Conterrâneos Velhos de Guerra
Por: Ana Garcia • 25/9/2019 • Resenha • 1.257 Palavras (6 Páginas) • 276 Visualizações
Em Conterrâneos Velhos de Guerra (1992), Vladimir Carvalho retrata as condições nas quais viviam os candangos de Brasília em 1959. A construção da nova Capital, junto das promessas de Juscelino Kubitschek, tornou a mesma um atrativo, principalmente para os nordestinos que buscavam melhores condições de vida, o que não passou de uma utopia.
A transferência da Capital para o planalto central se deu graças à vulnerabilidade na qual o país estaria se continuasse no litoral do Estado do Rio de Janeiro. O sonho de Juscelino em transformar um lugar distante e abandonado, de terra hostil, juntamente com emigrantes de diversas partes do Brasil, resistindo à oposição, se concretizou na formação de Brasília em 1960.
Pessoas oriundas de outros estados do país chegaram à nova Capital extasiados, contudo, sua mão de obra barata acarretava em tragédias devido a precarização da segurança do trabalho nas obras. A longa jornada de trabalho – 16 horas/dia – dividida em dois expedientes somados a insalubridade os colocava numa espécie de regime de escravidão, como fora dito no minuto 26:
“Havia um extremo interesse em esconder a verdade, porque em Brasília, apesar de toda a conversa de bondade, existia o lado da escravatura. Então nós éramos peões de Brasília, éramos quase como escravos”.
As relações de trabalho durante a construção de Brasília mudaram. Durante o processo de construção, todos os envolvidos estavam num mesmo patamar. No decorrer do documentário, Oscar Niemeyer (1905-2012) proferiu as seguintes palavras no minuto 14:
“Nós nos unimos como uma cruzada. E com a determinação dele, e o nosso esforço, Brasília foi feita no prazo marcado. (...) nessa época nós tínhamos uma ideia diferente, nós vivíamos como qualquer operário, morávamos nas casas populares, comíamos nos mesmos restaurantes, usávamos os mesmos inventários, de modo que sem querer a gente pensava que uma cidade diferente estava surgindo. Uma cidade de homens iguais”.
Tal citação reforça a ideia de que os operários, entusiasmados pelas promessas de Juscelino, marcharam rumo à nova Capital dispostos a vender sua força de trabalho em troca de melhores condições de vida - valor de uso -. Após o término da construção da cidade, as condições de trabalho mudaram, e os trabalhadores passaram a labutar para manterem-se em Brasília – valor de troca -, contudo as consequências da migração desordenada somados aos infortúnios no qual o país estava passando trouxeram adversidades, como o problema do menor abandonado (citado em 01h15min).
Foucault em Microfísica do Poder (1979) diz que para existir um poder, necessita-se de um contra poder. Brasília passou a ser vista como um estado de desigualdade social acentuada, onde a classe operária vivia no entorno da nova Capital em espécies de assentamentos precários enquanto a elite vivia em zonas mais favorecidas da cidade.
“A remoção foi para deixar a capital livre para chegada dos turistas que teriam uma melhor visão da mesma, e aqueles que trabalharam e fizeram-na foram removidos para áreas mais afastadas como lixo para animais comerem”.
Em 1976, Juscelino Kubitschek sofreu um acidente automobilístico na Rodovia Presidente Dutra. Sua morte causou uma grande comoção social, fazendo com que mais de 300 mil pessoas marcassem presença em seu funeral. Após o seu falecimento, ocorreu à primeira manifestação política depois do início da ditadura na capital da república e também o surgimento do primeiro sindicato de trabalhadores civis da nova Capital.
No ano de 1986, o Plano Piloto interessado em privilegiar os interesses imobiliários utilizou-se do fetiche de mercadoria por meio do capitalismo abusivo, implementando a idealização da mão de obra barata através da migração visando os interesses do capital e negando os direitos sociais, sobretudo o direito a moradia. Onde pode-se perceber que o fluxo do fetiche está favorecendo o capital em oportunidades de trabalho, porém não evidenciando as condições deste ou falta delas, que seria a legitimidade das condições do trabalhador de vida social plena, como direito a saúde, educação, segurança e, não efetuado se estendendo a um acordo entre o governo e o serviço social para a remoção da população de migração das áreas mais nobres, por meio de duas opções: ou a saída imediata para longe do local de trabalho, ou a integração inter-regional (migração de retorno).
Definindo-se os conceitos abordados no texto - materialismo histórico, acumulação primitiva do capital e fetiche da mercadoria – pode-se concluir que, respectivamente:
“O materialismo histórico é uma teoria que faz parte do socialismo marxista. Essa corrente teórica enfoca nos estudos da sociedade por meio da relação entre a acumulação material e o desenvolvimento da história da humanidade. Para os materialistas históricos, a sociedade foi se desenvolvendo através da produção material coletiva dos seres humanos em busca de satisfazer suas necessidades básicas”.³.
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