PROBLEMA FILOSÓFICO: PROBLEMA DA NATUREZA DOS JUÍZOS MORAIS
Por: rafaelacgrande • 22/6/2020 • Ensaio • 1.541 Palavras (7 Páginas) • 2.198 Visualizações
Os valores
Problema filosófico: problema da natureza dos juízos morais.
Questão filosófica: Qual é a natureza dos juízos morais? Serão os juízos morais crenças? Se sim, essas crenças são objetivamente verdadeiras ou falsas? Em caso negativo, de que perspetiva/teoria depende a sua verdade ou falsidade?
Subjetivismo moral
Tese: Sobre esta questão vou defender a tese de subjetivismo moral que defende que os juízos morais podem ser verdadeiros ou falsos, ou seja, têm valor de verdade. Contudo, a sua verdade não é objetiva que varia de acordo com o ponto de vista. Os nossos juízos morais baseiam-se nos nossos sentimentos e, como os sentimentos são subjetivos, nenhum juízo moral é objetivamente certo ou errado.
Argumentos: O argumento de desacordos baseia-se na constatação de que não é muito frequente haver amplos consensos relativamente a questões morais, como o aborto, a eutanásia, etc. Esta discordância de opiniões encontra o eco no ditado popular “Cada cabeça, sua sentença” . Neste sentido, algumas pessoas podem ser levadas a pensar que, ao passo que a ciência é objetiva, pois possui um núcleo mais alargado de matérias consensuais, a ética é um domínio onde cada um tem a sua opinião e, por consequente, está condenada a ser meramente subjetiva.
(1)Existem amplos e profundos e profundos desacordos no que diz respeito ao valor da verdade dos juízos morais.
(2)Se, além das nossas preferências pessoais e subjectivas, houvesse um domínio de factos morais ao qual pudéssemos apelar, então tais desacordos não teriam lugar.
(3)Logo, não há um domínio de factos morais além das nossas preferências pessoais e subjectivas.
Solidez dos argumentos: A premissa 1 limita-se a constatar a existência de amplos e profundos desacordos no que diz respeito ao valor da verdade dos juízos morais. Por exemplo, algumas pessoas julgam que o juízo “A eutanásia é moralmente errado” é verdadeiro, outras pensam que é falso.
A premissa 2 afirma-se que caso houvesse um domínio de factos morais ao qual pudéssemos apelar para resolver essas divergências, seria de esperar que, tal como acontecimento na ciência, houvesse um núcleo mais alargado de matérias consensuais em ética.
Por fim, conclui-se, por modus tollens, que não há domínio de factos morais além das nossas preferências pessoais e subjectivas.
Objeções/Críticas: Como objeções à teoria do subjetivismo moral, temos que o subjetivismo tornaria impossível a existência de desacordos genuíno, ou seja, de acordo com o subjetivismo duas pessoas fazem juízos morais aparentemente opostos estão na verdade a dizer que têm sentimentos diferentes, por exemplo quando o Afonso afirma que “A eutanásia é errada” e a Rita afirma que “A eutanásia não é errada”, o desacordo que há entre eles é evidente, pois o que o Afonso está a dizer é que não aprova a eutanásia e o que a Rita está a dizer é que não reprova a eutanásia, mas as proposições “O Afonso não aprova a eutanásia” e “A Rita não reprova a eutanásia” não são incompatíveis. E como outra objeção, temos o problema que somos moralmente infalíveis, ou seja, de acordo com o subjetivismo, cada um dos nossos juízos morais reporta-se às nossas preferências subjetivas e sinceras, logo estamos a fazer uma afirmação verdadeira sobre as mesmas. Isto significa que, por mais estranho que um dado juízo moral nos pareça (seja ele: «O genocídio de milhões de judeus é correto» ou «Não há nada de errado em torturar inocentes por prazer»), ele não poderá ser falso, o que implica que somos moralmente infalíveis. O que se torna absurdo, pois se fossemos moralmente infalíveis, nunca teríamos boas razões para mudar a nossa opinião em relação às questões morais. E é possível que já tenhamos tido uma experiência de mudar de opinião em relação às mesmas por sentimos que estávamos errados, logo, o subjetivismo moral tem de ser falso.
Objetivismo moral
Tese: Sobre esta questão vou defender a tese de objetivismo moral que acredita que os juízos de valor podem ser verdadeiros ou falsos – têm valor de verdade – e que essa verdade ou falsidade não depende dos pontos de vista, de sentimentos ou de gostos, sejam estes individuais ou coletivos.
Argumentos: Assim pode dizer-se que para o objetivista quando alguém afirma «algo é errado» está a afirmar «independentemente das nossas preferências pessoais ou conveções colectivas, há boas razões para se reprovar algo» e quando alguém afirma «algo é correto» está a afirmar «independentemente das nossas preferências pessoais ou conveções colectivas, há boas razões para se aprovar algo».
(1)Há juízos morais que são (não são) justificáveis de um ponto de vista imparcial.
(2)Se há juízos morais que são (não são) justificáveis de um ponto de vista imparcial, então há juízos morais objetivamente verdadeiros (falsos).
(3)Logo, não há juízos morais objectivamente verdadeiros (falsos).
Solidez dos argumentos: A premissa 1 estabelece que certos juízos morais, como por exemplo, «A escravatura é justa», não podem ter uma justificação imparcial. Por exemplo, as razões que o esclavagista apresenta a favor do seu direito a possuir escravos não são imparciais e o escravo não defende essas razões. Este tipo de exemplos mostra efetivamente há juízos morais que não são justificáveis de um ponto de vista imparcial.
Na premissa 2 acrescenta-se que o facto de haver juízos morais com razões a seu favor que qualquer ser racional pode assumir como suas mostra que existe uma certa forma de objetividade em ética, ou seja, mostra que os juízos morais são objetivamente verdadeiros.
Objeções/Críticas: Como objeções ao objetivismo moral, temos o argumento dos desacordos, ou seja, há alguns autores que encaram a ciência como modelo de objetividade e encaram o amplo consenso no que diz respeito aos aspectos principais da maioria das investigações neste domínio como um forte indício a favor dessa objetividade. Contudo, constatam que o mesmo não se verifica na ética e, no que diz respeito a problemas éticos, o mais comum é haver um forte desentendimento, mesmo entre especialistas. Daí concluem que a ética não pode ser objetiva. Como outra objeção, temos o argumento da estranheza que afirma resumidamente o seguinte: o objetivismo pressupõe a existência de propriedades estranhas, pois seriam propriedades reais e objetivas das coisas, mas que simultaneamente teriam a capacidade de incitar todo e qualquer agente moral a agir de certa forma. Contudo, não parece existir nada no mundo com essas características. Logo, o objetivismo é falso.
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