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O Pensamento Patristico e Escolástico sobre Deus

Por:   •  10/5/2020  •  Trabalho acadêmico  •  1.997 Palavras (8 Páginas)  •  262 Visualizações

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    Desde os primórdios da filosofia, existiram várias formas e diversas teorias distintas para definir quem é Deus e se ele existe. Com o advento do helenismo, propagado por Alexandre Magno é fornecido assim um pano de fundo político e cultural que permite a aproximação entre diversas culturas, uma dessas aproximações se dá entre a cultura judaica e a filosofia grega, que tornará possível mais tarde o surgimento de uma filosofia cristã. Com o surgimento do cristianismo como religião, ele vem a se propagar e a expandir-se por regiões diversas.  Essa difusão do cristianismo foi um processo paulatino que se desenvolveu ao longo de alguns séculos até sua consolidação com o imperador Constantino (batizado em 337) 5 e sua institucionalização como religião oficial do Estado no Império Romano (391). Junto com isso surge a necessidade de uma fundamentação e um arranjo mais solidificado das doutrinas  para uma melhor aceitação tanto dos gentios (pagãos), quanto da própria estrutura religiosa que poderia ruir diante dos ataques dos “hereges”. Nasce assim dois movimentos filosóficos cristãos para tal estruturação e defesa da fé, dentro de um período denominado Medieval, a Patrística que abrange do século IV a VIII que focou na disseminação dos dogmas associados ao Cristianismo, por exemplo, defendendo a religião cristã e refutando o paganismo, e a Escolástica que vai aproximadamente do século IX ao XVI, que através do racionalismo, tentou explicar a existência de Deus, do céu e do inferno, bem como as relações entre o homem, a razão e a fé. Utilizando princípios físicos, metafísicos, espirituais e intuitivos, esses pensadores, conhecidos como pais/padres (os primeiros teóricos) da Igreja formularam bases racionais para a fé cristã usando princípios filosóficos gregos. O que mais se destaca dentro da Patrística é Santo Agostinho (354-430) e na escolástica são, Santo Anselmo(1033-1109), que é considerado o pai da escolástica  e São Tomás de Aquino (1225-1274), o mais proeminente expositor desse período. Importante destacar que os estudos de Tomás de Aquino estiveram inspirados no realismo aristotélico, enquanto que os de Santo Agostinho estavam voltados para o idealismo de Platão. Para que esses dois grandes movimentos filosóficos cristãos se levantassem alguém preparou o caminho dando um pontapé inicial, esse alguém foi Fílon de Alexandria, também conhecido como Fílon, o Judeu (25 a.C.-50 d.C.), um judeu helenizado que viveu em Alexandria, e produziu uma série de comentários ao Pentateuco, aproximando-o da filosofia grega, principalmente do platonismo. Encontramos em Fílon uma aproximação entre a cosmologia platônica no Timeu e a narrativa da criação do mundo no Gênesis. Abrindo assim o caminho para a síntese entre cristianismo e filosofia grega.

