NECESSIDADE E LIBERDADE NO PENSAMENTO DE HANNAH ARENDT
Artigo: NECESSIDADE E LIBERDADE NO PENSAMENTO DE HANNAH ARENDT. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: jefersontg • 25/10/2014 • Artigo • 6.210 Palavras (25 Páginas) • 491 Visualizações
NECESSIDADE E LIBERDADE EM HANNAH ARENDT
NECESIDAD Y LIBERTAD EN HANNH ARENDT
NECESSITY AND FREEDOM IN HANNAH ARENDT’S THOUGHT
Odílio Alves Aguiar
Prof. Associado do Departamento de Filosofia
da Universidade Federal do Ceará
e-mail: odilio@ufc.br
Natal (RN), v. 19, n. 32
Julho/Dezembro de 2012, p. 35-54
Odílio Alves Aguiar
Resumo: O presente artigo visa refletir sobre o pensamento de Hannah Arendt à luz do par conceitual necessidade-liberdade. Esse caminho é produtivo, pois dá conta tanto da obra mais conhecida e reconhecida da autora quanto das suas reflexões anteriores à Origens do Totalitarismo, que se dirigiam, na sua maioria, à comunidade dos Judeus e tinham a questão judaica como ponto central. As meditações arendtianas sobre o judaísmo, consideradas no presente artigo, foram publicadas em duas coletâneas na França: La tradition Cachée (1987) e Auschwitz et Jérusalem (1991). O artigo gravita em torno da defesa arendtiana sobre a inerência entre política e liberdade e sua substituição pela compreensão da política como submetida à esfera da necessidade. Essa perspectiva, segundo a autora, fez-se presente na tradição assimilacionista entre os judeus, mas já tinha obtido a hegemonia na cultura ocidental. Isso sucedeu em razão da primazia da vita contemplativa sobre a vita activa, do trabalho e da questão social em detrimento da ação e, por fim, da supremacia da filosofia da história em prejuízo da Filosofia Política.
Palavras-chave: liberdade, necessidade, questão judaica, questão social, trabalho.
Resumen: El presente artículo busca reflexionar sobre el pensamiento de Hannah Arendt a la luz del par conceptual necesidad-libertad. Ese camino é productivo, porque da cuenta tanto la obra más conocida y reconocida de la autora como de sus reflexiones anteriores a Orígenes del totalitarismo, que se dirigían, en su mayoría, a la comunidad de los judíos y tenían la cuestión judaica como punto central. Las meditaciones arendtinas sobre el judaísmo consideradas en el presente artículo fueron publicadas en dos antologías en Francia: La tradition cachée (1987) e Auschwitz et Jérusalem (1991). El artículo gravita en torno de la defensa arendtiana de la inherencia entre política y libertad, así como sobre la substitución por la comprensión de la política como sometida a la esfera de la necesidad. Esa perspectiva, según la autora, se hizo 36
Necessidade e liberdade em Hannah Arendt
presente en la tradición asimilacionista entre los judíos, pero ya había obtenido la hegemonía en la cultura occidental. Eso sucedió en razón de la primacía de la vita contemplativa sobre la vita activa, del trabajo y de la cuestión social en detrimento de la acción y, por fin, de la supremacía de la filosofía de la historia en prejuicio de la filosofía política.
Palabras-clave: libertad, necesidad, cuestión judaica, cuestión social, trabajo.
Abstract: This article is intended to provide a reflection on Hannah Arendt’s thought under the light of the paired notions of necessity and freedom. This type of approach is promising because it permits an account of both works previous to The Origins of Totalitarianism, which was mainly devoted to the Jewish community and addressed the Jewish question, and works subsequent to it. The considerations of Arendt’s on Judaism presented here were compiled in two French publications: Le Tradition Cachée (1987) and Auschwitz et Jérusalem (1981). Arendt’s vision that freedom is inherent to politics and that the substitution of this perspective for another one that subject politics to the sphere of necessity was dangerous is defended here. For her the substitution at stake marked the tradition of assimilation of Jews and was hegemonic in western culture. The primacy of contemplative life over active life, and of labor over action and, ultimately, the supremacy of philosophy of history over political philosophy explained the fundamental changes occurred.
Key words: Freedom, Jewish question, necessity, social question, labor.
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Odílio Alves Aguiar
As categorias necessidade e liberdade são velhas conhecidas da tradição filosófica ocidental. Tiveram especial atenção e abordagem na Filosofia Teórica e prevaleceram, especialmente, na Metafísica e na Teologia. A necessidade é concebida, nesse âmbito, em linhas gerais, como “o que não pode não ser”, por exemplo: as partes de um triângulo, a perfeição de Deus etc. Segundo Abbagnano, “esta é a definição nominal tradicional que constitui também uma das noções mais uniforme e fortemente estabelecidas na tradição filosófica” (1962, p. 675). Essa discussão avançou quando se passou a distinguir verdades eternas das verdades factuais. Fazem parte das primeiras, os resultados da geometria, da matemática e da teologia; das segundas, os assuntos históricos e políticos. O primado da necessidade, na filosofia, no entanto, perdurou e é conhecida como necessitarismo, indicando o conjunto das doutrinas que dão lugar eminente à necessidade ou se valem sistematicamente desse conceito. A análise dos acontecimentos humanos, priorizando os conceitos de causa, substância, destino, providência e progresso, tende a cair no necessitarismo e, consequentemente, na negação da liberdade e da contingência.
Não é essa perspectiva que interessa a Hannah Arendt, embora suas reflexões sobre esse assunto, de alguma forma, herdem aspectos dessa discussão. As observações que colhemos sobre a necessidade e a liberdade têm como perspectiva, na autora, o trabalho de compreensão dos acontecimentos políticos e sociais na modernidade e no mundo contemporâneo. A necessidade, para a autora, é relacionada ao necessitarismo próprio aos repetitivos 38
Necessidade e liberdade em Hannah Arendt
processos inerentes aos ciclos vitais, tanto em sua dimensão biológica quanto econômico-social. Já a liberdade é entendida como âmbito do propriamente humano, ligada à capacidade de realizar com os outros, através da fala e da ação, o mundo humano com suas leis, espaços e significações.
Nossa hipótese, nesse artigo, visa mostrar, em linhas gerais, como é produtivo e esclarecedor ler a obra e compreender o pensamento de H. Arendt a partir desse par conceitual. Essa
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