A Escravidão e seu Desenvolvimento no Continente Africano
Por: Paulo Henrique Silveira • 23/4/2019 • Artigo • 3.058 Palavras (13 Páginas) • 166 Visualizações
A Escravidão e seu Desenvolvimento no Continente Africano
Resumo: Esse trabalho tem como objetivo tratar sobre a escravidão e seu desenvolvimento no continente africano. É abordado nesse artigo a questão do tráfico de escravos que afetou as identidades étnicas e linguísticas dos escravizados alterando diretamente a economia local e a organização social. O processo histórico de constituição e expansão da escravidão no continente africano, também é tratado no artigo. É apresentado a definição do conceito de “ser escravo” de maneira geral, apresentando seis características básicas para a maioria das sociedades africanas. Os autores relatam a implantação da escravidão na África e que o continente se tornou a principal fonte de escravos desde a antiguidade, enfatizando que a escravidão sempre esteve presente no continente e que não é uma novidade implantada pelos europeus. É desenvolvido, também, a respeito da escravidão doméstica que consiste em aprisionar alguém para utilizar sua força de trabalho, em geral, na agricultura de pequena escala, familiar. A islamização e o tráfico internacional de escravos e seus pontos de análise é discutido nesse artigo, como também a chegada dos europeus e o início do comércio atlântico. É destacado, também, que a escravidão se torna instituição e modifica todos os setores internos nos locais em que se implantou. O poder político utilizava o trabalho escravo nos exércitos e o comércio externo de venda de escravos tornou-se uma importante fonte de renda para o continente. No final do artigo e destacado a região da Costa dos Escravos que apresentou no século XVII, uma significativa expansão do tráfico de escravos que acabou por superar a África Centro-Ocidental e a Costa do Ouro que ao longo dos séculos XVI e XVII foi uma das principais fornecedoras de escravos e esta intimamente relacionada ao surgimento de estados.
Palavras-chave: Escravidão africana, Islamização africana, Tráfico de escravos.
Metodologia: Esse trabalho foi elaborado a partir de uma revisão bibliográfica de obras e artigos publicados por quatro autores de grande importância para os acadêmicos da área de humanas, principalmente os de História.
Introdução: Será analisado por meio desse artigo o desenvolvimento da escravidão no continente africano e suas transformações após o contato com o mundo muçulmano e posteriormente europeu. A base de estudo é o tráfico de escravos e a compreensão dos aspectos políticos, econômicos e sociais, especialmente dos povos da Costa dos Escravos e Costa do Ouro. Será analisado também a importância e o espaço do cativo dentro dos reinos e impérios africanos. Com esse artigo espera-se poder contribuir para o avanço dos conhecimentos de todos que se dedicam à história da escravidão no continente africano.
A escravidão no continente africano
Dentre os temas mais importante em relação a história do continente africano encontra-se a escravidão, sendo este tema a base para o desenvolvimento desse artigo. Na obra “Escravidão na África: uma História de Suas Transformações” o autor Paul Lovejoy parte da premissa que os africanos criaram uma série de mecanismos de resistência a influência externa e não estavam muito preocupados em disseminar sua cultura para o restante do mundo, como acontecia nos mundos islâmico e europeu. O tráfico de escravos, na visão de Lovejoy, afetou as identidades étnicas e linguísticas dos escravizados alterando diretamente a economia local e a organização social. O autor analisa na obra, o processo histórico de constituição e expansão da escravidão no continente africano. Ele realça a configuração de um “modo de produção escravista”, principalmente após a chegada dos europeus. O autor afirma que esse processo já havia sido iniciado desde a dominação dos muçulmanos, contudo foi com a chegada europeia que esta instituição altera de maneira significativa a organização da vida social da região.
Já analisando a obra “História da África” do autor José Rivair Macedo, ele apresenta a forma como os cativos eram colocados nas sociedades africanas, onde apesar de sua condição nunca perdiam a identidade humana, o que aconteceu com o tráfico internacional de escravos. Essa diferenciação é importante para entender que não é correto, segundo o autor, afirmar que os africanos escravizaram africanos para vende-los como escravos, pois não existia uma identidade coletiva continental. As identidades não ultrapassavam os limites da aldeia ou mesmo da linhagem.
Lovejoy define, em sua obra, de maneira geral, conceitualmente o “ser escravo”. O autor apresenta seis características básicas para a maioria das sociedades africanas que possuem escravos: a) O escravo é uma propriedade já que estão sujeitos à compra e venda; b) O escravo é o “estrangeiro” por excelência; c) O uso comum da coerção e/ou violência física; d) A força de trabalho encontra-se à disposição de seu dono; e) O escravo não possui direito à sua sexualidade; f) Em geral, a condição de escravo é herdada.
A escravidão, nas sociedades africanas, segundo Lovejoy, estava fundamentalmente ligada à categoria de trabalho. Os escravos não se configuravam necessariamente como uma classe social e a identidade do cativo se constituía por meio das atividades destinadas a eles pelo seu senhor. Lovejoy afirma que:
“Sua dependência podia resultar na subordinação de sua identidade à do seu senhor, de quem dependia sua posição, ou poderia levar ao desenvolvimento de um sentimento de camaradagem com outros escravos, e por conseguinte formar a base para uma consciência de classe”. (LOVEJOY, 2002. P. 34)
Explicando a escravidão africana, Lovejoy defende a existência de um processo histórico. Destaca que antes da escravidão tornar-se uma instituição, o papel assumido pelos escravos, nessas sociedades, foi sempre secundário em relação aos usos produtivos. Afirma também que todas as formas de escravidão podem ter coexistido e foram apropriadas de maneiras diferentes dependendo das regiões ao longo dos séculos.
Em relação à implantação da escravidão na África, Lovejoy afirma que o continente tornou-se a principal fonte de escravos desde a Antiguidade, desde às antigas civilizações, ao mundo islâmico, à Índia e às Américas, isso demostra que a escravidão sempre esteve presente no continente e que não é uma novidade implantada pelos europeus.
O autor Walter Fraga Filho escreveu a obra “Uma História do Negro no Brasil”. O primeiro capítulo da obra intitulado “História da África e a Escravidão Africana” o intelectual realça que em vários confrontos era comum que os reinos e impérios vitoriosos fizessem alguns escravos dentre os membros de um vilarejo vencido em luta armada. Era a chamada escravidão doméstica, que consistia em aprisionar alguém para utilizar sua força de trabalho, em geral, na agricultura de pequena escala, familiar. Havia poucos escravos por unidade familiar, entretanto ter um escravo assegurava poder e prestígios aos senhores dos cativos, já que representavam a capacidade de auto sustentação da linhagem. Não por acaso, que preferiam mulheres e crianças, pois a fertilidade da mulher garantia a ampliação do grupo e era legítimo as escravas terem filhos com seus senhores. Segundo Walter Filho:
...