Roberto Da Mata
Monografias: Roberto Da Mata. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: luizbalbinofilho • 7/10/2013 • 8.323 Palavras (34 Páginas) • 580 Visualizações
A SOCIOLOGIA DUAL
DE ROBERTO DA MATTA:
Descobrindo nossos
mistérios ou sistematizando
nossos auto-enganos?
Jessé Souza
RBCS Vol. 16 no 45 fevereiro/2001
Apesar das observações críticas que serão
desenvolvidas no decorrer deste artigo, quero,
antes de tudo, ressaltar a relevância da obra de
Roberto Da Matta para a ciência social brasileira.
Obra que se destaca pelo potencial inovador e pela
centralidade da reflexão filosófica, seja na indagação
acerca dos pressupostos da teorização científica,
seja no questionamento radical do que constitui
a singularidade de uma formação social.
Ao tentar descobrir “o que faz o brasil, Brasil”,
Da Matta propõe o questionamento de temas
tais como o que é indivíduo?, o que é democracia?,
o que são relações sociais?, como se compara
sociedades? e, acima de tudo, como se percebe
aquelas diferenças históricas e culturais que conferem
uma especificidade toda própria a cada sociedade
singular? Essas questões são essenciais posto
que remetem a uma reflexão de pressupostos,
permitindo a discussão daquelas indagações primordiais
que, numa concepção de ciência “pragmática”
e empiricista, já estão respondidas a priori.
E sabemos que é precisamente a expansão do
espaço da reflexividade que caracteriza a atitude
científica e é a discussão dessas questões primordiais
que permitem o pensamento crítico e inovador.
O dilema brasileiro para Roberto Da
Matta
No caso de Da Matta, o fio condutor mesmo
de sua reflexão já apontava para o desejo de
surpreender a realidade brasileira por detrás de
suas auto-imagens consagradas. Assim, em Carnavais,
malandros e heróis (Da Matta, 1981), seu livro
mais importante, essa tentativa é empreendida a
partir do estudo do cotidiano brasileiro, no estudo
dos seus rituais e modelos de ação portanto, que é
onde podemos reencontrar nossos malandros e
nossos heróis.
Desde o início, o esforço comparativo já tem o
seu “outro” privilegiado: os Estados Unidos. Interessa
a Da Matta demonstrar, numa oposição que irá
assumir inúmeras variações, por que nunca dizemos
“iguais mas separados” como lá, mas, ao contrário,
dizemos sempre “diferentes mas juntos” (Da
Matta, 1981, p. 16). A comparação, nesse sentido,
privilegia sempre o contraste, a contradição, e não o
familiar, o semelhante, o co-extensivo.
O método é o estrutural, enfatizando as possibilidades
de combinação alternativas e as ênfases
distintas de elementos dominantes e subordinados
de cada sistema social analisado. Assim, as catego48
REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 16 N o 45
rias mais gerais do raciocínio do autor, as de
indivíduo e pessoa, articulam-se de forma peculiar
em cada sociedade. O indivíduo, no Brasil, não
seria uma categoria universal e englobadora como
nos Estados Unidos, nem apenas o renunciante,
como na Índia. O indivíduo entre nós seria o joãoninguém
das massas, que não participa de nenhum
poderoso sistema de relações pessoais.
O indivíduo, entre nós, se definiria pela
oposição com o seu contrário: a pessoa. Esta, por
sua vez, se definiria como um ser basicamente
relacional, uma noção apenas compreensível, portanto,
por referência a um sistema social onde as
relações de compadrio, de família, de amizade e de
troca de interesses e favores constituem um elemento
fundamental. No indivíduo teríamos, ao
contrário, uma contigüidade estrutural com o mundo
das leis impessoais que submetem e subordinam.
Desse modo, teríamos no Brasil, ao contrário
tanto dos Estados Unidos quanto da Índia, um
sistema “dual” e não um sistema unitário. A questão
essencial para Da Matta, portanto, já está posta:
trata-se, no caso brasileiro, de perceber a “ dominância
relativa de ideologias e idiomas através dos
quais certas sociedades representam a si próprias”
(Da Matta, 1981, p. 23). Nesse
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