O Fichamento do Prefácio do Texto Dialética ao Esclarecimento
Por: daflonbuba • 6/12/2021 • Resenha • 655 Palavras (3 Páginas) • 120 Visualizações
Fichamento do prefácio do texto Dialética ao Esclarecimento.
O objetivo dos autores com esse trabalho era, nada menos do que descobrir por que a humanidade está se afundando em uma nova espécie de barbárie, ao invés de entrar em um estado verdadeiramente humano. Entretanto, eles subestimaram as dificuldades de abordagem e exposição de tal tema, pois ainda tinham confiança na consciência do momento presente. Essa confiança teve que ser abandonada pois, no colapso da civilização burguesa, o que se torna problemático não é só a atividade humana, mas sim o sentido da ciência.
Nesse sentido, a infatigável autodestruição do esclarecimento força o pensamento a recusar o último vestígio de inocência em face dos costumes. Se a opinião popular atingiu um estado em que o pensamento se converte em mercadoria e a linguagem em seu encarecimento, então a tentativa de desvendar semelhante depravação tem de recusar a lealdade às convenções linguísticas e conceituais em vigor. O pensamento sobre as questões sociais, caso se tratasse apenas de obstáculos da instrumentação desmemoriada da ciência, poderia tomar como ponto de partida as tendencias opostas à ciência oficial, entretanto, elas também estão presas no processo global de produção e não se modificaram menos do que a ideologia à qual se referiam. Logo, se passa com elas o mesmo que sempre sucedeu ao pensamento triunfante: se ele sai, voluntariamente, de seu elemento crítico como mero instrumento a serviço da ordem existente e tende, contra sua vontade, a transformar aquilo que escolheu como positivo em negativo.
Ao tomar consciência da própria culpa, o pensamento se vê privado não só do uso afirmativo da linguagem conceitual cientifica e quotidiana, mas, também, da linguagem da oposição. Pois, não há mais expressão que não tenda a concordar com as diretrizes do pensamento dominante e, aquilo que foge à regra, é suprido com precisão pelos mecanismos sociais que agem de forma mais minuciosa que qualquer censura, evidenciado no campo do cinema, no processo que se submete um texto literário, entre outros. O cerceamento da imaginação teórica preparou o caminho para o desvario político, assim como a proibição que sempre abriu portas para um produto mais tóxico ainda.
Em decorrência de tudo o que foi dito até agora, o primeiro objeto que esse trabalho irá investigar é a “Autodestruição do Esclarecimento”, tendo em vista que a liberdade na sociedade é inseparável do pensamento esclarecedor. Contudo, as formas históricas concretas e as instituições sociais contêm o germe para a regressão em vigor. Se o esclarecimento não reconhece e não acolhe para si a reflexão sobre esse elemento regressivo, ele sela seu próprio destino, pois o pensamento cegamente pragmatizado perde seu caráter superador e, com isso, sua relação com a verdade. A causa da recaída do esclarecimento na mitologia deve ser buscada no próprio esclarecimento paralisado pelo temor da verdade.
Com o objetivo de libertar o esclarecimento da dominação cega, é criado o primeiro estudo que procura tornar mais inteligível o entrelaçamento da racionalidade e da realidade social, bem como o entrelaçamento do primeiro com a natureza e a dominação desta. O primeiro estudo pode ser reduzido, em sua parte crítica, em duas teses: o mito já é esclarecimento e o esclarecimento acaba por reverter à mitologia. A primeira tese acompanha a dialética do mito e do esclarecimento na Odisséia, caracterizando-o como um dos mais precoces e representativos testemunhos da civilização burguesa ocidental. Já a segunda, ocupa-se de Kant, Sade e Nietzsche, mostrando como a submissão de tudo aquilo que é natural ao sujeito autocrático culmina exatamente no domínio de uma natureza e uma objetividade cegas.
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