As Categorias de cor e raça nos censos brasileiros
Por: Patryck Oliveira • 5/12/2017 • Artigo • 1.156 Palavras (5 Páginas) • 294 Visualizações
Memória
As categorias de cor e raça nos censos brasileiros
Wilson Fusco e Ricardo Ojima
O Brasil é reconhecido como um país de mistura de raças desde meados do século 19, mas essa característica não se traduziu em equilíbrio (social, econômico, político, cultural etc.) entre os diversos segmentos populacionais na sociedade nacional. Questões como miscigenação, preconceito, desigualdade social e identidade, dentre outras, têm sido exploradas por diversos estudiosos, os quais constroem e defendem seus pontos de vista a partir da classificação da população em função das categorias de cor ou raça. Mas o que, aparentemente, poderia ser naturalizado ou entendido como óbvio, na verdade é uma informação pouco consensual. Você pode ter certeza de qual cor ou raça você tem, mas será que é tão simples fazer o mesmo para um desconhecido?
Independentemente do ponto de partida ou da conclusão alcançada, grande parte dos estudos produzidos esteve (ou está) ligada a referenciais ideológicos. Da mesma forma, a categorização da população que o IBGE faz por meio da pergunta sobre raça está ancorada na orientação – principalmente social e política – daqueles que decidem como formular a questão e daqueles que utilizam os resultados estatísticos produzidos a cada Censo Demográfico. Neste texto procuramos apresentar como essa informação tem sido captada e expressa nos Censos Demográficos brasileiros, desde sua primeira utilização.
[pic 1]No primeiro Censo Demográfico do Brasil, em 1872, a variável era expressa em termos exclusivos de "cor" e admitia as categorias "branca", "parda", "preta" e "cabocla", esta última destinada a quantificar a população indígena. No segundo Censo brasileiro, em 1890, a pergunta igualmente utilizava o termo "cor", embora, nas instruções dirigidas ao preenchimento do formulário, o termo "raça" também estivesse presente. Nesse ano, a categoria "parda" foi alterada para "mestiça". Ao introduzir o termo que indica mestiçagem, conclui-se que dois critérios foram usados simultaneamente para classificar a população: um que indica a categoria da cor do entrevistado – preta ou branca – e outro que remete à ascendência ou origem racial, na utilização do termo "mestiço" para representar o produto da união entre pretos e brancos, além do termo "caboclo" para designar os indígenas e seus descendentes. Em 1900 e 1920 as informações sobre cor ou raça não foram coletadas, e em 1910 e 1930 não foram realizados censos no país.
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[pic 4]Em 1940 retorna a pergunta sobre a cor do indivíduo, mas sem fazer referência à raça. As categorias ficaram restritas a branca, preta e amarela, esta última utilizada para contabilizar os imigrantes do Japão que chegaram em grande número, entre 1908 e 1930. A instrução para o preenchimento do quesito foi de que se considerassem somente as três referidas cores, lançando um traço para as demais respostas. Posteriormente, o traço foi codificado como "pardo", incluindo aí as referências a outras cores e raças, inclusive aos indígenas.
[pic 5]Os censos de 1950 e 1960 reincorporaram o termo "pardo" para a classificação de cor. Outra novidade desses censos apareceu nas instruções de preenchimento do formulário de coleta, as quais orientavam explicitamente a respeitar a resposta da pessoa recenseada. No entanto, no formulário de repostas em 1950 havia a seguinte restrição: não usar, na resposta, a expressão "morena". O caderno de códigos deste ano, por outro lado, mostra quais as categorias válidas nas quais as respostas estavam agrupadas.
[pic 6]Em 1960 as categorias voltam a ser: branca, preta, amarela, parda e índia, esta última direcionada somente aos indígenas que viviam em aldeamentos ou postos indígenas. Neste ano foi distribuído aos jovens estudantes do país um folheto chamado ABC do Recenseamento, com objetivo de alcançar os pais e responsáveis desses jovens, para informar sobre o Censo e a maneira com que determinadas questões deveriam ser respondidas. Interessante notar as referências a questões raciais, mas também de gênero, contidas no folheto.
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