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A Condiçao Urbana

Por:   •  13/6/2016  •  Pesquisas Acadêmicas  •  3.309 Palavras (14 Páginas)  •  417 Visualizações

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A CONDIÇÃO URBANA

...As formas urbanas ganham assim outras dimensões, já não sendo associadas de maneira unívoca a uma atividade ou função. O comportamento, dinâmico e mutável, dos atores sociais é considerado de forma relevante, e surge toda uma gama de problemas e de requalificações do espaço, estranhas aos modelos de tipologias tradicionais. Este tipo de abordagem obriga também os geógrafos a uma colaboração mais estreita com profissionais de outras disciplinas que também vêm estudando o fenômeno urbano: arquitetos, sociólogos, antropólogos e historiadores. Pág.18

...Acreditamos, modestamente, que a geografia tem condições de demonstrar que as práticas e representações do poder têm uma incontornável dimensão espacial e que as formas de controle social e do direito se situam em uma posição de dependência direta em relação às disposições territoriais. Pág. 21

...Poderíamos mesmo dizer que essa “obsessão” de delimitar, denominar, classificar, em suma, ordenar o território, é uma condição fundadora do fenômeno social. ...percebemos a relevância deste processo de delimitação e classificação normativa do território como definidora de uma dinâmica própria e singular que estamos chamando aqui de nomoespaço. Pág. 36

...O espaço é hierarquizado, assim como os poderes que sobre ele são exercidos. Sua estrutura é complexa, assim como o são as disposições formais (da lei) que o regem e controlam sua dinâmica. A esse tipo de relação social com o território demos o nome de nomoespaço, ou seja, uma extensão física, limitada, instituída e regida pela lei. Trata-se de um espaço definido por uma associação de indivíduos, unidos pelos laços de solidariedade de interesses comuns e próprios, e pela aceitação e aplicação de certos princípios logicamente justificados. Pág. 37

Este nomoespaço é assim construído de maneira a exprimir relações formais de pertencimento, sobretudo de ordenamento. Assim, cada instituição social dispõe de sua área de controle e vigilância, as praticas sociais são regulamentadas no espaço, e os signos de delimitação territorial são inequívocos. As interdições e a coerção são sempre matéria de comunicação e sinalização territorial, ou, em outras palavras, o espaço é internamente classificado por uma regulamentação formal e uma visibilidade explicita de suas normas e fronteiras. Os relacionamentos tendem a ser impessoais e regulares dentro dos limites das diferentes esferas socioterritoriais. Dessa maneira, há marcos territoriais que delimitam esferas de práticas regulares, e eles são, simultaneamente, a condição para que estas práticas existam e o reflexo delas. Págs. 39-40

...o espaço da polis é então pensado e figurado como um circulo. Ao centro, a ágora, antigo espaço aberto destinado ao mercado, é desde então delimitado e ganha estatuto de espaço público, lugar de encontro dos isoi (iguais). Pág. 41

Outro fato inédito e de grande repercussão posterior trazido pela nova composição socioespacial da polis grega é a ideia de um Direito Urbano, que vai se aplicar e que irá reger os desenvolvimentos destes espaços. Desde o momento em que a cidade começa a ser vista como o lugar de uma sociedade civil, isto é de uma comunidade politica de cidadãos, o arranjo espacial passa também a ser matéria de exame e intervenção do público. Assim, são votadas leis de regulamentação e construção, estabelecidas segundo critérios gerais e justificados por razoes de saúde, higiene, segurança, mas também de ordem estética. Na cidade de Pérgamo, por exemplo, as novas construções eram objetos de regras muito precisas e rigorosas, e o não-cumprimento delas, era passível de multas, demolições e de condenação dos seus construtores. Pág. 44

... o que estamos chamando de genoespaço, o tipo de agregação social que qualifica o território é o grupo ou a comunidade. A escolha dessa etimologia está relacionada à importância fundamental que tem a leitura das origens comuns nesse tipo de relação entre o espaço e a comunidade. Pág. 60

Parece ser válido que haverá no espaço tantas divisões observáveis quantas forem as diferenciações internas vividas de formas significativas e estável no interior de um grupo social, sejam elas organizadas por etnia, sexo, idade, função ou qualquer outro elemento. Pág. 66

Percebemos assim que todas as grandes distinções, vividas na cultura do grupo como delimitações importantes, estão inscritas no espaço e são operacionalizadas pela sua organização física. Primeiramente, a diferença entre dois grupos; em segundo lugar, a diferença sexual; e, em terceiro a diferença do estatuto civil. Pág. 67

O particularismo de cada grupo ou segmento se funda sobre um que é próprio e único nesse caso, a identidade social é perfeitamente igual à identidade territorial. Pág. 67

No mundo social e do trabalho, proliferam grupos, confrarias, guildas, comunas, comunidades rurais, que nos demonstram a necessidade medieval de se criarem estruturas de solidariedade baseadas na idéia de identidade. Pág. 75

Esses dois tipos descritos correspondem a duas formas de ser-no-espaço e são simultaneamente duas formas de-ser-do-espaço. Na primeira, o espaço é uma condição para a ordem formal; ele se constitui na verdade em um classificador das coisas e das ações que neles passam, e a forma de organizá-lo ou produzi-lo é solidária à forma de organização e da reprodução social e vice-versa. A segunda estabelece uma relação ontológica entre um grupo e o local, ou melhor, uma identidade ontologicamente fundada em um local. Págs. 79 e 80

Civilização é a expressão da pretensa superioridade do Ocidente erigida em consciência social. Exprime a idéia de um progresso geral e irreversível que conduz ao estabelecimento de um código de condutas lógico, virtuoso e justo. O apelo à civilização nos dois últimos séculos tem sido marcado pela suposição da superioridade das sociedades ocidentais, de seu comportamento, formador de uma Humanidade coesa, justa e equilibrada, uma vez que se constitui por intermédio do respeito às regras que delimitam as fronteiras de liberdade individual dentro de um universo plural. De certa forma, essa consciência civilizatória é vista como já alcançada pela maioria dos povos ocidentais, devendo apenas ser expandida para que haja uma plena realização da humanidade em seu verdadeiro sentido. Pág. 105

A fragmentação territorial elege a cultura como elemento de unificação e diferenciação. Os valores proclamados pelo Iluminismo francês, ao contrário, têm uma base cosmopolita e se pretendem, gerais, uniformes e inteligíveis por todos. Urbanidade é o conjunto de atitudes e comportamento que da ênfase à reciprocidade entre indivíduos diferentes, mas expostos a um lugar de permanentes trocas sociais, a urbe. A cidade é, pois, nesse modelo o locus da temperança, do controle das pulsões individuais, e da ordem estabelecida sobre as bases racionais e lógicas. Podemos portanto, concluir que a civilização e  cultura, nos termos em que são descritas por Elias, compõem dois quadros distintos em relação ao espaço, opostos e antagônicos. Pág.109

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