   Com o advento da filosofia patrística e do cristianismo, originaram-se novas concepções de Deus, que desafiaram o pensamento filosófico. Todavia, era necessário mostrar que esses problemas e respectivas soluções não contradiziam a razão, isto é, que a fé não se contrapunha à racionalidade. Entretanto, a filosofia agostiniana e, conseguinte a filosofia cristã como tal, atinge o seu auge, por meio do pensamento de Agostinho e da sua concepção em torno de Deus, uma vez que sua filosofia é uma interpretação própria de sua vida, na qual se resume em uma busca ininterrupta de Deus.  O conceito agostiniano a respeito de Deus é o ápice da filosofia cristã, pois nos apresenta provas sobre o problema da existência de Deus, que são desenvolvidas através de uma experiência interior. “Aliás, fazendo um paralelo entre o conhecimento sensível de Deus e a ordem do conhecimento intelectivo, pode-se dizer que Agostinho começa pelo conhecimento mais evidente: o sensível possui um sentido exclusivamente próprio isto é não se limita a um único sentido, mas, pelo contrário pressupõe a existência de uma força superior, ou seja, a faculdade de julgar os sentidos, a saber: de um sentido interior. Já o conhecimento intelectivo é aquele guiado e dominado pela razão: “Acima da razão está à verdade que julga e modera a razão” (BOEHNER; GILSON, 1998, p.155).  Torna-se claro assim que a prova de Agostinho da existência de Deus outra não é senão a síntese de sua experiência pessoal. Experiências essas que foram adquiridas no curso de sua libertação filosófica que se tornaram outros meios de aproximação de Deus, pois, de racionalista transforma-se em defensor intransigente da fé. Porém, na filosofia agostiniana, a teoria do conhecimento é inseparável da prova da existência de Deus, porque, sempre estava convicto de que existia um Deus que através do conhecimento e da fé o homem alcançaria a contemplação que o conduziria a ele. Em outro ponto  Agostinho investiga sobre o livre arbítrio, que primeiramente, corrobora na existência de Deus. Depois, prova que o livre-arbítrio é um bem e que, por conseguinte, provém de Deus, pois, dá ao ser humano a faculdade de discernir. Mas, para chegar à existência de Deus, segundo Agostinho, é preciso partir do único ser que pode fazer tal investigação: o homem. Agostinho através dessa certeza implica que há três verdades: pensar, viver e existir. “O sujeito que pensa não pode pensar sem viver, nem viver sem existir, ele sabe que pensa que vive e que existe”. (BOEHNER; GILSON, 1998, p.154). Logo, Agostinho parte do homem porque, partindo da criatura mais completa, chega-se ao criador perfeito. Não que se consiga entender o criador, o que seria impossível, mas ao menos se consegue comprovar sua existência.

   Trilhando o sólido caminho de Santo Agostinho,  Santo Anselmo (1033-11090), pai da escolástica,  seguia também o seu credo ut intelligam, ou "creio para entender" e defendia a existência de Deus através do principio ontológico. Assim expõe Anselmo: 1) percebemos uma hierarquia nos seres, tanto específica quanto genérica, e para cada ser deve haver um exemplar, o mais perfeito; 2) pode-se conceber um ser mais perfeito do que todos; 3) pode-se conceber um ser acima do qual nada se possa imaginar; 4) este ser existe necessariamente, pois, se não existisse, não seria o maior, e negá-lo seria negar a hierarquia dos seres. O que Anselmo afirma é que nenhum ser pode surgir do nada, e subjacente a todos esses seres contingentes tem de estar um ser necessário. O argumento é fundado, quase que na sua totalidade, sobre o pensamento platônico, utilizando a demonstração a priori - algo rechaçada na Escolástica, que em geral dava preferência às provas a posteriori. Ele faz uma série de levantamentos de questões e afirmações que têm por objetivo, defender e de certa forma, provar a existência de Deus. “Deus é o ser do qual não se pode pensar nada maior.” (ANSELMO, 1973, p. 108). Quem compreende o que Deus é certamente não pode pensar que ele não exista, mas o poderia, se repetisse na mente a palavra Deus sem atribuir-lhe nenhum significado ou significando coisa completamente diferente.  (ANSELMO, 1973, P. 110). Se pudermos pensar algo e este algo se apresenta em nosso pensar como algo claro, não podemos questionar a sua veracidade existencial. Logo, pensar em Deus como Ele supostamente é, não podemos dizer de forma alguma que Ele não exista.  Se, pois, somos capazes de pensar em Deus, somos obrigados e assumir que Ele é existente. E se assumimos a sua existência nós o concebemos como Todo Poderoso. Mas, como pode ser todo Poderoso quem não é capaz de tudo? Deus não pode, por exemplo, sofrer das fraquezas da carne, pois Ele não é uma realidade sensível. E então como pode tudo se não pode Sofrer? Para tal questão Anselmo formula a resposta, “Quem é capaz de conhecer é capaz de sentir” (ANSELMO, 1973, P. 111). O cerne do pensamento de Anselmo diz que não podemos compreender o Divino como Ele é em sua essência, pois sua essência está muito além da nossa capacidade de compreensão. Por tanto dito isso, Deus na concepção anselmiana é algo existente e que está acima de todas as realidades, até mesmo da realidade pensante. Podemos pensa-Lo de modo que obrigue a sua existência, mas não podemos pensa-lo de modo que este pensar nos revele quem Ele é inteiramente. “Tu estás inteiro por toda a parte e a tua eternidade é inteira e imperecível” (ANSELMO, 1973, p. 122).

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