A METODOLOGIA DA HISTÓRIA
Por: Flávia Fernandes • 12/4/2018 • Abstract • 3.917 Palavras (16 Páginas) • 159 Visualizações
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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO – UNICAP
CENTRO DE TEOLOGIA E CIÊNCIAS HUMANAS – CTCH
LICENCIATURA EM HISTÓRIA
FLÁVIA FERNANDO DA SILVA
METODOLOGIA DA HISTÓRIA
PROF. DR. HELDER REMIGIO DE AMORIM
RECIFE
MARÇO DE 2018
FICHAMENTO
Introdução
A complexidade da velha questão para saber "o que é história?" Acentua-se ainda mais por uma certa deficiência da língua francesa que designa, sob o mesmo vocábulo, o que nossos vizinhos europeus têm por habito diferenciar – Geschichte e Historie em alemão, History e Story em inglês, ou ainda Istoria e Storia em italiano - um termo designando a trama dos acontecimentos propriamente dita e um outro significando o relato complexo que o narra. (Dosse, 2003. p. 7)
A profissionalização progressiva da disciplina histórica ao longo do século 19, depois o diálogo privilegiado com as ciências sociais no século 20 não permitiram aproximar a prática da história do pensamento da história conduzida pelos filósofos. (Dosse, 2003. p. 8)
O objeto desta obra não visa a preconizar um sistema de história nem pretende esgotar o assunto. Modestamente, ele se quer como um convite a leitura dos historiadores pelos filósofos, e da filosofia da história pelos historiadores. (Dosse, 2003. p. 8)
Disso resulta um novo imperativo categórico que se expressa pela exigência, de um lado, de uma epistemologia da história concebida como interrogação constante dos conceitos e noções utilizados pelo historiador de ofício e, de outro lado, de uma atenção historiográfica nas análises empreendidas pelo historiador de outrora. (Dosse, 2003. p. 8)
Para o historiador, a grande incidência desse desdobramento sobre os atores traduz-se por uma reconfiguração do tempo e uma revalorização da curta duração, da ação situada, do acontecimento. (Dosse, 2003. p. 9)
Essa reprise de toda a tradição histórica por esse momento memorial que vivemos abre caminho a uma outra história: "Não mais os determinantes, mas seus efeitos; não mais as ações memorizadas ou até comemoradas, mas o vestígio dessas ações e o jogo dessas comemorações; não os acontecimentos em si mesmos, mas sua construção no tempo, o apagar e o ressurgir de suas significações; não o passado tal como se passou mas suas retomadas permanentes, seus usos e seus desusos, sua pregnâcia sobre os sucessivos presentes; não a tradição, mas a maneira pela qual ela se constituiu e transmitiu". (Dosse, 2003. p. 9 - 10)
A própria lógica da ação mantém aberto o campo dos possíveis. Ela instiga o historiador a reabrir as potencialidades do presente, baseando-se nos possíveis não verificados do passado. (Dosse, 2003. p. 10)
As rupturas necessárias para reconhecer-se como disciplina de caráter científico deixaram sobre a margem potencialidades inexploradas de um passado que sempre precisa ser interrogado quanto ao nosso presente. (Dosse, 2003. p. 11)
Nosso enfoque parte de conceitos essenciais da disciplina histórica, que suscitaram a interrogação filosófica, mas nossa demonstração alimenta-se, em cada etapa, dos próprios trabalhos dos historiadores, desde a Antiguidade grega até a conjuntura historiográfica atual. (Dosse, 2003. p. 11)
Capitulo 1
O HISTORIADOR: UM MESTRE DE VERDADE
HERODOTO: NASCIMENTO DO HISTOR
Aquele que foi apresentado por Cicero como "o pai da História" e um grego originário de Halicarnasso, na Jônia, que viveu entre dois grandes conflitos: o das Guerras Medicas e a da Guerra do Peloponeso, entre 484 a.C. e 420 a.c. Autor de Histórias, divididas em nove livros, dois terços de sua obra são consagrados aos antecedentes das Guerras Médicas. Com Heródoto, nasce a historiador, pelo duplo uso do nome próprio e da terceira pessoa desde a prologo de sua obra que estabelece uma distância; uma objetividade em relação a matéria narrada. Diferente da epopeia, não são mais os deuses e as musas que se expressam para contar o passado: "Historia, de Heródoto de Thourioi: É o relato de sua investigação..." (Ibid.). (Dosse, 2003. p. 13 – 14)
A Polis
É, portanto, a consciência política que permite passar da essência épica do discurso a existência política. A passagem de Homero a Heródoto é também a manifestação de um início de secularização permitido graças à posição ocupada pelo histor. (Dosse, 2003. p. 14)
Quando Heródoto faz o relato das Guerras Médicas, que opuseram os gregos ao Império Persa, ele está animado por uma vontade demonstrativa enraizada num coletivo que atua no seio da realidade da cidade nascente na Grécia. Ele consigna as causas profundas do drama que atravessa seu pais quando das invasões barbaras, a partir do caso concreto das Guerras Médicas. (Dosse, 2003. p. 15)
Primado do olho sobre o escrito
A verdade situa-se no lado do oral, ou do oraculo. Certamente, o corte entre o aedo e histor ainda não é radical e Heródoto vai de cidade em cidade, como o rapsodo, para tornar conhecidos seus relatos nas leituras públicas, valorizando todas as técnicas de agradar. (Dosse, 2003. p. 16)
Heródoto multiplicou as viagens pelas necessidades de sua investigação a ponto de aparecer para alguns, como para Jacoby, na tese de 1913, como um geógrafo e um etnógrafo, antes de tornar-se, verdadeiramente, historiador. (Dosse, 2003. p. 16)
Quando Xerxes convoca a assembleia dos principais chefes da Pérsia para propor-Ihes atacar os gregos, Artabano é o único a opor-se a isso, evocando a guerra cítica, advertindo assim contra uma lógica da repetição à qual parece condenado o poder dos grandes Reis. (Dosse, 2003. p. 17)
Nesses domínios, seu desejo nunca fica satisfeito e a hubris é sua lei. O déspota não pode irnpedir-se de transgredir as regras sociais, de ultrapassar os interdidos. Xerxes deseja assim a mulher de seu filho. Ele marca seu poder sobre o corpo de seus suditos, que ele pode esmagar, mutilar à sua vontade. (Dosse, 2003. p. 18)
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