sociedade em que, em geral, valores4 éticomorais
são vilipendiados, é urgente a necessidade
de se humanizarem as organizações. Estas não
devem perder de vista a razão maior graças à qual
se dá a sua criação: a promoção humana em todos e
quaisquer aspectos (não somente os econômicofinanceiros
e tecno-científicos), até mesmo, e
principalmente, sob a ótica coletiva.
2. HUMANIZAÇÃO
O desenvolvimento científico-tecnológico tem
levado muitas organizações a buscar de forma
desenfreada o lucro econômico-financeiro à custa
da necessária valorização real do homem,
notadamente dos indivíduos que nelas trabalham.
Paradoxalmente, até mesmo organizações cujo lucro
visado não é econômico-financeiro resvalam para
isso.
A cultura predominante nessas instituições
caracteriza-se por considerar as pessoas meros
recursos que devem contribuir para o alcance dos
objetivos organizacionais. Relegam a abordagem
sistêmica, que estuda o homem como uma
totalidade e não apenas como profissional cuja vida
deveria se restringir ao ambiente de trabalho. O
relacionamento interpessoal saudável, por exemplo,
às vezes não encontra guarida no âmbito
organizacional, gerando os mais diversos conflitos
e, portanto, “desumanizando” as organizações. A
desconsideração dos valores humanos e da ética
também são exemplos de realidades
“desumanizadoras”.
ROMÃO (2002) registra:
Mas, o pior de tudo isso [o autor faz referência à
reengenharia, à terceirização e à globalização como
modismos, dentre outros que ele relaciona] foi o fruto
gerado: a desvalorização do ser humano, que
participou desses processos, tentando ajudar sua
empresa, e hoje é descartado, como se somente
números pudessem indicar lucros, e ótimos resultados
fossem o melhor diagnóstico de um negócio. Hoje
temos que nos preparar para viver a era emocional,
onde a empresa tem de mostrar ao colaborador que ele
é necessário como profissional, e antes de qualquer
coisa que é um ser humano com capacidades que
agregadas à produção da empresa, formarão uma
4 Efetiva é a organização que, além de eficaz, agrega valores à
sua atuação.
equipe coesa em que o maior beneficiado será ele
mesmo com melhoria em sua qualidade de vida,
relacionamentos com os pares e, principalmente, o
cliente que sentirá isso quando adquirir o produto ou
serviço da empresa gerando a fidelização que tanto se
busca. O melhor negócio de uma organização ainda se
chama gente, e ver gente integrada na organização
como matéria-prima principal também é lucro, além
de ser um fator primordial na geração de resultados.
MORGAN (1996: 142) diz que “a natureza
verdadeiramente humana das organizações é a
necessidade de construí-la em função das pessoas e
não das técnicas”.
O PAPA JOÃO PAULO II apud MASLOW
(2000: 61) assevera que:
O propósito da empresa não é simplesmente lucrar,
mas ser vista em sua base como uma comunidade de
pessoas que, de várias formas, estão se esforçando
para satisfazer suas necessidades básicas e que
formam um grupo particular no serviço de toda a
sociedade. O lucro é um regulador da vida de um
negócio, mas não é o único regulador; outros fatores,
humanos e morais, também devem ser considerados,
pois, a longo prazo, serão igualmente importantes para
a vida do negócio.
A empresa humanizada, consoante VERGARA e
BRANCO (2001: 20), é:
[...] aquela que [...] agrega outros valores que não
somente a maximização do retorno para os acionistas.
Nesse sentido, são mencionadas empresas que, no
âmbito interno, promovem a melhoria na qualidade de
vida e de trabalho, visando à construção de relações
mais democráticas e justas, mitigam as desigualdades
e diferenças de raça, sexo ou credo [e não apenas em
tais aspectos], além de contribuírem para o
desenvolvimento e crescimento das pessoas.
Discutir a humanização no ambiente de trabalho
é impostergável, e a efetiva vivência num ambiente
organizacional cujos valores maiores incluam a
humanização trará grandes benefícios para os
indivíduos, as organizações e a sociedade em geral.
3. RELACIONAMENTO INTERPESSOAL
As relações interpessoais tiveram como um de
seus primeiros pesquisadores o psicólogo Kurt
Lewin. MAILHIOT (1976: 66), ao se referir a uma
das pesquisas realizadas por esse psicólogo, afirma
que ele chegou à constatação de que “A
produtividade de um grupo e sua eficiência estão
estreitamente relacionadas não somente com a
Humanização, relacionamento interpessoal e ética
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competência de seus membros, mas sobretudo com
a solidariedade de suas relações interpessoais”.
Schutz, um outro psicólogo, trata de uma teoria
das necessidades interpessoais: necessidade de ser
aceito pelo grupo, necessidade de responsabilizar-se
pela existência e manutenção do grupo, necessidade
de ser valorizado pelo grupo. Tais necessidades
formam a tríade de que fala MAILHIOT (1976: 67),
quando este faz referência aos estudos de Schutz:
necessidades de inclusão, controle e afeição,
respectivamente.
