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REDESCOBRINDO O FEMINISMO ORIGINAL

Por:   •  24/5/2016  •  Pesquisas Acadêmicas  •  2.566 Palavras (11 Páginas)  •  494 Visualizações

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REDESCOBRINDO O FEMINISMO ORIGINAL

A chegada do novo milênio revelará um feminismo em patamar inteiramente diverso do que ele se constituiu, sobretudo a partir de meados deste século. Ele sai dos pequenos núcleos aos fóruns internacionais dos governos; das reflexões e formulações de demandas a um corpo teórico consolidado e em permanente evolução; dos grupos de auto-ajuda às políticas públicas institucionalizadas em todo o mundo.

A dimensão alcançada haveria que sugerir o quase esgotamento dos fundamentos de sua existência como expressão histórica organizada das demandas de um setor social determinado. Ao contrário. A análise da fase atual indica uma necessidade de que se retome o feminismo redefinindo seu rumo e suas práticas.

O que se teme é que "uma crítica legítima a alguns dos pressupostos anteriores possa descarrilar demasiado do projeto original do feminismo" (Barrett y Phillips).

O feminismo na sua gênese surge numa dimensão de radicalidade tanto no seu conteúdo como nas formas com que deu seus primeiros passos. Da simbólica queima dos sutiãs à construção da idéia de que as causas da opressão da mulher estavam no nível da estrutura social construiu-se uma ação e um pensamento essencialmente contestatórios. Este era um sentido comum à maioria das correntes, mesmo com as diferentes interpretações sobre o conceito de "estrutura" que "podia ser postulada como patriarcado, como um sistema econômico explorador ou como uma relação estrutural entre o lar e o local de trabalho” (Barrett y Phillips).

O que se presencia é o abandono de uma postura de confrontação e fortalecimento da autonomia como alternativa possível e necessária, centrando-se a discussão em temas ditados pela institucionalidade, como os referentes à negociação, governabilidade, resposta propositiva e pragmática co-responsabilidade com os convênios internacionais.

MUDANDO CONCEITOS E ESTRATÉGIAS

Um forte sentimento de perplexidade atinge muitas feministas que viveram o ascenso dos anos 80 com as manifestações de rua, os encontros massivos, as mobilizações visíveis.

A ausência daquelas fontes alimentadoras de energia provocou um imenso debilitamento orgânico, semelhante o impacto de certos processos sobre o corpo humano.

O feminismo assume uma nova dinâmica muito diferente da que vinha sendo vivida. “... Já não somos o que fomos. O feminismo se diversificou, tornou-se mais plural, expressou-se em múltiplas estratégias e diferentes espaços de atuação. Houve uma descentralização e uma crescente fragmentação que, por sua vez, tornou-o mais complexo, de alguma forma, levou-o à democratização da sua representação". No entanto, aspecto preocupante advém do fato de que "produziu-se, paralelamente, um crescente distanciamento da base social que expressava o movimento de mulheres da região” (Vargas).

A ação institucional passou a ser predominante, absorvendo seus melhores quadros e enfraquecendo seus fóruns autônomos.

Empurrado por mudanças estruturais, sobretudo no continente latino-americano, o feminismo redefine conceitos, reelabora estratégias, altera seus objetivos e suas práticas. E, em vez de um movimento social no sentido clássico da expressão, passa a ser caracterizado "como um campo discursivo de atuação/ação” (Alvarez).

Há elementos de avanços quando se afirma que ele "constitui um amplo, heterogêneo, policêntrico, multifacético campo... que se estende mais além das organizações ou grupos próprios do movimento” (Alvarez).

O que é secundarizado nesse debate é a diluição de suas instâncias autônomas de representação e o enfraquecimento orgânico de seus núcleos de base. Acrescentem-se aqui as alterações até nos métodos de pressão, sobretudo junto aos espaços de poder, substituindo-se as manifestações massivas pelos "lobbies" de especialistas.

A fragmentação temática que se expressa também na sua estrutura vem golpeando a necessária abordagem totalizante do combate às discriminações de gênero. Passou-se a construir espaços de dimensões específicas através das "redes” - inevitáveis para o aprofundamento dos problemas. A questão é que essa compartimentação não foi acompanhada de avanços nas articulações globais.

Com isso, o feminismo perdeu a dimensão de "universalidade material da espécie” (Valcárcel), e, conseqüentemente, a força de pressão que representava essa dimensão.

REORIENTANDO O MOVIMENTO

A nova posição alcançada pela mulher na sociedade, nesses últimos vinte anos, - relativa à sua participação no mercado de trabalho, seu papel junto à família e sua incorporação na política - se deu num contexto de mudanças estruturais no continente.

A substituição dos governos autoritários se fez já sob uma ofensiva neoliberal, com diferentes processos de implementação em cada país, readequando o Estado e as suas políticas à lógica do mercado e dos interesses do capital financeiro internacional. Este processo "cria e acentua diferenças em uma dinâmica permanente de exclusão/inclusão de indivíduos, grupos e classes sociais, de sistemas de produção e de comércio" (Pitanguy).

O impacto sobre o cotidiano das mulheres se expressa de forma contundente com a imediata visibilidade que assume a feminização da pobreza, com a redução das políticas sociais e com a perda de direitos conquistados (vide lei sobre previdência no Brasil).

No período da transição pós-mobilizações democráticas uma série de conquistas foram alcançadas. Muitas demandas do movimento feminista foram assumidas pelo Estado e suas instituições, transformadas em legislação, órgãos públicos (conselhos, ministérios, delegacias) e políticas de afirmação positiva (cotas nos processos eleitorais).

A institucionalidade estatal permitiu à própria mulher a compreensão da sua condição de sujeito de direitos. Ao mesmo tempo, ao absorver feministas em seus espaços este Estado qualifica e legitima suas intervenções específicas. No entanto, esta "é uma institucionalidade geralmente débil, com poucos recursos, sem poder de transversalidade, percebida como expressão menor dentro do aparato estatal e, em muitos casos, uma institucionalidade que vai perfilando mais os interesses dos partidos governantes que os complexos interesses das mulheres” (Vargas). Por exemplo, seria uma afirmação

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