Texto Analitico
Ensaios: Texto Analitico. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: andersonjantorno • 26/11/2013 • 1.363 Palavras (6 Páginas) • 1.065 Visualizações
Deciframento do inconsciente, saber sobre a causa do desejo, transformação da posição subjetiva, mudança na relação ao gozo, são algumas das expressões utilizadas para dizer os efeitos da experiência analítica. Dessa forma, saber e mutação estão nesse horizonte, implicando uma desestabilização das ancoras do sujeito nas suas certezas, uma ruptura com a perenidade de suas repetições. Nesse sentido, é preciso pensar o que fazemos como ato, pelo ponto de vista da transformação, pois, ainda que uma análise passe várias vezes pelo mesmo lugar, ao fim, há uma mudança da posição do sujeito.
O que se deve ressaltar no ensino de Lacan, para chegar à sua formulação do ato analítico?
Primeiro, torna-se interessante indagar: o que é um ato para a psicanálise? O ato falho pode nos dar uma pista, sendo este um ato em que o desejo inconsciente vai mais longe que as intenções do sujeito. O ato é falho porque o sujeito se intromete. É somente numa retomada significante, que o ato falho tem valor de ato, pois o verdadeiro ato recupera a dimensão do sujeito numa temporalidade especial, no só-depois.
Lacan toma o ato analítico na perspectiva de realização. Algo está em potência e lhe falta uma causa eficiente que o transforme em ato, que o faça atual. A dialética entre ato e potência implica, de um lado, uma dimensão de mudança e de outro, uma dimensão temporal. Há um campo que permite situar um antes e um depois, ao tempo em que algo que era de uma maneira se transforma em outra. O que ressaltamos é que uma parte do simbólico quando emerge, cria seu próprio passado, gerando o equívoco de supor que estava ali desde sempre. O que nos leva a concluir que devemos situar o Outro, o simbólico, para ir além dele, ou seja, para ultrapassar as leis é preciso tê-las no horizonte. Tal dinâmica sem o ato seria impossível formular.
Nessa via, podemos afirmar que o ato analítico é sem Outro, mas é também sem sujeito, pois, está longe de ser uma intervenção subjetiva; ao contrário, a equação pessoal do analista é reduzida. Por conseguinte, se apresenta para ele como desprazer, realmente como horror, pois no momento do ato, o analista não se autoriza senão de si mesmo, quer dizer de nenhuma fantasia, de nenhuma identificação.
Lacan, baseando-se na lógica do dispositivo analítico, marca uma diferença entre o ato analítico e o que ele chama o ato verdadeiro. O primeiro, reenvia ao enquadre do desejo do analista, definindo-o como o que toma lugar de um dizer ordenando um fazer, ligado ao fato da determinação de um começo. O segundo, não é pensável sem o consentimento do sujeito. Ele diz, com precisão, que aquele que procura uma análise faz uma escolha a favor do inconsciente, mesmo que não o saiba; por isso o ato analítico, o ato criador de uma entrada em análise, fica a cargo do analista3 . Sendo pontual, contingente, atinge o sujeito no seu dizer ao responder a uma temporalidade que não é cronológica, mas lógica.
Sendo assim, o ato analítico tem por responsabilidade colocar em trabalho a transferência. O analista, no discurso analítico, ocupando o lugar de semblante, maneja a transferência a partir da causa analisante, para fazer aparecer o sujeito, então subsumido na angústia. A suposição de que há um sujeito que sabe, faz do inconsciente uma substância, a, que na transferência se manifesta através do que nomeamos Sujeito suposto Saber, um saber suposto a um sujeito de forma agalmática. Contudo, o inconsciente é algo da ordem do não realizado, do que não é, sendo necessário o ato, para que nessa falta, a invenção do saber se faça primordial.
Para ser possível a criação acontecer, a cada sessão o analista deve intervir para interromper os ditos do analisante, fazendo existir o intervalo; somente assim a questão do desejo pode se colocar. O analista não sabe a priori, ele espera uma palavra que tenha valor, ou seja, um acontecimento de palavra que faça encontro, acaso. Portanto, trata-se de saber, na experiência, em que momento e em relação a quais palavras o analista faz ato para provocar um efeito de riso, de sideração. Dizendo de outra maneira, irrompe a surpresa na imprevisibilidade do ato. Assim, ele se faz o lugar do registro, da palavra que permanece, do Outro e é em função disso que exigimos uma regularidade do paciente, pois, é a partir da transferência e do tempo da sessão, criado pelo ato, que se manifesta a inconsistência desse Outro, sua incompletude. Não se pode esperar dele o reconhecimento, nem mesmo a função de testemunha.
No Seminário “Os escritos técnicos de Freud”, Lacan acompanha Freud, afirmando que devemos “encontrar em um ato seu sentido de fala, já que se trata para o sujeito, de se fazer reconhecer”4. Um ato é uma fala. Temos que nos afastar, um pouco, dessa primeira idéia para chegarmos à concepção atual de ato analítico. Em primeiro lugar
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