Ao discorrer acerca da humanização no ambiente
de trabalho, COSTA (2002: 21) aponta as relações
interpessoais como um dos elementos que
contribuem para a formação do relacionamento real
na organização:
É mister observar a operação real da organização, aqui
incluídas as relações interpessoais, que constituem a
sua seiva vital. Os elementos formais (estrutura
administrativa) e informais (relacionamento humano,
que emerge das experiências do dia-a-dia) integram-se
para produzir o padrão real de relacionamento humano
na organização: como o trabalho é verdadeiramente
executado e quais as regras comportamentais
implícitas que governam os contatos entre as pessoas
– esta é a estrutura de contatos e comunicações
humanas a partir da qual os problemas de política de
pessoal e de tomada de decisões podem ser
compreendidos e tratados pelos administradores.
Os autores são unânimes em reconhecer a grande
importância do tema “relações interpessoais” tanto
para os indivíduos quanto para as organizações,
relativamente à produtividade5, qualidade de vida
no trabalho6 e efeito sistêmico7.
4. ÉTICA
Evidencia-se a necessidade de serem observados
pelas organizações os atuais anseios da sociedade
por uma atuação ética. Tal necessidade requer a
conscientização de todos sobre a importância da
ética na atualidade. Assim, o tema “ética” faz-se
5 Citam-se: KANAANE (1995: 47), HAMPTON (1990: 106 e
119), GLINA e ROCHA (2000: 59), CORREIA (2000: 16),
BÓCCIA (1997: 204) e COSTA (2002: 20).
6 Podem ser citados os seguintes autores: VIVAN, MIRANDA
e MORO (1999: 4) e ISHIKAWA apud VIVAN, MIRANDA &
MORO (1999: 4).
7 Citam-se: HAMPTON (1990: 111) e CAPRA (1982: 260).
imprescindível na pauta das discussões, porque,
dentre as necessidades do homem contemporâneo, a
necessidade ética desponta como uma das mais
prementes.
A intrincada teia de relacionamentos integra a
vida do ser humano, tornando inafastável a
necessidade da discussão sobre ética, porque “A
dimensão ética começa quando entra em cena o
outro. Toda lei, moral ou jurídica, regula relações
interpessoais, inclusive aquelas com um Outro que a
impõe.” (ECO, 2002: 9).
Consoante ZOBOLI (2002: 8): “[...] uma vez que
a empresa, enquanto uma organização social, deve
dar conta de funções que a sociedade dela espera e
exige assumindo suas responsabilidades neste
âmbito, ela está obrigada a tomar decisões com
implicações éticas”. Daí ser possível afirmar que “a
empresa que busca somente os resultados ou as
vantagens imediatas é suicida, a responsabilidade a
largo prazo é uma necessidade de sobrevivência e
neste aspecto a ética constitui um fator importante
para os ganhos. Por si só, a ética não é condição
para um bom negócio, mas o propicia.” (ZOBOLI,
2002: 8)
A sociedade atual exige das empresas um
comportamento ético – a esse propósito cita-se a
conscientização dos consumidores sobre a
necessidade de defesa de seus direitos.
CARAVANTES (2002: 71) afirma:
[...] a economia de mercado e o sistema econômico em
que vivemos como que alijaram valores fundamentais
ao convívio social: o bom cedeu lugar ao útil; o
correto, ao funcional; o futuro, ao imediatismo; e o
social, ao individualismo exacerbado. Nesse contexto,
há uma verdadeira inversão valorativa [...].
Antes que alguma mudança venha a ocorrer, há que se
repensar valores e atitudes hoje prevalentes,
permitindo que o útil venha a se subordinar ao bom; a
especulação desenfreada ao trabalho honesto e sério; o
personalismo ao social; a racionalidade funcional à
substantiva.
Destaca-se a Carta de Princípios do Dirigente
Cristão de Empresa CE/UNIAPAC BRASIL, da
Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa do
Brasil, cujos seguintes princípios, entre outros,
merecem ser transcritos:
14 - Embora o desejo de lucro permaneça o estímulo
da atividade econômica, o dirigente de empresa não
Wellington Soares da Costa
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tem direito de sobrepô-lo ao dever de servir a
sociedade a que pertence. [...]
33 - O homem é o centro da vida econômica;
negligenciá-lo será ofender a dignidade humana e
votar a empresa ao malogro. [...]
34 - Tal como as técnicas nela utilizadas estão
ordenadas aos fins da empresa, assim os fins da
empresa estão subordinados ao homem.
(ASSOCIAÇÃO DE DIRIGENTES CRISTÃOS DE
EMPRESA DO BRASIL, 2002)
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise da humanização, da ética e do
relacionamento interpessoal permite perceber
facilmente os pontos de contato entre esses temas e
a necessidade imperiosa de ser respeitada
ininterruptamente a dignidade de todas as pessoas,
incluindo-se os trabalhadores, dos quais sempre é
exigido alto grau de produtividade sem que, em
contrapartida, se dispense a eles um tratamento
adequado. É preciso lembrar que uma das maiores
exigências sociais na atualidade, no campo dos
negócios públicos e privados, é a vivência irrestrita
de valores não hedonistas, voltados para o bemestar
da coletividade e que têm o ser humano como
a maior e incalculável riqueza de uma sociedade.
As implicações daí decorrentes devem ser
profundas na escala de valores individuais,
organizacionais e sociais, de sorte que a cidadania
no âmbito das organizações não seja vilipendiada,
mas preservada, estimulada e promovida.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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EMPRESA DO BRASIL. Carta de Princípios do
Dirigente Cristão de Empresa CE/UNIAPAC
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CAPRA, F. O ponto de mutação. São Paulo:
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7. OBRAS CONSULTADAS
CAMPOS, D. L. de. Ética, direito e ética
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Pioneira/Academia Internacional de Direito e
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