A Constituição do sistema-mundo
Por: Nova Aquicultura • 7/6/2018 • Resenha • 1.187 Palavras (5 Páginas) • 1.493 Visualizações
A constituição do sistema-mundo moderno-colonial. In: HAESBAERT, Rogério; PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. A nova des-ordem mundial. São Paulo: Editora UNESP, 2006. 160p.
Paulo Roberto Pitanga Tavares¹
Rogério Haesbaert é Professor Titular do Departamento de Geografia da Universidade Federal Fluminense. Graduado em Licenciatura e Bacharelado em Geografia pela Universidade Federal de Santa Maria, Mestre em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (Doutorado-Sandwich no Instituto de Estudos Políticos de Paris), Pós-Doutorado em Geografia na Open University (Milton Keynes, Inglaterra). Professor do Curso de Pós-Graduação em Políticas Ambientales y Territoriales da Universidade de Buenos Aires. Professor Visitante da Open University (Milton Keynes, Inglaterra), da Universidade de Toulouse Le Mirail (França), da Universidade de Paris VIII (Paris-St Denis), da UNAM-CRIM (México), da Universidade de Tucumán (Argentina) e cátedra Élisée Reclus do Colégio de Michoacán (México).
Carlos Walter Porto-Gonçalves possui graduação em Geografia (1972), mestrado (1985) e doutorado (1998) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente é Professor Titular da Universidade Federal Fluminense e Coordenador do LEMTO - Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades.
Os autores afirmam através deste texto que os Estados são uma invenção histórica europeia que, depois, se generalizou para o mundo como parte do colonialismo e do imperialismo, como um grande “sistema-mundo moderno-colonial”. Onde o território é uma criação que traz dentro de si os processos e sujeitos que protagonizaram sua instituição. Este tema é desenvolvido através das concepções históricas relacionadas a fronteiras e relações.
Destacam a questão da territorialidade afirmando que as fronteiras, como limites, tendem a esconder a disputa que a engendrou, como se estas fossem naturalmente estabelecidas para os homens e mulheres. Reforçam o conceito de que não há território que não seja instituído, e que por meio dele a sociedade, ao se constituir, conforma seu espaço.
Os autores explicam que a crise do Estado territorial nacional de hoje, é uma crise dos protagonistas que fizeram a si mesmos por meio dele, os mesmos protagonistas que se constituíram resistindo com/contra este território sob a hegemonia desta territorialidade moderno-colonial.[pic 1]
Mostram que o Estado territorial, constituído por excelência das sociedades coloniais e modernas, foi uma solução para as contradições debatidas na Idade Média, na Europa, assentando para uma centralização do poder por meio do Estado absolutista. Citando ainda Perry Anderson, “um aparelho de dominação feudal alargado e reforçado”. Contornando a perda do poder de classe dos nobres, tornando-se instrumentos mais modernos de manutenção da dominação da nobreza sobre as massas rurais.
Os autores levantam então a questão da ordem (contraditória) mundial ensejada desde o Renascimento, constituída do controle sobre os camponeses, da propriedade privada absoluta e incondicional, da soberania absoluta do nobre monarca e a conquista colonial, formando assim um sistema-mundo que é moderno-colonial.
O ponto de modernidade é marcado pela riqueza saqueada do Novo Mundo, aliada à comercialização e escravidão para fins mercantis de povos africanos, permitindo que os europeus concentrassem tanta riqueza e poder a ponto de se afirmarem como centro geopolítico e cultural do mundo para se contraporem a outra matriz civilizatória que era o Oriente. Ainda sobre essa condição os autores enxergam que o mundo moderno não é compreensível sem a colonialidade.
O seguimento histórico é abordado sob a transição da hegemonia, inicialmente sob as cruzadas e das finanças do comércio, a hegemonia ibérica e suas colônias e depois hegemonia inglesa e com a ciência e as finanças da indústria. Ambas com uma boa armada dando suporte à Igreja à Ciência e ao Dinheiro, fundamentais para a dominação de territórios vastos.
Um ponto importante abordado, antes da revolução da segunda metade do século XVIII, é o início do processo de independência das colônias, marcado por um forte aspecto contraditório socioracial, onde todos os países da América, com exceção do Haiti, o processo de independência foi comandado por brancos e seus descendentes criollos, que não somavam 10% da população. Estas elites ainda mantinham além da submissão dos negros e índios à escravidão e à servidão, a colonialidade das práticas e do pensamento, fazendo com que continuasse o esforço de ser de “primeiro mundo” em detrimento a ser como os povos nativos.
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