O CONHECIMENTO E VERDADE: BASES PARA A EDUCAÇÃO PERENE
Por: Alcemyr Costa Alves • 10/12/2020 • Trabalho acadêmico • 1.772 Palavras (8 Páginas) • 226 Visualizações
CONHECIMENTO E VERDADE: BASES PARA A EDUCAÇÃO PERENE
Alcemyr Costa Alves[1]
INTRODUÇÃO
A educação é um dos pontos centrais para o desenvolvimento do ser do homem, seja de um determinado povo, cultura ou nação. Contudo, é perceptível uma multiplicidade de concepções do que seja realmente educar. Essa diversidade é gerada devido a ideologias e pensamentos baseados e fundamentados em filosofias modernas e contemporâneas. Entretanto, existe uma concepção clássica do que seria a educação que parte da ideia de conhecimento e verdade, que geram um aperfeiçoamento do ser humano e o conduzem a contemplação.
Na tentativa de apresentar essa visão clássica, é importante entender o que de fato é o conhecimento e assim determinar em quais pontos ocorrem os desvios da essência da educação.
CONHECIMENTO E VERDADE E SEUS PRESSUPOSTOS
Na tentativa de preencher seu vazio interior, o homem busca desde o início do pensamento filosófico um fundamento de tudo. Especialmente na antiguidade, deu-se o nome de archè a esse fundamento. Com a evolução do pensamento, novos argumentos eram encontrados e o suposto archè, era pensada segundo suas características, sendo seus principais exemplos os quatro elementos da natureza.
É possível notar assim uma busca primária por conhecer de maneira mais profunda as realidades que circundam o homem, em especial o mundo no qual está inserido. Desse modo, o homem passa a refletir sobre si e posteriormente sobre o que está além de si. Neste contexto, se encontra um aspecto inato de todo ser humano: a busca de conhecimento. Este chega as vezes ser confundindo com obstinação e não depende apenas da cultura, porque ao longo da história os diversos povos encontram ou mesmo criam explicações para suas dúvidas, sejam elas superficiais ou basilares. Percebe-se então que o homem é um ser pensante e reflexivo de si mesmo e do meio, que busca sentido nas coisas ao seu redor e de modo especial daquelas que estão ligadas à sua existência e as suas ações. O ápice desse esforço são as ideias metafísicas e transcendentais, de maneira particular, por meio da ideia de Deus.
Toda essa procura por conhecimento se enraíza num princípio: de encontrar a verdade, sendo que as explicações simplórias e/ou falaciosas não satisfazem o homem. Como vai dizer João Paulo II, Papa, em uma de suas cartas encíclicas, Fides et Ratio: “Deus colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e de conhecer a si mesmo, para que, conhecendo-o e amando-o, possa chegar também a verdade plena sobre si próprio” (S. JOÃO PAULO II, 1998, p. 5)
João Paulo II concorda então com o pensamento de Aristóteles, que afirma ser o saber o desejo de todos os homens, onde se nota que o objeto próprio desse saber é a verdade. Conhecendo então essa premissa é mister entender o que é a verdade. Segundo Santo Agostinho (430), a verdade é necessária e imutável. Assim, não poderia haver uma disparidade entre o conhecimento antigo e o atual, o que de fato não ocorre, dado que apenas o modo de enxergar as reflexões é que muda, abrindo novos entendimentos de uma mesma coisa que sempre foi e não pode deixar de ser[2]. Muito ainda se utiliza do que se pensou séculos atrás desde os primórdios da humanidade. Apesar de entender que a verdade é imutável, não se pode afirmar que seja possível alguém encontrar ou conter uma verdade absoluta, dado que mais de uma percepção é possível e até mesmo a mudança de interpretação ao longo do tempo, aonde denota-se que não se pode conhecer o todo de tudo.
Para se chegar ao conhecimento verdadeiro, muito é especulado, passando por mitos e percepções do sensível, elaborando-se dessa forma explicações convenientes a cada povo e época, mas isso não satisfaz a vivaz busca do indivíduo por preencher o vazio da ignorância. A percepção das incoerências e a conclusão de que algo não é verdadeiro geralmente desperta um sentimento de enganação e rejeição por aquilo que está conhecendo; por outro lado, quando se encontra a verdade, a satisfação é iminente. Retomando Santo Agostinho, quando este discorre sobre a idade adulta, é possível identificar também a maturidade a que chega o indivíduo que busca conscientemente a verdade. Na sua visão, a idade adulta proporciona a capacidade de diferenciar o que é falso e o que é verdadeiro, formando um juízo pessoal sobre a realidade objetiva das coisas.
A percepção da necessidade do conhecimento científico que conduz o ser pensante para a realidade verdadeira não se pauta única e exclusivamente na ciência pragmática, porque essa se limita e exclui postulados profundos, que para seu método é tido como infundado. Essa perspectiva se expressa na filosofia que se classifica como uma ciência reflexiva e que vai além do cientificismo, ainda que se possa englobá-lo. Essas ideias e reflexões, não passíveis de análise experimental, são o que em voga geram a realização humana, pois delas partem as ideias do intelecto que faz uso da ciência natural, não se prendendo na contingência do sensível, mas a utiliza, pois a realidade das coisas criadas é uma espécie de expressão da verdade transcendente. Santo Agostinho explica:
Tudo aquilo que toco com meus sentidos corporais, este céu ou esta terra, por exemplo, ou todos os outros corpos que posso perceber, quanto tempo tudo isso existirá, eu não sei; mas sete e três são dez, não só agora, mas sempre, e não há como sete e três não terem sido dez um dia, nem como possam um dia não ser dez. (S. AGOSTINHO, De Libero Arbitrio II; 8,21)
Toda essa busca pela verdade leva o homem a respostas fora de si mesmo, e o que um dia foi um mito ou mesmo uma história para determinar uma incompreensão se aprofunda e dá lugar ao ser superior. O resultado desse caminho é que a iluminação divina fornece ao entendimento humano o objeto de ciência que o real sensível não pode oferecer. É fato que as coisas são estímulos para o conhecimento, mas a causa que o torna ciência concreta são as ideias e elas não dependem das coisas. Dessa forma, a verdade se encontra propriamente no intelecto humano, embora as coisas sensíveis possuam um reflexo da verdade que desperta sua percepção.
René Descartes (1650) esforçou-se em definir uma metodologia para encontrar o que ele chamava de “verdadeiro conhecimento”. O que estivese acima de qualquer dúvida seria absoluto, irrefutável e inquestionável. Para seu objetivo desafiador, ele desenvolveu um novo método, já que tudo o que havia estudado não era substancial. Seu método ficou conhecido como “dúvida hiperbólica” ou ainda “dúvida metafísica”. Tinha como base rejeitar toda e qualquer ideia passível de dúvida, inclusive sua opinião sobre a verdade e analisar seu fundamento reconstruindo e restabelecendo essa ideia, criando uma sólida base para o conhecimento.
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