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Resumo do Górgias de Platão

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Por:   •  19/9/2013  •  Seminário  •  7.487 Palavras (30 Páginas)  •  444 Visualizações

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Resumo do Górgias de Platão

O diálogo inicia-se com a chegada de Sócrates e Querefonte a casa de Cálicles, que pretendem, efetivamente, interrogá-lo acerca daquilo que ele é, já que desejam ser esclarecidos sobre a arte que Górgias exerce e, consequentemente, acerca do nome que lhe devem atribuir – «A minha intenção é perguntar-lhe Sócrates, qual é a virtude própria da sua arte e que arte é essa que ensina e professa. Verifica-se, perante estas duas problematizações colocadas pelo mestre da filosofia, a saber, a moral (qual a virtude da arte de Górgias) e a lógica (definição da retórica), o início de um confronto de argumentos, onde se diferenciam dois grupos distintos: o primeiro constituído por Górgias, Polo e Cálicles (defensores da retórica) e outro por Sócrates e Querefonte (no território da Filosofia). Durante o diálogo, Górgias, Polo e Cálicles vão elaborando definições, um tanto subjetivas e pouco rigorosas, da arte por eles praticada. O primeiro a fazê-lo é Polo que começa por se referir às experiências, afirmando que estas orientam a vida do homem, enquanto que a inexperiência fá-lo caminhar ao acaso; deste modo, Polo considera a retórica uma atividade empírica.

Para Cálicles, a retórica são os “recursos oratórios”, ou seja, o orador considera a retórica como um jogo de argumentos cuja finalidade é a persuasão do auditório. Por fim, Polo, Cálicles e Górgias concluem, definitivamente, o que é para eles a retórica e chegam à conclusão de que esta se refere às “coisas belas”; que “a arte que cultiva é a mais bela de todas” e, que é escolhida pelos melhores, por ser a melhor das artes. É, além disso, considerada uma arte universal por Cálicles, na medida que este faz alarde da sua omnisciência, da sua capacidade de responder a todas as perguntas que lhe desejem colocar.

O grupo dos oradores acaba por não definir a retórica, mas por valorizá-la e, ao ser valorizada, é colocada no plano da subjetividade, o mesmo é dizer no plano da aparência (da aparente possibilidade de chegar à verdade). Em suma, verifica-se, já, uma oposição radical entre os processos e as finalidades dos oradores (retórica e persuasão) e os dos filósofos (dialéctica e verdade).

O diálogo entre Sócrates e Górgias começa naturalmente com a definição de retórica dada por este último. É verdade que Górgias inicialmente, define a retórica como a arte dos discursos, para além, de se glorificar de ser um “bom orador” (plano da valoração). É, nesta sequência que Sócrates vai perguntar a Górgias: “És capaz de formar outros oradores?” Para Górgias, ensinar implica tornar os discípulos 'hábeis em discursos” e, isto é, para ele formar envolve, por um lado, a fidelidade de um discípulo ao ensinamento do mestre, ainda que os ensinamentos sejam falsos e, por outro, formar implica ensinar a seduzir o auditório. Deste modo, Górgias vem sublinhar o fato da retórica não se interessar pela verdade, limitando-se apenas à aparência e à ilusão - “toda a sua ação e eficácia se realizam através das palavras”, ou seja, pelos discursos. Górgias, colocando-se no plano da valoração, refere que a retórica não se ocupa de todo o tipo de discursos, mas daqueles que têm por objecto “os maiores e as melhores coisas humanas”. Por isso, ela constitui “o maior de todos os bens” (objecto específico), que confere liberdade para o orador e domínio sobre os outros na cidade, que significa o poder de persuadir por meio do discurso os juízes no Tribunal, os senadores no Conselho e o povo na Assembleia.

Segundo as palavras do orador conclui-se que, ao ser obreira da persuasão, a retórica é uma prática autocrática e injusta, que influencia na aplicação da justiça, na produção da lei e persuade os cidadãos, que se tornam escravos do orador – “com este poder farás teus escravos o médico e o professor de ginástica (…)”. Esta fala evidencia o estado de decadência do regime democrático grego. Górgias dá-nos, também, a conhecer que o objeto da retórica, no plano da moral, é o “justo e o injusto”. Esta definição do objeto da retórica vai fazer com que Górgias entre em contradição e seja apanhado pela armadilha moral. De fato, Sócrates vai desenvolver um raciocínio lógico em que vai obrigar Górgias a aceitar as suas conclusões e a reconhecer o caráter contraditório do seu discurso.

Efetivamente, Górgias vai concluir que o homem justo tem de exercer a justiça e a retórica tem de praticar a justiça, desmentindo os princípios de que partira. Através da distinção entre crer e saber, a retórica, ao persuadir o auditório, se coloca no domínio da crença (o orador seduz o auditório, que fica com uma ideia geral das teses e é, assim, persuadido pelo seu discurso argumentativo). Se a retórica está associada à crença e se o orador é dotado de força e poder, esta pode ser caracterizada como uma arte competitiva. De fato, enquanto a filosofia (uma arquitetura de conceitos) nos remete para o plano da verdade e do Ser, a retórica situa-se no plano da aparência e é esta conclusão a que Sócrates chega: “Não precisa a retórica de conhecer a natureza das coisas, mas tão-somente de encontrar um meio qualquer de persuasão que faça aparecer aos olhos dos ignorantes mais entendida do que os entendidos”.

Finalmente, Sócrates elabora a sua definição de retórica, referindo que esta não é uma arte pois não implica o saber, logo pertence ao plano da crença; considera-a uma atividade empírica, visto que provém das experiências; afirma que esta visa apenas o prazer do corpo e da alma; e, por fim, reconhece-a não como sendo uma arte, mas como uma ocupação que desenvolve um espírito intuitivo e empreendedor, consequência da prática da persuasão na assembleia. Para além disso, a retórica afasta-se do território do Ser para se aproximar do plano da aparência.

Logo, aparentemente a retórica não pode ser um discurso moral nem um discurso lógico, sendo, portanto, simplesmente uma adulação. Para chegar a esta conclusão, Sócrates admitiu a existência de quatro tipo de arte: as relativas ao prazer do corpo (a ginástica e a medicina) e as relacionadas com a alma (do lado do bom, do belo e do justo), a legislação e a justiça. Considera, também, quatro tipos de adulação: as do corpo (toilette e cozinha) e as da alma (sofística e retórica). Em suma, através de comparações, constata-se que a retórica é uma espécie de "cozinha da alma", porque ela é para a alma o que a cozinha é para o corpo, ou seja, não procura a saúde nem a beleza verdadeira, mas apenas aparente, superficial e artificial, interessa-se pelo prazer imediato e pode ser a ruína da saúde. Deste modo, a retórica é “um

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