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Os Irmãos Villas-Boas

Por:   •  11/8/2015  •  Bibliografia  •  1.378 Palavras (6 Páginas)  •  553 Visualizações

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Irmãos Villas-Boas

[pic 1]No final dos anos 1930, o presidente Getúlio Vargas lançou a Marcha para o Oeste, com o intuito de estender a presença do Estado ao Centro-Oeste e Norte do país. Em um primeiro momento, os três irmãos candidataram-se para participar da missão, mas foram impedidos pelos organizadores, pois se tratavam nitidamente de pesquisadores e não de homens que queriam tentar uma vida nova em terras desocupadas. Por isso, os Villas Boas deixaram as barbas cresceram, vestiram-se com roupas simples e fingiram ser analfabetos para conseguirem autorização para viajar com a expedição, já que o intuito do governo naquele momento era recrutar, majoritariamente, trabalhadores braçais, para abrir caminhos e ocupar terras. No entanto, graças aos conhecimentos que tinham sobre a região alvo da expedição e os métodos de organização que dominavam os irmãos logo assumiram postos de comando. Orlando, o mais velho dos três, acabou se tornando o grande líder. Foi assim que começou a missão de Leonardo, Cláudio e Orlando que, mais tarde, com a participação do antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997), resultou na demarcação do parque indígena. Em 1943, os irmãos Villas-Boas se alistaram na primeira expedição do projeto, a Roncador-Xingu, deixando tudo para trás, inclusive as carreiras profissionais que tinham até então.[pic 2]

Em 1944, a expedição Roncador-Xingu, da qual participaram os Villas Bôas, tornou-se um divisor de águas para a adoção de uma política indigenista, que surgiria anos mais tarde.

Grande negociador, Orlando foi o responsável por mediar a maioria dos contatos feitos na região e intermediar a maior parte dos conflitos. Com uma visão sistêmica que poucos tinham, foi capaz de garantir o andamento da expedição e, ao mesmo tempo, garantir a preservação do espaço e cultura das comunidades indígenas encontradas no caminho.

Sem soberba pela posição de liderança conquistada, os três colocaram a mão na massa tal quais todos os outros sertanistas integrados na expedição. Abriram estradas, construíram pontos de apoio, carregaram suprimentos e fizeram vários outros trabalhos braçais, como qualquer outro integrante da expedição. No fim das contas, tomaram parte em todas as etapas do processo que lideraram.

Ao longo de quase 30 anos dedicados ao trabalho entre o Centro-Oeste e o Norte, os irmãos Vilas-Boas foram responsáveis por conduzir a fundação  de quase 40 cidades e vilas, a abertura de 1.500 km de estradas, a criação do Parque Nacional do Xingu e, principalmente, a desconstrução da imagem histórica que o país tinha de que os índios eram simplesmente selvagens, sem cultura nem organização social.


A aventura dos três irmãos

A expedição Roncador-Xingu teve início a partir de Uberlândia, em Minas Gerais, e foi instituída pela Fundação Brasil Central (FBC) durante o Estado Novo, que visava consolidar a soberania nacional ao ligar o Brasil Central ao Amazonas. Leonardo, Cláudio e Orlando Villas Bôas embrenharam-se nessa aventura pelas matas para auxiliar na demarcação e formação de núcleos populacionais "brancos" enquanto fingiam-se de sertanejos.

[pic 3]

O Parque indígena do Xingu, situado ao nordeste do Mato Grosso, ocupa uma área de mais de 27.000 km2

Na viagem, os irmãos se defrontaram com a realidade de um Brasil "nativo", que até então era desconhecido para eles. Os Villas Bôas Conheceram primeiramente os índios xavantes e, ao longo dos anos, mais outros 14 povos indígenas que representam uma das mais respeitadas diversidades de troncos linguísticos do mundo, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco): Aruak ou Arawak, Jê, Karib e Tupi.

Nesse grupo estão os Kamaiurá e Kaiabi (família Tupi-Guarani); Juruna (tronco Tupi); Aweti (tronco Tupi); Mehinako, Wauja e Yawalapiti (família Aruak); Kalapalo, Ikpeng, Kuikuro, Matipu e Nahukwá (família Karib); Suyá (família Jê); Trumai (língua isolada). Segundo o site Povos Indígenas no Brasil, do Instituto Socioambiental (ISA), existem mais de 4 mil índios na região do Xingu (dados de 2002).

Quando os irmãos Villas Bôas chegaram ao norte do Estado do Mato Grosso, os índios que habitavam a porção do Brasil Central estavam sendo dizimados por diversas doenças, como gripes, disenterias e surtos epidêmicos, devido à intervenção branca em suas terras desde o século XIX. Ao se defrontarem com essa situação, os Villas Bôas decidiram iniciar uma campanha para a preservação da população, que continuou por décadas, seguindo um modelo protecionista.

Leonardo, Cláudio e Orlando ultrapassaram o objetivo oficial da expedição federal. No livro A Marcha para o Oeste – A epopeia da expedição Roncador-Xingu, de autoria de Orlando e Cláudio Villas Bôas, os irmãos descrevem que o primeiro contato do grupo de sertanistas com índios xavantes aconteceu em 25 de julho de 1945. Segundo eles, o contexto foi pouco amistoso, pois membros da equipe dispararam tiros para o alto, o que causou um "esboço" de reação de ataque dos índios, mas sem vítimas.

[pic 4]

Índios se apresentam em cerimônia Kuarup, um ritual dos grupos indígenas que vivem no Xingu para homenagear os mortos

Um marco para a concepção do parque aconteceu em 1952. Nesse ano, Orlando Villas Bôas, o antropólogo Darcy Ribeiro, Heloísa Alberto Torres (1895-1977) e o brigadeiro Raymundo Vasconcellos Aboim apresentaram um anteprojeto de lei ao vice-presidente da época, Café Filho, para que fosse criado o Parque Nacional do Xingu, com apoio do marechal Rondon. A materialização dessa proposta ocorreu em 19 de abril de 1961, com o decreto federal nº 50.455, sancionado pelo presidente Jânio Quadros. Nesse mesmo ano, Leonardo, o mais jovem dos irmãos Villas Bôas, morreu de problemas cardíacos.

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