O Racionalismo e Empirismo
Por: Lucas Matheus • 31/7/2022 • Artigo • 1.723 Palavras (7 Páginas) • 146 Visualizações
PROST, Antoine. Doze lições sobre a história. Tradução: Guilherme J. de F. Teixiera. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
“{...} a disciplina chamada história é um a realidade, em si mesma, histórica, ou seja, situada no tempo e no espaço, assumida por homens que se dizem historiadores e que são reconhecidos como tais, além de ser aceita como história por diversos públicos. {...} a história é uma prática social.” (p.13)
“{...} A opinião dos historiadores de determinada época ou escola sobre sua disciplina é suscetível de uma dupla leitura: a primeira, ao pé da letra, empenha-se na concepção da história definida por seus textos; e a outra, mais distanciada, atenta ao contexto da história, decifra sua exposição metodológica ao identificar as múltiplas implicações desses documentos. {...} os historiadores que escrevem sobre a história - e, neste aspecto, não estamos fora do destino com um — estariam condenados a situar-se em relação a seus predecessores e seus contemporâneos da mesma disciplina, mas também em relação às corporações científicas semelhantes, com as quais a história mantém um a inevitável com petição pelo controle de um campo simultaneamente científico e social. Além disso, eles devem levar em consideração a sociedade em seu conjunto e em seus segmentos que, afinal, são os destinatários de seu trabalho e para quem essa história tem, ou não, sentido. Com o a história é, antes de ser uma prática científica, uma prática social ou, mais exatamente, com o seu objetivo científico é, também, um a forma de tom ar posição e adquirir sentido em determinada sociedade, a epistemologia da história é, por sua vez, em parte, uma história; o que é ilustrado, de maneira exemplar, pelo caso francês. No universo cultural e social dos franceses, a história ocupa uma posição eminente. Em parte alguma, ela está tão presente nos discursos políticos ou nos comentários dos jornalistas; em parte alguma, ela se beneficia de um status tão prestigioso. A história é a referência obrigatória, o horizonte incontornável de toda a reflexão.” (p.14)
“{...} apesar da posição marginal, inclusive inexistente, do ensino da história em numerosos países - a começar pelos EUA e a Grã-Bretanha —, seus habitantes não deixam de manifestar um sentimento bastante vigoroso de identidade nacional. Nos EUA, por exemplo, em toda a escolaridade até os dezoito anos, o lugar da história reduz-se, em geral, a um só curso, administrado durante um único ano. De fato, a construção da identidade nacional pode servir-se de um grande número de outros expedientes, além da história. {...} Entre os franceses, existe unanimidade para considerar que sua identidade — e, praticamente, sua existência nacional — passa pelo ensino da história: “Uma sociedade que, insensivelmente, retira a história de suas escolas é suicida”. Nada menos...” (p.16)
“{...} A França é, sem dúvida, o único país no mundo em que o ensino da história é um a questão de Estado {...} Na França, pelo contrário, a função identitária atribuída ao ensino da história acaba por transformá-lo em uma questão importante da política” (p.17)
“{...} a história foi ensinada nos liceus e colégios muito antes de ser incluída entre as matérias das faculdades. {...} Até a década de 1880, as próprias faculdades de letras estão orientadas para esse ensino {...} Os raros cursos de história eram ministrados a um público mundano, sob uma forma retórica, pelo professor encarregado, simultaneamente, de história universal e geografia mundial; foi necessário esperar pela derrota de 1870 e pela chegada dos republicanos para ser constituído, nas faculdades, o ensino científico da história com professores relativamente especializados, de alguma forma historiadores “profissionais” {...} um papel capital na formação das elites foi desempenhado pelo ensino médio que, bem cedo, entre suas matérias, incluiu a história: após uma tímida aparição nas escolas centrais da Revolução e um a inscrição de princípio nos programas dos liceus napoleônicos, ela se instalou realmente, em 1814, nos programas do ensino médio; e, em 1818, tornou-se matéria obrigatória, à razão de uma aula de duas horas por semana, a começar pela classe de cinquième até a classe de première.” (p.18)
“{...} o ensino da história emancipou-se, progressivamente, da tutela das humanidades para conquistar sua autonomia e avançar até a época contemporânea, ao passo que a compreensão panorâmica de ordem política e social acabou substituindo a memorização das cronologias e a enumeração dos reinos. Esta dupla evolução dos conteúdos e métodos deveu-se, em grande parte, à especialização progressiva dos professores de história: o princípio de um professor especial foi estabelecido, em 1818 - e confirmado, em 1830 pela criação de uma agrégation de história que permitiu formar e contratar um pequeno núcleo de historiadores qualificados. {...} era capital que a história fosse ensinada no curso médio por especialistas” (p.19)
“{...} A constituição pelos republicanos de um verdadeiro ensino superior na área das letras, nas últimas décadas do século XIX, serviu de coroamento a essa evolução. A agrégation tornava-se a via normal de recrutamento de professores especializados, formados daí em diante por historiadores profissionais das faculdades de letras; ela incluía um a iniciação à pesquisa com a obrigação de obter, previamente, o Diploma de Estudos Superiores (1894), predecessor da maîtrise” (p.21)
“{...} essa evolução direcionada para uma história mais autônoma, mais contemporânea e mais sintética foi conflitante; não foi uma evolução linear, mas uma sucessão de avanços e recuos, associados ao contexto político. A introdução da história como matéria obrigatória deveu-se aos constituintes, inspirados pelos ideólogos {...} a história ensinava, por definição, que os regimes e as instituições eram mutáveis; tratava-se de um empreendimento de dessacralização política. {...} “A história da França, em particular, deverá enfatizar o desenvolvimento geral das instituições do qual é oriunda a sociedade moderna; ela deverá inspirar o respeito e o apego aos princípios que servem de alicerce a essa sociedade”. O lugar da história no ensino médio remetia explicitamente a uma função política e social: tratava-se de um a propedêutica da sociedade moderna, tal com o ela procedia da R evolução e do Império.” (p.22)
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