Uma Breve História da Filosofia, de Nigel Warburton (Capítulo 35)
Por: Laura Kirschnick • 14/9/2021 • Trabalho acadêmico • 2.929 Palavras (12 Páginas) • 168 Visualizações
Athon Ensino Superior
LAURA KIRSCHNICK CARDEAL VASCONCELOS
RA 101200410
“Uma Breve História da Filosofia”,
de Nigel Warburton
(Trabalho Final)
Sorocaba - SP.
LAURA KIRSCHNICK CARDEAL VASCONCELOS
RA 101200410
Trabalho Final
Uma Breve História da Filosofia
[pic 1]
4 de junho de 2021, Sorocaba - SP.
Uma Breve História da Filosofia, de Nigel Warburton
Capítulo 35
O homem que não fazia perguntas
Hannah Arendt
A princípio, irei destacar uma introdução sobre o indivíduo referenciado e analisado pela filósofa Hannah Arendt:
“O nazista Adolf Eichmann foi um administrador esforçado. A partir de 1942, esteve no comando do transporte dos judeus da Europa para os campos de concentração na Polônia, incluindo Auschwitz. Isso fazia parte da “solução final” de Adolf Hitler: o plano de matar todos os judeus que viviam em terras ocupadas pelas forças alemãs. Eichmann não era responsável pela política da matança sistemática – não foi ideia dele. Porém, ele estava profundamente envolvido na organização do sistema ferroviário que tornou essa política possível.” (WARBURTON, Nigel. 2012, p. 129)
“Enquanto Eichmann ficava sentado em um escritório organizando papéis e dando
telefonemas importantes, milhões de judeus morriam como resultado do que ele fazia. [...] Na Alemanha nazista, os trens andavam no horário – Eichmann e pessoas como ele garantiam isso. Sua eficiência mantinha os vagões cheios.” (WARBURTON, Nigel. 2012, p. 129)
Destacando tudo isso, posso iniciar o meu entendimento sobre o assunto e como a ideia de Hannah Arendt pode ser aplicada em uma situação semelhante.
Hannah Arendt fez a maior parte do seu trabalho filosófico estudando o totalitarismo: como ele surgia, quais eram as suas carências, por que surgiram regimes totalitaristas no mundo, o que eles aproveitavam da natureza e da condição humana.
Foram várias as conclusões dela, mas eu acredito que a melhor forma de sintetizar é que ela viu nesses regimes, especialmente o de Hittler, uma vontade de criar um novo tipo de ser humano. Um tipo de ser humano que não tem vontade própria, que está a todo momento apenas servindo ao “todo”. Um ser humano que é apenas uma parte do mecanismo geral, ou seja, um coletivismo extremo.
Para Hannah Arendt, o conceito de vida era dividido em três outros grandes conceitos. O primeiro deles é o de atividade trabalhadora, que significa basicamente aquilo que nós fazemos para nos mantermos vivos e sobrevivermos, cabe aqui dizer a procriação, a alimentação, é algo comum a todos os seres humanos. O segundo é o operar, que ao contrário da atividade trabalhadora (onde estamos preocupados com a nossa sobrevivência), no operar nós estamos criando um mundo artificial que é completamente diferente do mundo natural (ex.: o marceneiro que faz cadeiras para comprar suas coisas, como uma televisão, um sofá etc.).
E por último nós temos o terceiro conceito que é o de ação, para Hannah Arendt a ação é a atividade puramente libertadora. Da forma mais básica para definir a ação: é a simples capacidade que nós seres humanos temos de colocar as coisas em movimento, a capacidade humana de pensamento, de externar esse pensamento para os outros, e principalmente onde nós exercemos o livre arbítrio. Mas a ação não pode existir simplesmente na nossa mente, ela ganha vida quando vai para o espaço de visibilidade pública, quando expomos nossas ideias para as outras pessoas. Esse conceito para a filósofa é essencial, nós estarmos com os outros, nesse espaço de visibilidade pública.
Podemos perceber que dessas três atividades, a única que está definindo o nosso livre arbítrio é a ação, a nossa capacidade criativa, imaginativa e libertadora de pensamento, de ação, de colocar as coisas em movimento. E é exatamente a ação política que é cortada nos regimes totalitários, o espaço público é diminuído. Os regimes totalitários tentam fazer com que todas as pessoas sejam peças que possam ser substituídas por outras.
Mas afinal, o que é o totalitarismo? Como o próprio nome diz, tem pretensões de mudar radicalmente a totalidade das instituições sociais, legais e políticas, e substituí-las pelo comando de um líder ou de um partido que movimenta as massas para impor as suas políticas. Digo “massas” pois o totalitarismo precisa, antes de tudo, criar condições em que os indivíduos são atomizados, isso quer dizer que eles perdem qualquer perspectiva social ou comunitária, até que chegam esses movimentos que dão a eles o senso de significado.
Então têm-se o colapso do sistema de classes e ao invés disso surge o “homem massa”, esse homem massa absorve individualmente o ressentimento de todas as classes, ou seja, tanto o pobre quanto o rico se sentem frustrados por alguma coisa. No caso do nazismo, era de uma conspiração que tem raízes históricas contra os judeus. Na visão deles enquanto a sociedade estava devastada, os judeus significavam no geral uma certa prosperidade, colocando neles a culpa por todos os problemas que estavam enfrentando.
Obviamente para essa narrativa funcionar, ela tinha que sair da racionalidade e criar teorias conspiratórias. Depois que se tem uma massa totalmente atomizada, o que acontece é uma propaganda fortíssima para satisfazer a visão de futuro do líder do regime. Então entra a importância de existir um inimigo em comum, porque é muito difícil convencer pessoas livres e educadas a concordar com um plano positivo de construção, pois a tendência em sociedades livres é que as pessoas discordem umas das outras cada vez mais, mas quando se escolhe um inimigo e faz propaganda massiva contra ele é muito mais fácil unir as pessoas, mesmo que sejam diferentes.
Por isso essa tática de criar um inimigo (e aqui cabe dizer um exemplo de situação que conheço), como Bolsonaro criou falando da esquerda ou Trump inventou falando dos imigrantes, é tão eficiente. Principalmente em uma sociedade com indivíduos atomizados e frustrados, no final disso tudo nós temos um movimento de massa e nele os indivíduos se tornam cada vez menos humanos, e características como pensamento livre e autonomia são extinguidos. As pessoas se tornam apenas mais um tijolo na parede, uma peça anônima da grande máquina. Então entra o conceito de banalidade do mal, criado por Hannah Arendt.
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