O Ensaio Sobre O Filho Natural de Diderot
Por: jhf18 • 18/11/2018 • Projeto de pesquisa • 1.325 Palavras (6 Páginas) • 537 Visualizações
O ensaio sobre O Filho Natural de Diderot feita por Franklin de Matos em 'A Dramaturgia do Quadro' se propõe a analisar o conceito de quadro com base na estética do teatro de Diderot, em especial "Filho Natural", com o intuito de refletir o teatro como um modelo da pintura, relacionando o gênero dramático com o épico.
Nas 'Conversas sobre o filho natural', o filósofo e escritor francês Denis Diderot (1713-1784) propõe uma reflexão sobre o modo como é realizado o teatro francês, destacando o conceito de 'quadro', propondo uma reformulação em suas possíveis funções.
Segundo Matos (1996), as conversas sobre o filho natural não oferecem somente uma reflexão sobre a peça, mas principalmente uma revisão sobre o espetáculo e o formato do teatro francês, relacionando sua prática na Antiguidade com o teatro inglês moderno, do século XVIII, chamado por Diderot como a "dramaturgia do quadro".
O autor sugere que algumas obras de Diderot, entre elas o Filho natural, não tenham sido estudadas com dedicação por alguns autores e estudiosos no assunto. Segundo ele, a obra de Diderot propõe uma nova estética para a dramaturgia, definidas pelo "outro eu" de Diderot.
Além disso, relaciona o fundamento de beleza nas artes com o conceito de verdade na filosofia, associando ambos com uma espécie de "ordem natural" das coisas, fundada pela natureza, que busca ser imitada por meio da razão poética.
Para que se possa aproximar à natureza, é preciso que se estabeleçam regras da criação artística. Uma delas compreende que é preciso uma relação de obediência para representar a natureza de maneira conveniente, onde os acontecimentos tenham uma relação entre si, por ligações necessárias, e mantenham uma certa duração, para que o espectador não perca sua atenção por outros objetos.
Já o conceito de unidade de espaço, pode ser dispensável, uma por ser dificultoso seu uso em pequenos espaços, diante disso é proposto que a decoração seja alterada de acordo com a cena em que se está atuando. Neste sentido ele propõe que a decoração da peça de teatro possa ser alterada de acordo com o local onde acontece cada cena, mudando o quadro onde ela é apresentada. Além disso, propõe uma estética específica para cada objeto, caráter ou situação na peça, interferindo na probabilidade da peça como um todo.
O papel do poeta dramático não está somente em seu discurso, mas na maneira como este discurso é proferido, por meio de palavras, gritos, pausas, onomatopeias, palavras inarticuladas, vozes entrecortadas, intervalos, etc. É necessário que se tenha uma grande paixão por sua personagem, para que possa fazê-la se expressar bem, pois o belo discurso é feito por meio das paixões.
O intuito do discurso é agrupar e ordenar, já as palavras cortam e separam, as ideias articuladas passam a ideias amontoadas, à meros esboços desconectados. Das palavras desconexas se seguem às sílabas separadas, podendo usar o monossílabo, o ruído, o grito e o silêncio.
Diderot atribui um privilégio a todos os componentes pré-verbais no espetáculo teatral, em favor da verdade e da expressão, imaginando e criando um "teatro dos acentos", onde aparecem como marcas dos diferentes modos de se expressar por meio da linguagem.
Deste modo, o espectador poderá captar os acentos da paixão, sem se prender totalmente ao texto escrito, o ator poderá utilizar sua liberdade criativa para repetir as palavras que acredita ser mais necessárias, retomar temas, retirar ou reforçar algo.
Esse procedimento possibilita uma recriação da peça, onde o ator coloca no discurso tudo o que ele possui, de maneira espontânea e autêntica, apresenta o discurso do modo como se sente envolvido com ele, possibilitando aos espectadores sentirem a intensidade e a autenticidade da peça.
Porém, Diderot, em sua composição estética, também dá importância à "cena muda", podendo ser utilizada simultaneamente com a cena falada, alternando lados do palco, estabelecendo um contraponto com relação ao conceito de "discurso", sem que um tire a importância do outro.
O autor também comenta que, segundo Diderot, o chamado "espírito da poesia" trata-se de sua possibilidade de relacionar diversas ideias a uma única expressão, transformando o discurso sucessivo em linguagem simultânea. Estabelece uma relação de proporção inversa entre a linguagem e o discurso, que, quanto mais enérgico e poético, menos linguagem.
Poderia inclusive entender que o discurso mais enérgico e poético fosse reduzido à apenas uma palavra, a um gesto, e até mesmo ao silêncio. Deste modo, a linguagem gestual estaria mais próxima da natureza, exprimindo diversas ideias e sentimentos ao mesmo tempo, incapaz de se estabelecer uma língua articulada, transformando a simultaneidade em sucessão.
O gesto, para Diderot, está sobretudo relacionado com a palavra, acompanhando a palavra em seu mesmo sentido, para alcançar o mesmo fim, possibilitando um quadro fiel de nossa alma e ideias. Porém há uma oposição entre o quadro e o discurso, ou seja, entre a poesia e a pintura.
Para se estabelecer esta relação é necessário um processo indutivo, ao invés do dedutivo, indo do particular para o geral, ao invés do geral ao particular. Nem sempre o belo momento do poeta, será também o belo momento do pintor. O pintor deve optar por representar uma ação escolhendo o que agrada aos olhos.
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