Quando o outro entra em cena, nasce a ética
Artigo: Quando o outro entra em cena, nasce a ética. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: lucaslopesboi • 19/9/2014 • Artigo • 300 Palavras (2 Páginas) • 439 Visualizações
QUANDO O OUTRO ENTRA EM CENA,
NASCE A ÉTICA
sua carta tirou-me de grave embaraço, para colocar-me
em outro de igual gravidade. Até agora tenho sido eu (e
não por decisão minha) a abrir a discussão, e quem fala
primeiro fatalmente interroga, esperando que o outro responda.
Daí meu embaraço, ao sentir-me inquisitório. E
muito apreciei a decisão e humildade com que o senhor,
por três vezes, desafiou a lenda de que os jesuítas responderiam
sempre a uma pergunta com outra pergunta.
Agora, porém, sinto-me embaraçado para responder a
sua pergunta, pois minha resposta seria significativa se
eu tivesse tido uma educação laica e, pelo contrário, tive
uma forte influência católica até (para assinalar o momento
de uma ruptura) os vinte e dois anos. A perspectiva
laica não foi para mim uma herança absorvida passivamente,
mas o fruto, muito sofrido, de uma longa e lenta
mutação, e não estou certo de que algumas de minhas
convicções morais não dependam ainda de uma influência
religiosa que marcou minhas origens. Hoje, já em
idade avançada, vi (em uma universidade católica estrangeira
que tem em seus quadros professores de formação
laica e deles exige, no máximo, manifestações de respeito
formal no curso dos rituais religioso-acadêmicos) alguns
de meus colegas chegarem aos sacramentos sem
que acreditassem na “presença real” e, portanto, sem
que tivessem sequer se confessado. Com um frêmito, depois
de tantos anos, adverti ainda o horror do sacrilégio.
Todavia, creio poder dizer em que fundamentos se baseia,
hoje, minha “religiosidade laica” — porque acredito
firmemente que existem formas de religiosidade, e logo
sentido do sagrado, do limite, da interrogação e da espera,
da comunhão com algo que nos supera, mesmo na
ausência da fé em uma divindade pessoal e providente.
Mas isso, posso percebê-lo em sua carta, o senhor também
sabe. O que o senhor tem se perguntado é o que há
de vinculante, arrebatador e irrenunciável nestas formas
de ética.
Gostaria de tomar as coisas a distância. Certos
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