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A Natureza

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Por:   •  26/3/2014  •  517 Palavras (3 Páginas)  •  264 Visualizações

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Quais as contribuições que a Geografia Humana pode dar para o entendimento do mundo neste período da globalização? Como decifrar a atual força das corporações multinacionais na organização dos territórios? Por que é tão importante a análise da vida das populações nas grandes cidades, principalmente nos países pobres, para propormos novas formas de organização do espaço geográfico?

Essas são algumas das questões abordadas pelo livro A Natureza do Espaço (392 págs., Ed. Edusp, tel. 11/3091-4008), escrito em 1966 pelo geógrafo Milton Santos. Além de ser bastante densa do ponto de vista filosófico, a obra leva a uma reflexão crítica sobre as variáveis mais importantes do atual período histórico (a informação, as finanças, as técnicas e as ideologias), recolocando a Geografia no grande debate das ciências humanas contemporâneas.

Certamente uma das principais novidades da obra é a definição original de espaço geográfico, que é visto como um "conjunto indissociável de sistemas de objetos e de sistemas de ações". Essa proposta permite captar o movimento das sociedades e dos atores que as compõem (estados, empresas, partidos políticos, indivíduos etc.), levando em conta a localização e a materialidade dos sistemas técnicos à disposição de cada ator. Contempla-se assim uma ambição antiga da Geografia Humana, de propor explicações críticas e verossímeis sobre cada época, sem cair nos "determinismos" tão comuns da disciplina no passado.

Ao distinguir outra proposta central do livro, poderíamos dar destaque à sua definição de lugar, como sendo a "dimensão espacial do cotidiano". A proposta permite entender as diversas formas de solidariedade criativas e genuínas que se forjam na vida diária das populações pobres do Terceiro Mundo. São essas formas que, segundo Milton Santos, permitiriam fundar uma nova ética na organização do espaço geográfico - uma ética menos pautada nas necessidades hegemônicas das grandes empresas, e mais concatenada com as demandas de dignidade inadiáveis das populações periféricas.

Sobre o autor O geógrafo baiano Milton Santos (1926-2001) escreveu mais de 40 livros sobre o processo de urbanização nos países subdesenvolvidos, a organização do espaço geográfico e a teoria da geografia.

Fabio Betioli Contel, autor desta resenha, é professor do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Associação dos Geógrafos Brasileiros (Secção São Paulo).

Trecho do livro

"Através do entendimento desse conteúdo geográfico do cotidiano podemos, talvez, contribuir para o necessário entendimento (e talvez, teorização) dessa relação entre espaço e movimentos sociais, enxergando na materialidade, esse componente imprescindível do espaço geográfico, que é, ao mesmo tempo, uma condição para a ação; uma estrutura de controle, um limite à ação; um convite à ação. Nada fazemos hoje que não seja a partir dos objetos que nos cercam.

A história das chamadas relações entre sociedade e natureza é, em todos os lugares habitados, a da substituição de um meio natural, dado a uma determinada sociedade, por meio cada vez mais artificializado, isto é, sucessivamente instrumentalizado por essa mesma

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