Mas Isso é Arte? O poder místico das obras de arte
Artigo: Mas Isso é Arte? O poder místico das obras de arte. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Nertan • 26/8/2014 • Artigo • 1.428 Palavras (6 Páginas) • 360 Visualizações
"Mas isso é arte???" (imprimir) - 29/8/2001 - Digestivo Cultural - Daniela Sandler - Colunas 18/08/10 11:21
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Quarta-feira, 29/8/2001
Mas isso é arte???
Daniela Sandler
“Mas isso é arte???” Você talvez já tenha feito essa pergunta. Eu já perguntei, diante de muita instalação em galeria de arte,
como por exemplo um monte de saquinhos de vômito de avião, olhando em redor para ver se algum especialista definia a
palavra. “Arte”, o que é? Não adianta olhar no dicionário. Não estou falando dos muitos sentidos do termo nem da definição
clássica. Estou pensando na conotação especial, mágica – fetichista, se quiserem –, mística que acompanha a idéia de
objetos artísticos, artistas, criação, obra de arte.
Quando os modernos, no começo do século 20, romperam a representação figurativa da realidade com manchas coloridas ou
formas geométricas, muita gente torceu o nariz. “Mas isso é arte???” Horror dos horrores, aqueles quadros e esculturas
expostos poderiam ter sido feitos por uma criança! Ou talvez as formas e cores distorcidas fossem o produto de mentes
degeneradas, como diziam os nazistas! Alguns temiam que fosse simples tiração de sarro. Público e críticos – incluindo
Monteiro Lobato com o célebre ataque a Anita Malfatti em “Paranóia ou Mistificação?” – reagiram muitas vezes com violência.
O curioso é que, hoje em dia, quase cem anos depois, as obras modernas estão devidamente consagradas pelas instituições
que ditam as normas culturais (museus, faculdades, livros...), e a situação se inverteu. Boa parte do público e críticos de arte
vai torcer o nariz diante daquilo que, há um século, parecia seguramente ser arte: paisagens, retratos, representações fiéis e
convencionais da realidade, pinturas acadêmicas. Quadros que você pode ver na loja do Roberto Camasmie (com o devido
outdoor eletrônico), na Praça da República, em algumas galerias de arte comerciais. “Mas isso é arte???” De novo, o coro
escandalizado – e violento.
Berço e cadeirão
Lembro-me de uma visita ao Masp há dez anos. Eu estava no terceiro colegial e fui com amigos mostrar nosso museu a um
intercambista canadense. Lá no andar de baixo, junto às rampas vermelhas, arte contemporânea brasileira. Um dos artistas
expunha três obras (todas intituladas “Sem título”, como sempre): um berço, uma banheirinha suspensa de bebê e um
cadeirão. As três peças eram evidentemente da mesma linha, pois o plástico que as revestia tinha a mesma estampa. As
peças estavam meio detonadas: plástico rasgado, manchas de tinta, revestimento descascado.
Veja bem: éramos um grupo privilegiado em termos artísticos. Tínhamos aula de história da arte, conhecíamos as inovações
modernistas, freqüentávamos museus. Mas foi demais. Não gastamos muito tempo vociferando: estávamos nos divertindo.
Meu amigo jogou sua mochila no chão, no meio do piso, e eu passei em volta da mochila, admirando: “Oh que obra de arte
profunda!” Tudo virou obra de arte – ou melhor, tudo virou piada: a mochila, a lata de lixo, nós mesmos em pose de estátua,
a pedra do piso. Rindo castigas mais (assim está em O Nome da Rosa, e com razão), mas rir não resolve o nosso problema.
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Tenho de confessar, se é que os mais atentos já não pensaram nisso: faço doutorado no Departamento de... História da Arte!
Devia já ter chegado a alguma conclusão, não? Não. Tenho a desculpa confortável de que o meu negócio é arquitetura, não
arte. Arquitetura é mais fácil: está na interseção entre arte e utilidade, criação e técnica.
Mas a desculpa não me convém. Digo com todas as letras que, mesmo tendo feito cursos sobre arte, lido textos teóricos,
mesmo estando rodeada por historiadores da arte e por artistas, eu não tenho a resposta para a pergunta: “Mas isso é arte?”
Em parte porque o tema é complexo demais (e, enquanto eu escrevo esse texto, vou pensando em dezenas de implicações
e desdobramentos que gostaria de citar aqui – o que não farei, para não transformar a coluna em mau ensaio acadêmico).
Em parte, porém, há outro motivo mais importante: porque arte é definida historicamente. Socialmente. Não é como uma
cenoura, por exemplo, que é cenoura para mim, para você, para o coelho e para Picasso. Que sempre foi cenoura desde
que cenoura apareceu na Terra (independente do nome que lhe damos).
Arte, como outros termos abstratos e complexos, tem significado contigente e sempre em transformação. Muda o que nós
entendemos por arte, mas não só isso: muda tudo. Muda a maneira de produzir arte, mudam os artistas, e muda o produto
final. Quando o produto muda, muda também nossa maneira de olhar, perceber e reagir. E, por fim, muda
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