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Resenha da Genealogia da Moral relacionada com o filme Marcas da Violência

Por:   •  3/7/2017  •  Trabalho acadêmico  •  1.177 Palavras (5 Páginas)  •  444 Visualizações

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Aluno: Iago Haniel Gonçalves Morais

Docente: Claudio Medeiros

DRE: 113152744

O desafio de relacionar a Segunda Dissertação da Genealogia da Moral com o filme Marcas da Violência, dirigido por David Cronenberg é um exercício inquietante. Nietzsche coloca que: “eis a utilidade do esquecimento, ativo, como disse, espécie de guardião da porta, de zelador da ordem psíquica, da paz, da etiqueta: com o que logo se vê que não poderia haver felicidade, jovialidade, esperança, orgulho, presente, sem o esquecimento.”

Podemos relacionar essa passagem com o personagem principal do filme (Tom Stall / Joey Cusack) interpretrado por Viggo Mortensen, que é o centro dessa relação do trabalho cinematográfico de Cronenberg com o texto discutido em sala.

A relação de Tom Stall com o seu tempo presente, com a sua familia construída em Millbrook na Indiana, antes do evento que desestabiliza seu “eu” construído após um processo de esquecimento realizado de modo voluntário, intencional é feliz, simples para os padrões de vida da sociedade norte-americana marcada pelo acúmulo de bens materiais.

“Esquecer não é uma simples vis inertiae [força inercial], como creem os superficiais, mas uma força inibidora ativa, positiva no mais rigoroso sentido, graças à qual o que é por nós experimentado, vivenciado, em nós acolhido” Nietzsche, Genealogia da Moral, segunda dissertação, pg 29

O evento desestabilizador dessa estrutura construída de forma proposital (desentabilizando inclusive ao logo da trama o próprio Tom Stall) nos trás a sensação de que Cronenberg propôs materializar atos que nós ocidentais realizamos periódicamente em um único personagem. O esquecimento proposital após uma experiência traumática, seja por parte de um indivíduo (por exemplo quando alguém muda de residência por causa da morte de um companheiro), seja por parte de um coletivo (Alemanha após a 2ª Guerra) é recorrente na história ocidental.

Com a visibilidade em cadeia nacional ocorrida de forma totalmente indesejada, não planejada após esse evento, o antigo “eu” do personagem (Joey Cusack) passa a se manifestar de forma cada vez mais recorrente e altera completamente a narrativa da trama. Ocorre um transição reversa (não planejada), da previsibilidade característica de Tom Stall, marcado por uma rotina tradicional de uma família branca, de classe média e interiorana na Indiana para a imprevisibilidade que marca a vida do seu antigo “eu” Joey Cusack.

Nesta transição reversa, mas que não é necessariamente restauradora da sua antiga identidade, o personagem perde ao longo da trama a capacidade de realizar promessas aos seus familiares (esposa e filhos). A sua antiga previsibilidade perante ele mesmo e a sociedade no seu entorno é colocada em xeque. A alteração do comportamento provocada pela transição do “eu” que se manifestava até o evento, para um “eu” que se manifestava no passado, altera o olhar do outro perante o indivíduo. Cronenberg ilustra com destreza esse cenário nos personagens da esposa de Tom Stall/Joey Cusack, Eddie Stall, no filho mais velho dele Jack Stall e no xerife da cidade de Millbrook, Sam Carney.

“Esta é a longa história da origem da responsabilidade. A tarefa de criar um

animal capaz de fazer promessas, já percebemos, traz consigo, como condição e preparação, a tarefa mais imediata de tornar o homem até certo ponto necessário, uniforme, igual entre iguais, constante, e portanto confiável.” Nietzsche, Genealogia da Moral, segunda dissertação, pg 30

A confiança nos atos de Tom Stall/Joey Cusack vai se esvaindo ao longo da trama. Com a previsibilidade e a capacidade de realizar promessas em xeque, a sua humanidade é questionada de forma cada vez mais enfática no enredo, á medida que o seu passado passa a se manifestar no seu presente. A relação dos personagens que “retornam” do passado para o tempo presente de Tom Stall/Joey Cusack provoca essa sucessão de questionamentos sobre a personalidade, caráter, moral dele. Pilares que determinam a humanidade de um indivíduo são demolidos aos poucos.

“Como fazer no bicho-homem uma memória? Como gravar algo indelével nessa inteligência voltada para o instante, meio obtusa, meio leviana, nessa encarnação do esquecimento?”... Esse antiquíssimo problema, pode-se imaginar, não foi resolvido exatamente com meios e respostas suaves; talvez nada exista de mais terrível e inquietante na pré-história do homem do que a sua mnemotécnica. “Grava-se algo a fogo, para que fique na memória: apenas o que não cessa de causar dor fica na memória”

Nietzsche, Genealogia da Moral, segunda dissertação, pg 31

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