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O Nordeste Seco De Aziz Ab Saber

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Por:   •  20/9/2013  •  9.329 Palavras (38 Páginas)  •  639 Visualizações

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FLORAM: Nordeste Seco

Aziz Ab' Sáber

1. Introdução

Todas as explorações racionais que permitiram elaborar um plano de reflorestamento dirigido para o Brasil úmido perdem um pouco da sua coerência quando deslocamos o foco das nossas propostas para o Nordeste Seco. Por suas peculiaridades como domínio de natureza, tanto quanto pela rigidez de sua estrutura agrária e o quantum de humanidade adaptado a viver com o cotidiano do ambiente semi-árido, é difícil endereçar propostas de reflorestamento para os sertões nordestinos. Trata-se de um outro domínio climático, hidrológico e ecológico do Brasil, que exige conhecimentos aprofundados sobre a estrutura, o comportamento e a funcionalidade de seus ecossistemas. E, paralelamente, nos obriga a um aprofundado conhecimento do comportamento dos homens e de uma sociedade, que se projeta pelo espaço total dos sertões rústicos.

Na realidade, estende-se pelos imensos espaços das caatingas uma sociedade sertaneja, em que predomina uma grande fertilidade humana, submetida a uma estrutura agrária rígida e fragilizada pela severidade climática e hidrológica e a incidência socialmente catastrófica de anos de grande secura. Os grupos humanos dos sertões secos aprenderam a conviver com o ambiente semi-árido, seus rios periódicos, seus solos de difícil manejo e sua estrutura agrária certamente muito arcaica e inflexível. Mas os homens dos sertões não podem resistir normalmente perante os anos de grande secura em que falta água para o gado e as plantações, ocorrendo desemprego rural, insegurança familiar e dramáticas migrações internas direcionadas para os grandes centros urbanos.

Mais do que em qualquer outra área do país, um plano de reflorestamento, de objetivos múltiplos, pressupõe um conhecimento da natureza regional e das condicionantes econômico-sociais da sociedade sertaneja. A empreitada envolvida por qualquer plano de reflorestamento tem que ser entendida como um processo de implantações progressivas e diferenciais, sem retorno econômico imediato, ainda que com grandes oportunidades de retorno social a médio e longo prazo. A rigor, nenhum tipo de reflorestamento/florestamento no Brasil pode ser considerado como um modelo de "social forestry" mais efetivo e eficiente do que aquele que venha a ser endereçado para os sertões secos.

2. O nordeste seco: peculiaridades climáticas, hidrológicas e ecológicas

No conjunto dos grandes domínios de natureza do país, o Nordeste Seco é certamente o mais complexo ambiente para a discussão de planos, projetos ou programas de florestamento/reflorestamento. A discussão sobre introdução de espécies de crescimento rápido ou reintrodução de espécies arbóreas, em diferentes setores dos sertões secos, implica um bom conhecimento da região, vista como um todo e, ao mesmo tempo, analisada em sua grande diversidade regional e ecossistêmica. A despeito do que, é absolutamtente necessário enfrentar o desafio da busca de melhores conhecimentos, orientados para uma política de propostas corretas, dirigidos para uma reabilitação dos espaços agrários, dotados de maiores potencialidades de desenvolvimento econômico e social. Uma política de florestamento/reflorestamento diferencial, para o domínio das caatingas, possibilita um revolvimento da maior parte dos problemas agrários dos sertões secos.

E prioritário fixar alguns fatores limitantes e listar peculiaridades regionais de consideração obrigatória:

— é difícil para uma região semi-árida quente, dotada de índices de precipitação anuais inferiores a 800 mm em sua área nuclear, competir com áreas tropicais úmidas, mais favorecida por condições climáticas. Nesse sentido, uma política de florestamento ou reflorestamento, dirigida para o Nordeste Seco não deve se preocupar, de saída, com a questão de florestas produtivas (industriais ou energéticas). Em contrapartida, nenhuma área do país requer uma política, tão imediata e diversificada, de florestas de interesse social (social forestry), quanto o Nordeste. Fato que, necessariamente, implicará melhorias de interesse econômico e social, a curto e médio prazos, se corretamente conduzidas.

— apenas áreas dotadas de precipitações superiores a 900 mm na periferia do Nordeste Seco, em diferentes faixas de agrestes, podem comportar experimentos florestais, similares àqueles já realizados para regiões úmidas. Nas faixas de agrestes ou similares, os fatores limitantes são pró-parte climáticos e hidrológicos, porém em grande parte edáficos. Para não falar nas sérias diferenças demográficas e agrárias que caracterizam os agrestes senso strictu, do Nordeste Oriental, em relação às regiões subúmidas mais interiores (Oeste e Noroeste da Bahia, Sul do Piauí, Norte e Nordeste de Minas). Seria desaconselhável introduzir grandes massas de florestas no interior dos espaços agrários diferenciados e altamente humanizados do Nordeste Oriental. Mesmo assim, há que se revisar a questão face as posturas e metas culturais e econômicas de uma política de social forestry.

— independentemente de novos experimentos silviculturais, do tipo daqueles propostos em alguns projetos preexistentes, é conveniente recuperar as experiências empíricas acumuladas, através de diretrizes a um tempo agrárias e silviculturais. Para tanto, haveria que se desdobrar a utilização de espécies arbóreas perenifólias ou subperenifólias, incluindo árvores para sombreamento ou lenha, e árvores frutíferas ou produtoras de favas ou frutos para rações. Nesse sentido, o conjunto das espécies passíveis de serem utilizadas em reflorestamento é bem maior do que se supunha há alguns anos. Apenas permanece fora de cogitação imediata uma seleção de espécies baseadas nos mesmos critérios que orientaram os silvicultores para as terras úmidas intertropicais do Brasil. O apelo direto ao uso de espécies de crescimento rápido do tipo dos eucaliptos, pinus ou araucárias, para colinas sertanejas, seria um motivo de grandes insucessos e desestímulo. Pelo contrário, as indicações são outras, envolvendo plantas nativas beiradeiras, um amplo acervo de frutíferas regionais ou alienígenas, de par com espécies adaptadas a conviver com as condições pedoclimáticas e hidrológicas dos sertões secos.

Os grupos humanos dos senões secos aprenderam a conviver com o ambiente semi-árido, seus rios periódicos, seus solos de difícil manejo e sua estrutura agrária, certamente

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